Não sei como o Andrew se mantinha acordado. Eu havia desmaiado. Se bem que a bebedeira justificava a minha ausência momentânea. Que enxaqueca! Abri meus olhos, me deparei com uma sequência de pontos iluminados na estrada. Os postes com luzes alaranjadas me faziam permanecer no estado de vai e volta, minhas pálpebras se fechavam sem a minha autorização. Tentei levantar a minha cabeça, que continuava tombando, esbarrando levemente na janela de vidro do conversível que tinha o seu teto fechado, nem isso me trazia de volta. Eu só acordei verdadeiramente quando um grunhido horrendo se desprendeu de mim, eu ronquei. Vexame, Vexame, Vexame! Ajeitei-me no banco, me voltando para ele com um semblante assustado. McConie gargalhava baixinho.
— Eu juro que eu não faço isso sempre. — Tentava reconstituir a minha honra.
— Você deve estar muito cansada — falou, esfregando seu rosto. Limpei o canto da minha boca, a pele estava grudada. Eu não só ronquei como babei. Sorte de ter sido para o lado oposto ao que ele estava.
— É a primeira vez que eu durmo cedo desde que comecei a estudar aqui... Que horas são? Você também deve estar exausto… — Eu via que Andrew piscava compulsivamente os olhos, se esforçando para ficar atento, entretanto, me fitou com a fadiga estampada na face.
— Já são 4 da manhã, preciso muito de um banheiro e de uma cama — admitiu com a testa franzida e a voz mais rouca, visto que ficou calado por muito tempo. Confesso que quando falou a palavra "banheiro", minha bexiga latejou.
— Hum… Também quero. — Também queria comer e beber água. Passei o dia com algumas batatinhas e um hambúrguer que Andy me obrigou a comer antes de irmos ao encontro de Edu.
— Vamos dormir umas duas horas.. Pelos meus cálculos, se pararmos mais umas três vezes, chegamos às 18, antes do jantar.
— Aham…
Levamos aproximadamente cinco minutos até encontrarmos um motel. Paramos em Redding, ainda na Califórnia. O lugar era como nos filmes, dois pavimentos e a varanda cercava todo o segundo andar.
Estacionamos de frente para o gradil branco da piscina retangular. Andrew se esticou e pegou sua mochila no banco de trás, retirou o seu boné e o colocou.
— Isso é tipo os óculos do Superman? Ninguém vai te reconhecer agora. — zombei.
— Funciona exatamente assim. Vamos? — Sorriu com uma piscadela, ajeitando a aba do acessório. Ele saiu do veículo, fazendo praticamente uma sessão de alongamentos enquanto rumávamos para a recepção. Logo que chegamos, abriu a porta do estabelecimento para que eu passasse na frente, depois adentrou. Não havia ninguém na bancada, mas a TV estava ligada.
— Ai, deixa eu tocar o sino? — pedi, empolgada, no momento em que ele executaria tal ação.
— Quem sou eu para impedir?
Infelizmente um senhor gorducho com um bigode grande atravessou a portinhola, semelhante a de faroeste, antes que eu encostasse no objeto. Bufei, decepcionada.
— Boa noite! Vão querer quantos quartos?
— É… — gaguejava McConie a me olhar. Vi que não esperava a pergunta. Em todo momento não cogitei ter algum problema dormir ao seu lado. — Só um?
— Aham… — confirmei, pois sua resposta teve um tom de interrogação.
— Eu vou precisar que preencham a ficha de cadastro e da identificação dos dois. — O velho pegou na gaveta um papel arcaico amarelado e uma caneta. Andrew se apoiou no balcão e começou a escrever seus dados. Fiquei analisando a sua letra, tinha um tamanho médio, misturava cursiva e bastão. Deixei de mirar a folha e passei a desfrutar de algo melhor, seu rosto, concentrado, mordia o lábio. Suspirei, retirando a atenção no que fazia.
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NEM NOS MELHORES SONHOS | Degustação
RomanceCarol é uma brasileira que foi abandonada por sua mãe na infância. Aos 19 anos, deixa a família, a faculdade de engenharia, mas mantém o seu namoro à distância com Edu, para se aventurar no exterior, estudando cinema. A bolsista, tímida, ao chegar n...