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— Eu simplesmente não consigo acreditar ‒ exclamo sentada na ponta da cama.

— Você chegou tem mais de seis horas e está falando frases desconexas e sem sentido ‒ Rhys reclama da poltrona.

Ele desistira de tentar entender pelo menos enquanto eu não me acalmasse, então agora lia um livro numa posição esquisita, que tomou minha atenção por parecer muito desconfortável em contraste com o rosto dele que era calmo e sereno.

— Desde pequena meu sonho é fugir. Recuperar meus poderes e fugir para a casa da minha avó. É um chalé bem distante, cercado por uma floresta e próximo a uma cachoeira, era tudo que eu queria.

— Continue.

— Meus pais morreram e Tamlim cumpriu sua promessa, então eu recuperei meus poderes e iria embora, mas não fui. Planejei ir embora novamente, mas Lucien chegou e eu encontrei nele minha família, e antes de Amarantha tudo estava bem. Lucien e a besta eram realmente amigos, mas meu irmão é um manipulador então o problema chegou, e com ele meu poder foi aprisionado mais uma vez, Tamlim começou a descontar tudo em mim e no Lu.

Rhys agora estava sentado na minha frente e acariciava minha mão que tremia enquanto esperava que eu continuasse, e que pela primeira vez em décadas desabafasse.

— Ele nunca ousou levantar a mão para mim, talvez porque se lembre dos choros e dos gritos de quando éramos pequenos, mas ele nunca se importou com as palavras, os rosnados, aquelas garras estúpidas ‒ meus olhos tremeram de lágrimas e respirei profundamente ‒ Mas ele bate em Lucien, grita e ordena como... como... co...

Lágrimas embaçaram minha visão, e minhas mãos tremiam, eu senti um profundo peso em meu peito e nunca imaginei que respirar fosse tão difícil.

— Quando fui escoltada até aqui sabia dos perigos, mas sempre pensei que pelo menos de perto eu poderia fazer algo, nem que seja um simples xingamento que ninguém mais tem coragem de falar. Mas eu o abandonei lá, deixei ele lá para sofrer e nunca nesses anos eu pensei em levá-lo comigo quando eu fugir.

Rhys me puxou para o seu colo e seus olhos estavam brilhavam ainda com lágrimas não derramadas.

— Primeiramente sempre pensei que ele não aceitaria, porque Lucien realmente acredita que merece aquilo, e que Tamlim está certo. Sei de meus defeitos, sei que sou egoísta, mas isso é além do que admito. Quando isso acabar e vai acabar, eu vou tirar ele de lá, nem que seja a força.

— Eu vou estar ao seu lado, e juntos vamos fazer tudo o que você quiser ‒ ele deixou um beijo em minha testa e eu suspirei, segura.

(...)

Passei um certo tempo ali, parada nos braços daquele macho incrível, inspirando seu cheiro que me acalmava e tirava o fôlego em simultâneo.

— Quer saber como foi lá?

— Só a parte boa da história, a ruim deixa para amanhã.

Dei um risinho me aconchegando em seu colo e apoiando a cabeça no braço da poltrona.

— Conversei com Alis, dancei a noite inteira com Lucien e Feyre, ignorei meu irmão e todas as situações, embebedei a violoncelista porque ela estava tão tristinha ‒ falei rapidamente e ele deu risada ‒ Lembra da Kali? A que trabalha na cozinha? Ela está grávida, o problema é que o marido dela é estéril, dizem que o pai é um macho da Estival que recebeu abrigo lá ‒ conto tudo animada enquanto Rhys ri ‒ Os sobrinhos de Ali cresceram quase do tamanho dela. O ar naquela mansão ainda é tóxico. E Feyre está realmente apaixonada pelo inominável.

— Ele a ama?

— Acredito que sim, principalmente o que ela significa.

— Acabaremos resgatando ela também.

— Acredito que deveríamos criar um clube, os mentalmente fudidos unidos pela liberdade, o que acha?

— Péssimo ‒ ele diz com um sorriso se levantando e me levando junto ‒ É pior ainda que seja uma realidade.

— Trágico ‒ digo abraçando seu pescoço.

— Vamos dormir ‒ ele diz me jogando na cama sem nenhuma delicadeza.

— Eu sou uma princesa, respeite-me! ‒ exclamo perfeitamente dócil e piscando os olhos.

Ele apenas dá risada.

— Estamos todos "fodidos" aqui, ninguém liga doce primavera ‒ ele faz aspas com as mãos me lembrando da palavra que eu usei anteriormente.

Puxei ele para perto de modo a abraçar sua cintura, ele enrolando os dedos em meu cabelo e começou a fazer carinho.

— Feyre disse que ele era a imagem de um mundo melhor, disse que finalmente estava feliz ‒ murmuro melancólica.

— Tadinha ‒ ele diz e logo solta uma risada, o repreendo com um tapa ‒ É tão trágico que chega a ser cômico, a mente humana tem uma enorme habilidade para ser enganada, e a nossa para enganar e manipular.

— Pensa que ele acredita ser o príncipe encantado? Mesmo convivendo com si próprio diariamente?

— Talvez nossa mente seja ótima em nos autos sabotar, manipular a nós mesmos para sermos quem e o que quisermos, ou talvez ele fielmente acredite ser o certo da história.

— Mentalmente fudidos unidos pela liberdade ‒ murmuro com um tom de descrença e ele logo ri.

Corte de Luz e EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora