É tão louco ter que decidir o que fazer da vida quando se é bem jovem...
Aos 13 anos, quando meu pai me perguntou "Carol, o que você quer ser quando crescer?", nós estávamos em frente a um computador, prontos para marcar uma opção de curso da escola técnica que eu me formaria, senti dessa vez que era algo muito sério. Pois bem, não tinha ideia, mas de uma coisa nós dois sabíamos, eu amava matemática assim como o professor Robson, meu pai. Logo foi mais certo escolher algo que envolvesse cálculos para acrescentar no meu currículo de formação, fiz edificações.
O celular tocou enquanto eu estava no banho. Enrolei-me na toalha rosa rapidamente.
- Oi, amig... - O aparelho escorregava da minha mão - Ai, droga! - resmunguei, afobada, com ele quicando por entre meus dedos. Graças a Deus consegui salvá-lo. Então suspirei, aliviada, me debruçando sobre a pia para analisar a espinha horrorosa que surgia em minha testa. - Oi, amiga - falei em um tom ofegante pelo desespero momentâneo, tinha acabado de ganhá-lo no meu aniversário de 19 anos.
- Amiga, tá tudo bem? Tá podendo falar? - Ana se preocupou.
- Claro. Foi a merda do celular, quase caiu no chão. O Edu ainda nem deve ter pago a primeira parcela, e já ia para o ralo.... - tagarelava com o coração agitado, contudo, fui interrompida.
- Carol, é melhor se sentar... - sugeriu, intrigante.
- Por quê? Fiquei nervosa agora.
- Amiga, só senta.
- Ai, Ana... Fala logo! Estou em pânico - exigi, ansiosa como sempre fui.
- O envelope chegou... - disse, depois ficou muda. Tentei me recordar do que poderia ser, mas ela não aguentou o meu suspense amnésico. - Carol... A bolsa de cinema.
- Ai, meu deus! - sussurrei, levando a mão à boca. - Ai, meu deus! - gritei com os olhos marejados, ameaçando a pular, entretanto, sapateei em um chão ensopado. Muito arriscado por sinal.
- Amiga, tu merece muito.
- Ana, muito obrigada... Eu não estou acreditando. Não está mentindo para mim não, né?
- Garota, você acha que eu ia brincar com uma coisa dessas? Eu hein... Se bem que eu já...
- É, pois é... Você jurou para a Rebeca que ela não tinha sido selecionada para o estágio. Coitada. - Gargalhei, Ana me acompanhou na risada. - Cara, é surreal.
- É... E agora? O que vai fazer? Tem que contar para o tio Robinho... Ai, Carol... Eu vou sentir tanto a sua falta... - Ela me questionava, e eu refletia por quanto mais tempo eu poderia evitar a tal conversa. Estava cursando engenharia há 2 anos, meu pai iria surtar, tantos gastos à toa.
Após desligar o telefone me olhei no espelho. Sabe quando você se encara e não consegue conter um sorriso? Eu estava assim, porém uma sensação de insegurança me tomou tão forte, roubando o meu semblante abobalhado. Engoli em seco, percebendo que eu estaria me arriscando a fazer algo diferente de tudo. Não vou dizer que sempre sonhei... Não é comum ouvir pessoas nos incentivando a ser cineasta, porém isso passou a gritar em meu coração, e não suportava nem contar 1 + 1. Confesso que eu responderia 3 de ódio.
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NEM NOS MELHORES SONHOS | Degustação
RomanceCarol é uma brasileira que foi abandonada por sua mãe na infância. Aos 19 anos, deixa a família, a faculdade de engenharia, mas mantém o seu namoro à distância com Edu, para se aventurar no exterior, estudando cinema. A bolsista, tímida, ao chegar n...