- E aí, amiga? - Ana perguntou assim que passei pela porta da sua casa sobre meu pai. Ela morava perto de mim, no Humaitá. Deitei no seu sofá.
- Ele até que reagiu bem. Acho que a história da gravidez deu uma amenizada. - Rimos. Minha amiga foi à geladeira e retirou duas latinhas de Coca. Era uma viciada.
- O Edu te ligou?
- Desapareceu o babaca... Que ódio! Não quer atender minhas ligações, visualiza as mensagens, não responde. Acho que terminamos e eu nem notei... Está sendo infantil. - Ergui-me um pouco para beber o refrigerante que me entregara.
- Ah... Se ele terminar contigo é um idiota. Foi lá pra conversar, depois some - sugeriu ela. - E a embaixada, tá tudo certo? - Levantou minhas pernas e se sentou, as colocando por cima das suas.
- Está sim. O empréstimo dá para completar a bolsa e pagar uma parte do aluguel desse primeiro ano. Vou ter que dividir apartamento com outros estudantes que eu nem conheço... - Bufei e fiz bico. Ana fez careta. Sorri. - Eu dei uma olhada, não fica tão alto o valor...
- Hum... Eu torço para que encontre pessoas legais, mas não quero que me superem - debochou, porém tinha noção de que falava sério. - Carol, se encontrar um gringo bonito, não se esqueça de mim, hein? Pelo amor de Deus. A situação está difícil aqui. - gargalhou. Assenti, risonha.
- Aqui, deixa eu te mostrar os apartamentos... as casas são mais caras...
- Ah... Tem uns maneirinhos...
- É. Olha esse... Vai ser bom - suspirei.
- Assim que eu chegar, tenho que procurar um emprego. Dizem que é fácil... - Ajeitei-me no sofá, me sentando com as pernas cruzadas sobre ele, peguei o celular. -Andei pesquisando alguns sites com depoimentos dos estudantes, vi que existem oficinas no próprio conservatório. Acho que dá para ajudar na renda.
- Olha, se precisar de qualquer coisa é só falar. - Apoiou a sua mão gelada, por causa da latinha, sobre a minha. - Você é minha melhor amiga. Vou morrer de saudades.
- Você é a minha única amiga. Também vou morrer de saudades. - Abracei ela.
Eu começaria o semestre em Setembro. O local onde eu ficaria já estava alugado. A ansiedade me tomava, misturada a várias sensações como empolgação, nervosismo, saudade antecipada... Ai, muita coisa para uma pessoa só.
Edu e eu nos acertamos. Na verdade, estávamos muito próximos, fazíamos planos de nos casarmos assim que eu regressasse ao Brasil. Chegamos a visitar duas casas de festas, inclusive participamos das degustações de doces e salgados. Que graça teria não desfrutar da melhor parte? O nosso namoro vai sobreviver à distância, refleti durante vários momentos, dos cinco meses que voaram em um piscar de olhos.
- Você promete que não vai se apaixonar por outra morena cabeluda? - perguntei a Edu enquanto, debruçados no guarda-corpo do Forte de Copacabana, me abraçava. A vista era incrível. Estava muito emotiva na véspera da minha viagem. Minha família, sentada, lanchava em uma mesinha um pouco distante. Ele alisou o meu rosto.
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NEM NOS MELHORES SONHOS | Degustação
RomanceCarol é uma brasileira que foi abandonada por sua mãe na infância. Aos 19 anos, deixa a família, a faculdade de engenharia, mas mantém o seu namoro à distância com Edu, para se aventurar no exterior, estudando cinema. A bolsista, tímida, ao chegar n...