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— Existe algo chamado espaço pessoal, conhece? — Tacey perguntou.

Rhys a ignorou, eles acabaram de jantar e estavam deitados, ele por cima dela com a cabeça no pescoço da loira o sentindo seu cheiro e mexendo calmamente em seus cabelos.

— Não, não conheço — ele respondeu cínico se aconchegando nela.

— Você está parecendo um carrapato — ela disse e logo riu — Sabe que eu não vou embora né?

Essa era a pergunta principal, para a qual Rhys não tinha a resposta exata, eles estavam à beira de uma guerra.

E a guerra tira vidas.

— A guerra está próxima — ele sussurrou no ouvido.

— Eu não pretendo morrer — ela afirmou como uma pequena brincadeira, mas fez o corpo dele estremecer de leve.

Mas Rhys não respondeu, ele permaneceu quieto e em silêncio fazendo Tacey se sentar e o olhar com seriedade.

— Você também não pretende morrer, certo? — ela perguntou com a voz trêmula e, em simultâneo, com irritação.

— Não posso garantir isso — ele disse simples se sentando na cama de frente para ela.

Era difícil não se perder naquela imensidão de verde tão belo e cheio de vida, tão cativo e forte. Os olhos são a porta da alma, e por eles é possível ter um vislumbre dela. Então a alma de Tacey era a mais bela de todas — Rhys pensou.

— Rhysand!

— Vou fazer de tudo para que você e minha família tenham um futuro.

— Já não está suficiente de sacrifícios por uma vida?

— Não quando tenho sempre tanto a perder, prefiro que seja a mim do que vocês.

— Prefiro lutar tudo juntos e com sinceridade. Podemos morrer, eu sei, mas morreremos juntos, será história para contar do outro lado.

— Você viveu muito pouco, precisa experimentar da vida e ser feliz. E para isso sou capaz de tudo.

— Não quero que seja — ela retrucou — Quero que me prometa que não vai se jogar na morte a qualquer oportunidade, e vai pensar antes de agir. Preciso que me prometa que vai zelar pela sua vida, ou eu mesma irei trancá-lo em algum lugar.

Ela despejou as palavras com velocidade, seus olhos tinham lágrimas que não seriam derramadas ali.

Ela ainda estava aprendendo que poderia ser vulnerável.

— Eu vou tentar, satisfeita?

— Está falando isso para não prolongar a discussão?

— Talvez, você nunca vai saber — ele disse com um pequeno sorriso tentando puxar ela para voltar à posição que estavam.

— Rhys — ela disse em um tom sério de aviso.

— Eu estou com sono.

— Durma no chão — ela disse com raiva voltando a deitar com o livro na mão.

— Florzinha.

— Eu juro que te estripo desta vez — ela avisou virando de lado quando ele se deitou.

Rhys não disse mais uma palavra, apenas ficou olhando enquanto ela lia, ele pegou no sono primeiro e de alguma forma no meio da noite eles estavam abraçados.

Desta vez ela encostada no peito dele, com os corpos colados eles dormiram com até mesmo a respiração em sincronia, e as batidas do coração que eram o único som no quarto.

(...)

— Eu queria poder dar um soco na cara dele — Feyre diz irritada.

— Fique à vontade, ele não vai revidar — aviso ainda deitada na poltrona enquanto ela está na mesa.

— Por que não o odeia?

— Por que deveria?

— Ele matou seus pais e irmãos, te deixou órfã.

— E foi a melhor coisa que já me aconteceu.

O silêncio a atingiu fortemente e ela ofegou agora se endireitando na cadeira e me observando com total atenção. Revirei os olhos e me sentei deixando o livro sobre a mesa pedindo à mãe que me conceda forças.

Eu nunca falei sobre isso com ninguém, Lucien simplesmente sabia, e Rhys eu mostrei a ele mesmo que inconscientemente por um pesadelo.

— Minha mãe era uma deusa neste mundo, e meu maior amor e admiração sempre estará relacionado a ela, mas nem sempre foi assim. Eu nunca consegui me manter calada e meu pai e irmão adoravam usar isso como motivo para me punir fisicamente, psicologicamente. Por muito tempo culpei minha mãe por não fazer nada, por nunca me defender, por sequer olhar no meu rosto quando eu aparecia no quarto dela chorando e machucada, eu precisava culpar alguém e ela era o alvo fácil.

"Uma vez explodi toda aquela mansão e machuquei ela no processo, ela quase não se recuperou, estava machucada e seu corpo muito cansado, ela perdeu um bebê naquele dia. Meu pai ficou irado, eles me bateram repetidamente e eu só acordei uma semana depois com Tamlim limpando meus ferimentos e percebi que minha magia estava trancada.

Então eu comecei a ser forte, na verdade, a ser orgulhosa, eu chorava quando eles queriam, e não falava nada, despejava todos os meus problemas no santuário depois, minha mãe se tornou meu tudo.

Eu cuidava dela porque ela já vivia naquilo a muito mais tempo que eu, meus irmãos não encostavam nela, mas meu pai sim. Eu me tornei a âncora que segurava ela nesse mundo, e quando eu acordei e ela não estava mais aqui antes da tristeza meu primeiro sentimento foi o completo alívio e esperança, porque ela com certeza tem seu lugar ao lado da mãe.

Então depois percebi que eles também estavam mortos, e Feyre eu chorei muito naquele dia, mas foi de felicidade"

Ela estava com os olhos cheios de lágrimas e apertava fortemente sua mão em punho fechado.

— Eu sinto muito, Tamlim não...

— Não te contou, eu sei. Eu diria para você perguntar a ele o porque tudo isso começou, ou o porquê da covardia dele, mas não aconselho que o faça. Aquele ali não é o irmão com quem eu brincava, ou aquele que cuidava de meus ferimentos, ele parece muito mais com meu pai do que com o Tamlim que eu um dia amei. 







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