Raven

120 28 70
                                    


Eu preciso acabar com isso logo, não posso deixar que minhas emoções me dominem. Seja lá o que for que eu estou sentindo.

Estou confusa e vulnerável, as duas coisas que mais odeio sentir. Estava tudo bem quando eu só sentia ódio e rivalidade por ele, mas estou começando a sentir algo a mais.

Quando ele falou que se importava mais do que eu poderia imaginar, meu estômago se embrulhou e senti medo.

Medo de ser mentira da parte dele.

Medo de deixar ele se aproximar de novo e depois me fazer sentir como aquele dia no parque.

Medo de que seja uma brincadeira pra ele.

Eu quero a amizade dele, eu quero ele por perto. Mas eu não posso me dar ao luxo de permitir que ele se aproxime novamente.

Passei muitos anos erguendo várias muralhas para me proteger, para depender somente de mim mesma. Foram muitos anos de terapia até eu conseguir amar minha própria presença e o conforto que ela traz.

Não vai ser agora que vou jogar tudo pelo ar.

A aula acabou e todos estão se retirando, decidi que iria falar com o professor sobre o trabalho.

"Oi, você teria um minuto?" - Pergunto ao professor.

Ele está sentado na cadeira atrás de sua mesa usando sua camisa social preta, seus cabelos grisalhos tomam destaque com aquela camisa. Tenho quase certeza que ele tingiu o cabelo, pois não tem nem 40 anos.

"Claro, Raven. O que seria?"

"Eu quero trocar de dupla, não está dando certo com Justin. E eu realmente tentei."

Ele me avalia por alguns segundos, provavelmente pensando na resposta que vai dar.

"Isso não pode ser considerado. Já se passou um mês, e você quer mudar agora? Ele foi desrespeitoso com você? Você quer me contar alguma coisa que eu possa ajudar?"

"Não, ele não foi desrespeitoso. Nós não nos damos bem, professor. É considerado tortura da sua parte querer que eu trabalhe com ele!"

Ele começa a rir do que acabei de dizer, confesso que eu posso ser um pouco dramática às vezes.

"Raven, eu peço que você aja como a mulher adulta que você é, e dê o seu melhor para fazer esse trabalho dar certo. Eu tenho certeza que vocês vão aprender muito um com o outro. Sugiro que façam algumas avaliações de conhecimento, quem sabe ajuda."

Não foi dessa vez. O professor foi embora deixando só eu na sala, pego meus livros e cadernos e saio da sala. Sinto falta do meu celular e quase volto para ver se esqueci, mas lembrei que esqueci ele em casa hoje, não tenho como chamar um carro pra mim. Que maravilha vou ter que voltar sozinha e a pé porque Marcos não veio hoje.

Quando dobro a saída da sala para o corredor sinto algo se chocando contra mim, todos os cadernos caem no chão. Abaixo para pegar quando noto quem se esbarrou comigo. É claro que seria ele, eu acabo de implorar por paciência divina, porque a minha acabou.

Ele me ajuda a juntar tudo e eu fico agradecida por ele não fazer aquela merda de contato visual clichê que acontece nos filmes. Nos levantamos e eu o encaro.

"Acho que você levou muito ao pé da letra a expressão 'ter uma queda' por mim." - Ele diz com seu sorriso convencido.

"O que você está fazendo aqui? A aula já acabou. Só tem nós na faculdade."

"Eu vi que você ficou sozinha com o professor. Você demorou para sair e fiquei preocupado e acabei voltando."

Ele ficou com medo do professor ter feito algo comigo e voltou para ver como eu estava?

Ouço as batidas do seu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora