Capítulo XX

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Acordei com meu corpo totalmente dolorido, mas fiquei aliviada ao ver o Djevá dormindo tranquilamente ao meu lado. Eu estava muito machucada ontem, até tentei evitar que ele visse meu rosto daquele jeito, mas foi impossível.

Depois que ele dormiu, me dei ao luxo de chorar até meu corpo não aguentar mais. Não sei o que vai acontecer, e só de pensar em alguém fazendo mal ao meu menino, meu coração se quebra em um milhão de pedaços.

— Bom dia! - me assustei ao escutar uma voz masculina - Fica calma, tá tudo bem. Só vou te fazer algumas perguntas! - passei o braço pelo corpo do meu filho e o rapaz se sentou na cama - Quantas vezes ele come?

— O que?

— Seu moleque, quantas vezes ele come por dia? - franzi o cenho e me encolhi - Não precisa ter medo, não vou machucar vocês. Eu juro, não sou igual ao Magrelo.

— Pode não ser igual, mas se você tá aqui significa que a personalidade de vocês não é muito diferente. - respirou fundo.

— Sinto muito pelo que ele fez com você ontem!

As lágrimas surgiram como uma avalanche, mas segurei o choro na garganta. Não posso demonstrar fraqueza aqui!

— O Djevá come quatro vezes por dia, talvez cinco.

— Ele já sabe falar português?

— Um pouco, mas ainda usa a língua materna pra dizer frases longas. - assentiu.

Me olhou por alguns instantes.

— Isso tá horrível. - se referiu aos cortes em meu rosto - Deixa eu cuidar disso pra você, me dá só um minuto.

Antes que eu pudesse contestar, ele já havia saído do cômodo, e alguns minutos depois voltou com um pano e um frasco de medicamento que eu não faço ideia do que seja.

— Vem cá.

Conferi se o Djevá ainda estava dormindo, depois me aproximei lentamente do moreno à minha frente. Ele aparentava ser bem novo, principalmente por causa do piercing de metal nos lábios e o tão famoso risquinho na sobrancelha, mas não posso negar que ele é bem bonito.

Enquanto passava o pano úmido pelos machucados no meu rosto, notei seu olhar me analisando detalhadamente.

— Você é bonita. Muito bonita! - sorri ironicamente.

Ai Jesus, só faltava essa. Meu sequestrador tendo uma queda por mim!

— Você sabe que eu sou casada, né?! - me olhou maliciosamente.

— Duvido que seu marido consiga te dar o que eu posso te oferecer entre quatro paredes.

— Consegue. Ôh se consegue, Caleb! - sua expressão mudou.

— Você me conhece?

— Filho da Celeste, irmão da Cecília e tio do Heitor. Sim, já ouvi falar muito de você! - encarei seus olhos - Só não entendi o porquê de você estar aqui.

— Eu tava precisando de grana, e o Magrelo me ofereceu esse trampo.

— Trampo? Ajudar num sequestro é trabalho?

— É óbvio que você não entende. Certeza que você e seu maridinho nunca passaram perrengue com dinheiro. - se levantou da cama - Quem é de favela não tem escolha.

— Eu não vim da favela, mas também não nasci em berço de ouro. Acha que eu vim ao mundo com meu diploma na mão e minha empresa feita? - me encarou - Todo mundo tem escolha, a diferença é que você tá indo pelo caminho mais fácil. - sorriu.

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