Durante toda viagem eu tive receio de como proceder com Carol. Agir como amigos não era o que eu desejava, porém era o menos arriscado.
Lembrei do meu último término, também havia sido traído. Sofri bastante, cogitava que poderia estar vivenciando algo no mesmo nível. Por isso, não queria parecer um chato, carente. Eu executei esse papel quando insisti, incansável, para que viesse ao jantar de Ações de Graças comigo, mas o que eu pedia na verdade, era que fizesse parte da minha vida, pelo menos naqueles 4 dias.
Deixei Carol na sala, na companhia de meus irmãos, sobrinha e cunhada. Esperava que ficasse bem, necessitava de um momento a sós com minha mãe. A gente não se via há 9 meses. Então fui à cozinha.
- E aí, dona Rose? - falei ao chegar, abraçando-a. Minha mãe me mirou com um sorriso, o qual dizia muita coisa. Sentei-me na banqueta, apoiando os cotovelos na bancada da ilha, centralizada no cômodo.
- Sua amiga é bonita... - Aproximou-se. Suspirei, concordando com a cabeça. Ela ficou parada, me encarando em suspeita.
- O que foi, mãe?
- Nada. Vá lavar as mãos. Me ajude com os cookies.
- Hum... Até salivei. - Dirigi-me à pia para me higienizar. Logo pegou os ingredientes e os colocou sobre a mesa. - Eu vou poder comer o restinho da massa como antigamente? - zombei.
- Depois vai ter dor de barriga igual antigamente - debochou, me dando a colher de pau.
- Então esquece! - Gargalhei.
- Foi o que eu pensei. Não iria se aventurar, já que a menina que gosta está aqui em casa. - Brincou.
- Você, hein... - Bufei, refletindo se deveria admitir os meus sentimentos. Certamente minha mãe já nos visualizava em uma igreja, cheia de flores, colocando alianças um no outro. Estava cedo para isso. Eu nem sabia se teria uma chance com Carol. Entretanto, para dona Rose se eu não começasse a namorar o mais rápido possível, demoraria muito para eu lhe dar netos. Que fissura!
Eu estava com saudade daquele aconchego, de contribuir na cozinha, mesmo que só batendo a massa do seu famoso cookie. Aquele momento me remeteu a hora em que Brian e eu terminávamos de estudar e a ajudávamos com o jantar, pois gostávamos de sentar na sala para assistirmos às novelas com ela. Odiávamos quando a nossa mãe perdia alguma cena por causa da comida trabalhosa. Além do interrogatório sobre o capítulo enquanto o mesmo ainda rolava, não era tão empolgante sem a espectadora mais dramática do planeta. Ela ria, chorava, xingava... Nós assistíamos basicamente a ela.
- Meu pai está trabalhando hoje? - Estranhei.
- Não, ele foi auxiliar o seu tio. Acho que morreu um gambá embaixo da casa, e agora eles estão tentando tirar o bicho... - Entregou-me a tigela com os ingredientes para eu misturar.
- Caramba! De novo...
- Pois é... Daqui a pouco eles estão aí - disse, voltando para os salgados. Comecei a bater a massa do doce.
VOCÊ ESTÁ LENDO
NEM NOS MELHORES SONHOS | Degustação
RomanceCarol é uma brasileira que foi abandonada por sua mãe na infância. Aos 19 anos, deixa a família, a faculdade de engenharia, mas mantém o seu namoro à distância com Edu, para se aventurar no exterior, estudando cinema. A bolsista, tímida, ao chegar n...