15- VIZINHO TATUADO (CAROL)

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Ela está de sacanagem? Como compreender que fiz papel de palhaça por mais de três anos?

Estalei a língua, irritada, finalizando com um enorme bico ao fechar o WhatsApp. Entrei na galeria de imagens do meu celular e comecei a apagar todas as nossas fotos. Eram muitas. Que saco! Queria exterminar tudo que eu tinha dela e de Edu, porém possuía mais de 2000 arquivos só no aparelho. Merda, o aparelho tinha sido presente do traidor, constatei. Arqueei a sobrancelha, decidindo ser mais evoluída.

— Não vou me desfazer do celular. — chiei. Em seguida, me enraiveci ao ver que a garota me enviou um áudio. Desaforada demais!

Não consegui conter a curiosidade. Comecei a ouvi-la:
— Amiga, me perdoa… Eu não soube como te falar na época. Era ele, o menino que eu fiquei do último ano. Você não teve culpa, não sabia… Se eu tivesse falado, talvez nada disso estaria acontecendo agora, talvez… Olha…

Parei de escutar por uns instantes, era duro. Bufei, me sentindo uma menina ingênua. Eles deveriam conversar longe às escondidas. Resolvi continuar o que fazia.

— Olha, eu gosto do Edu. Achei que o sentimento tinha acabado, mas… quando ele me procurou querendo te fazer uma surpresa…

Pausei novamente o áudio. Que surpresa? Isso ele não me disse. Edu viria me visitar no natal, porém já era algo programado.

— Eu não podia ter ficado perto dele… Eu… Eu amo Edu. Sempre amei. Me desculpa… — chorava. — Me desculpa, Carol.

Esfreguei minha testa, indignada. Sentia o meu mundo desmoronar. Como assim a minha melhor amiga amava o meu namorado? Eu contei sobre a minha primeira vez com Edu... Levantei e saí do quarto. Fiquei um tempo parada, embasbacada, olhando em direção à piscina, encostada no guarda-corpo do segundo andar. Vi que Ana estava online, então liguei.

— Oi — atendeu ela, tímida.

— Te desculpar? É sério isso? — indaguei, exaltada. Olhei para trás percebendo que falava alto. Tive medo que alguém acordasse. — Custava me falar?

— Carol, a gente tinha 15 anos…

— Ah… Com essa idade realmente não sabemos o que é certo e errado — debochei, me debruçando na estrutura de madeira. Ouvia o seu choro, porém não me importei.

— Tudo foi muito rápido. Eu não esperava que você chegasse e tirasse ele de mim no mesmo dia — explicava, desdenhosa, sobre o meu retorno às aulas, depois de um acidente que sofri passeando de patins no Aterro do Flamengo. Fiquei boquiaberta. Ergui-me, iniciando uma andação de um lado ao outro, penteando com os dedos o meu cabelo.

— Porra, era só me dizer. Não sou criança! — Bufei de ódio.

— É o que meus pais sempre me dizem — rebateu, entretanto, pela sua respiração do outro lado da linha parecia arrependida. — Parei a minha caminhada, apoiando o meu rosto em uma pilastra, me encontrava próxima a escada, longe do meu quarto.

— O que eles sempre dizem? — perguntei, intrigada. Ana hesitava. — Fala! — Minha voz embargou, suspeitava de algo.

— Eu sempre penso em você primeiro, desde criança. Acabo não fazendo o que quero… — complementava. — Isso estava me prejudicando… Eu também larguei a faculdade… Não gosto de engenharia.

— Do que está falando? — Sentei-me no degrau em prantos. — Você tem pena de mim? É isso?

— Eu… Eu queria que você fosse mais feliz, tivesse outros amigos. Tivesse a sua...

— Mas eu sou feliz assim. Eu gosto de ficar em casa, de ficar sozinha… — exaltei-me novamente. Meu coração estava apertado, sabia o motivo maior. Fiquei pensando se tudo o que vivemos tinha sido falso. — Eu não desejei viver uma fantasia porque minha mãe me abandonou.

NEM NOS MELHORES SONHOS | Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora