Capítulo XXVI

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Décima nona semana de gestação e eu ainda não aceitei totalmente o fato de estar grávida. Eu não rejeito o bebê, só não sinto por ele o amor de mãe que sinto pelo Djevá.

Parece que a ficha ainda não caiu. Não consigo acreditar que vou ser mãe outra vez! 

Só a Alice sabe como estou me sentindo, mas não pretendo contar a outra pessoa porque consigo ver a felicidade explícita nos olhos do Rodrigo toda vez que ele se aproxima da minha barriga, e não quero que ele fique triste com os meus sentimentos.

Deus, por que maternidade é tão complicada?

— Papai! - Djevá saltou do sofá e foi até a porta de entrada da sala.

— Eae, garotão. - Rodrigo pegou-o no colo - Cuidou bem da mamãe pra mim?

— Uhum. - sorriu - Papai, o neném ainda não mexeu!

Até meu filho está mais entusiasmado com a minha gravidez que eu mesma.

— Não? - meu marido perguntou e neguei com a cabeça - Deixa o papai ver.

Ele colocou o Djevá no chão e depois se ajoelhou à minha frente. Era até bonitinho ver o Rodrigo com a cabeça escorada de um lado da minha barriga e meu filho escorado do outro lado.

— Por que não mexe, mamãe? - perguntou curioso.

— Sijui, mwana (não sei, filho). Às vezes ele tá dormindo quietinho!

— O que a obstetra falou?

— Ela disse que ele está super saudável e crescendo no ritmo adequado. - coloquei algumas pipocas na boca - Disse que o fato dele não se mexer é normal, alguns bebês demoram um pouco mais.

— Deu pra ver o sexo dessa vez? - neguei com a cabeça - Pelo jeito ele está querendo se esconder da gente!

— Ele deve ser tímido. - olhei para a televisão - Sabe; a algum tempo atrás, meu marido me dizia "Oi, como foi seu dia?". Mas, ele mudou bastante depois que o 2° filho dele foi colocado no forno! - sorriu, pegou Djevá no colo e sentou ao meu lado no sofá.

— Oi, minha preta. - me deu alguns selinhos - Como foi seu dia?

— Corrido, como sempre. Agradeci a Deus por ter essa consulta hoje, os enjoos estavam me matando! - escorei a cabeça em seu ombro - E o seu?

— Filho, vai lá na cozinha e pergunta pra Cecília o que ela tá fazendo pro jantar, por favor? - o menino foi - Acompanhei a ida  de duas crianças para o orfanato. Dois meninos, gêmeos, de cinco anos. Vi as fotos do resgate e fiquei assustado, não foram encontrados sinais de abuso sexual, mas o corpo deles tava cheio de machucados das agressões.

— Que horror, amor.

— Fiquei com o coração partido. Principalmente quando eles pediram para brincar um pouco comigo. - segurei sua mão - A mãe era viciada e o pai era o próprio agressor. Não sei o porquê, mas fiquei muito triste de ter que deixá-los com a Assistente Social.

— Eles vão pra adoção? - assentiu - Quais os nomes?

— Benjamim e Miguel. - achei fofo - Mas, acho difícil acharem pais dispostos a adotar os dois, até porque eles são mais grandinhos. Sem contar que crianças com traumas dificilmente são escolhidas! 

Eu ia falar outra coisa, mas o Djevá atravessou a sala correndo anunciando o que a Cecília estava fazendo. Eu sabia que o Rodrigo tinha pedido para ele ir até a cozinha porque o assunto é mais pesado, então deixei o meu comentário de lado.

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