Estou guardando meus cadernos após a aula quando vejo um tumulto no meio do corredor.
Não consigo ver nada por conta da minha altura e tem vários universitários atrapalhando a visão.
Tento me aproximar mais e entender o que está rolando, algumas animadoras de torcida da universidade estão tentando puxar o hijab de uma aluna que nunca vi aqui.
Isso é totalmente desrespeitoso.
Me enfio no meio das pessoas para poder passar e chegar até a moça que está se encolhendo no canto. Empurro as animadoras para longe enquanto elas provavelmente estão me xingando ou algo do tipo e levo a garota comigo em direção ao banheiro, passamos pela multidão e Heather, a líder de torcida parece incomodada com a atitude das meninas, mas em nenhum momento ela interferiu, isso me incomoda muito.
Ela pareceu querer dizer alguma coisa a nós, mas preferiu se juntar às suas "amigas". A moça cujo nome desconheço encara Heather como uma ameaça enquanto caminhamos até o banheiro.
Heather tem a pele negra, seus cabelos são crespos na altura do ombro e seu rosto resplandece como de um anjo, não me surpreende que ela é uma das modelos mais cobiçadas em Aspen, acredito que daqui uns anos seja reconhecida em todo Colorado.
Chegamos no banheiro e confiro se estamos sozinhas abrindo as portas que dão até os sanitários.
Tranco a porta enquanto a garota soca com seus punhos o espelho em cima da pia.
Não chega a quebrar o espelho, mas a sua mão fica vermelha.
Ela se vira na minha direção e fica me encarando.
Começa a arrumar o hijab que estava um pouco bagunçado, observo alguns fios de cabelos tão pretos que chegam a brilhar, me viro de costas para ela caso eu esteja sendo desrespeitosa e não sei.
Depois de um tempo ela toca meu braço indicando para sairmos do banheiro, caminhamos até a fila do refeitório, acho engraçado que ela não tentou falar nenhuma palavra comigo até agora, mas pelo jeito vamos comer juntas.
Um jeito estranho de conhecer uma pessoa, mas eu não tenho muitos exemplos de socialização na minha vida.
As únicas pessoas que socializo são uma menina de 10 anos, seu irmão arrogante de 20 anos, um palhaço que se denomina como meu melhor amigo e o suposto "namorado" do meu melhor amigo. Acho que mães não contam.
Marcos e Justin chegam conosco na fila. Marcos sempre ignora a fila presencial e fica com a gente, eu não julgo muito porque eu também deveria usar, mas não uso. Eu sou a favor, mas sempre escolho a fila porque podemos conversar mais.
"Então, quem é você?" – Marcos pergunta a garota que eu ainda não sei o nome e não troquei nenhum diálogo até agora.
Ela parece confusa, seus olhos escuros me encaram como se buscasse uma resposta ou estivesse tentando entender o que está acontecendo.
"Nós usamos a língua de sinais para nos comunicar com nossa garota aqui." – Justin fala enquanto faz os sinais.
Ela parece entender mas não diz nada, apenas fica assente com a cabeça. A menina não parece ser mal educada, apenas parece com vergonha ou algo assim. Ela é muito bonita, eu diria que é parda, sua maquiagem está tão perfeita que sinto vontade de pedir para ela fazer a minha todos os dias, seus lábios estão tingidos com um batom vermelho.
"Estamos andando juntas, mas até agora não falamos nada, nem sei o nome dela."- Digo a eles.
"Qual é seu nome? E se você falar de forma mais expressiva com os lábios, a Raven consegue entender você por leitura labial." – Marcos diz a ela.
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Ouço as batidas do seu coração
RomanceRaven é uma mulher muito fechada e cautelosa. Devido a sua deficiência auditiva ela aprendeu a observar tudo ao seu redor com mais atenção. Raven aprendeu da pior maneira a desconfiar de todos ao seu redor, não aceita gentileza, detesta pessoas que...