Ouço as batidas do seu coração

Raven

Acordo com uma dor de cabeça insuportável, sinto meus olhos inchados mas não lembro o que aconteceu.

Quase tomo um susto quando o vejo sentado na cadeira com os olhos semi abertos, provavelmente dormindo, ou quase.

Um sorriso se abre no meu rosto ao vê-lo.

Antes eu contia todos os sorrisos que eu sentia que estavam por vir em mim ao senti-lo ou vê-lo, mas não vejo mais necessidade nisso, pois eu gosto do garoto que está bem na minha frente.

Passo as mãos pelo meu rosto para despertar, eu ainda estou com muito sono. Hoje tenho o transplante coclear, daqui a pouco minha mãe vai chegar em casa para me levar, felicidade enche meus pulmões imediatamente.

Me levanto com um salto da cama para me arrumar, e Justin desperta assustado. Espero que ele me acompanhe para fazer o implante, isso é muito importante para mim.

Nos encaramos, seus olhos estão vermelhos, cansados e tristes.

"Desculpe. Fiquei cuidando de você enquanto dormia, esperava que quando seu rosto suavizasse eu poderia ir embora. Mas não aconteceu."

Flashbacks passam pela minha memória, sobre o que aconteceu ontem.

Lembranças enchem minha cabeça, a dor começa a se intensificar, não sei se é a enxaqueca ou o aperto enorme que está dando no meu peito.

Uma dor tão forte que meus joelhos enfraqueceram, cubro meu rosto com as mãos tentando bloquear tudo.

Quero desmoronar, toda a sensação de impotência e fragilidade que eu senti naquela época, mas não sou mais aquela menina, ela ficou para trás, eu não pude protegê-la.

Falhei com ela.

E depois comecei a marcar o corpo dela tentando fazer uma dor maior a qual eu sentia, marquei todos os lugares que ele tocou. Não faço mais isso, nem sinto mais vontade, mas o arrependimento de tê-la machucado é insuportável.

Pare.

Não é minha culpa. Não falhei com ela.

Não havia nada que eu pudesse ter feito, a culpa é totalmente daquele desgraçado que destruiu minha infância.

Não é a roupa. Não é a maneira que o cabelo está preso. Não é jeito de andar. Não é a profissão.

A culpa nunca é da pessoa que sofre assédio. Ninguém quer passar por isso. Não posso me culpar por nada.

Minha cabeça está uma confusão. Sinto uma enorme necessidade de fugir de mim mesma.

Foram anos curando o meu emocional, acho que tem partes que nunca sequer vão se cicatrizar, mas agora eu sei sobreviver com isso graças a psicologia.

Preciso focar em alguma coisa para reprimir todo esse sentimento.

O implante.

Certo. O implante vai ser aplicado hoje, mas o especialista disse que só vamos poder ligar o aparelho mês que vem.

Na cirurgia, eles vão fazer um corte de 4 centímetros atrás da minha orelha, para posicionar o aparelho embaixo da pele.

Bloqueio todos os sentimentos. Reprimo tudo e engulo em seco.

Greg me ensinou a não fazer isso, lidar com eles de maneira saudável, mas não consigo lidar com toda essa merda agora.

Indico a porta do quarto para que Justin vá embora.

Ele se levanta da cadeira e me analisa.

"Não se feche para mim, Raven. Não seja fria, fale comigo."