8. A bunch of Kim's

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Não tinha sido a ideia mais inteligente prometer a Seokjin que provaria ser bom cozinheiro usando uma lagosta para tanto. Olhando para o resultado final de seu trabalho, se convencia de que tinha estragado tudo. O molho parecia ótimo, o kimchi estava impecável, mas aquele pequeno monstro marinho estava em péssimas condições. Tinha certeza de que a alma da criatura ria da sua cara em alguma parte desse plano ou de outro.

A aventura que não rendeu louros tinha começado bem cedo. Acordou antes que o habitual para poder ir até a feira e comprar a lagosta. Namjoon não costumava ir na parte da feira que vendia peixes e frutos do mar porque não gostava do cheiro, do aspecto e do sabor desses seres, e passou mal de imediato quando se aproximou das barraquinhas. Segurou o enjoo e a ânsia e seguiu em frente, disposto a achar a melhor e mais fresca lagosta daquele lugar. Três barraquinhas cheias de criaturas que ele tinha certeza que não tinha visto nem nas aulas de Biologia da escola depois, porém, desistiu de ser forte e pediu a lagosta mais bonita e mais cara de uma senhora muito simpática, sendo atendido com rapidez. Com a coisa dentro da sacola saiu quase correndo dali, tendo no coração a certeza absoluta de que tinha sido passado para trás e cobrado a mais. Não via problema, contudo; pagar a mais para sair dali não tinha o menor problema.

Voltou para casa e enfiou a sacola com o bicho no refrigerador, foi tomar banho e quase arrancou a própria pele de tanto esfregar a esponja ensaboada no corpo, a fim de tirar o cheiro de feira de cima de si. Satisfeito, se vestiu com a primeira roupa que conseguiu pegar e saiu correndo para a faculdade.

Deixou as duas últimas aulas de lado e saiu. A disciplina era tranquila para ele, e a professora o achava muito engraçado, de modo que não se importava se ele faltava uma ou outra aula, até lhe dava a presença se fosse necessário. Namjoon sempre conseguia se recuperar naquela disciplina, logo não era perda de tempo nem de dinheiro se dar uma folga. No meio do caminho entrou na sua página do site em que trabalhava e iniciou um chat dentro do ônibus, instigando as pessoas presentes a tentarem adivinhar qual era o tema da live que teriam logo mais.

Depois que Seokjin saiu entrou na página e anunciou que daria o ar da graça no dia seguinte, fazendo algo que nunca fez antes, e estava se divertindo vendo as especulações. A maioria falava coisas sexuais, porque esse, no fim, era o principal produto que vendia. Alguns até falavam sobre cozinhar, porque Namjoon gostava mesmo de fazer receitas para seus expectadores, mas se ele dissesse que fazia uma live com uma lagosta, quase todos imaginariam que ele a usaria para enfiar no cu, ou sabe-se lá o que conseguiriam criar. Era um pensamento curioso, na melhor das hipóteses, mas jamais faria isso. Não importava se odiava frutos do mar, achava a coisinha feia e ela já estava morta. Namjoon respeitava os animais, nunca faria uma atrocidade dessas nem mesmo com um cadáver deles. Entretanto, sabia que tinha muita gente no mundo que não veria o menor problema nisso. As pessoas podiam ser bem esquisitas quando queriam, ainda mais quando se sentiam protegidas pela falsa sensação de anonimato da internet.

Namjoon, todavia, não estava ali para julgar nada, e não ia ficar pensando nisso, afinal, não era essa a hipótese. Saiu do ônibus sem largar o celular e foi andando para casa conversando com seu público, os divertindo e sendo agradável, os mantendo ali enquanto ganhava algumas moedinhas dos que mais gostavam dele. Não eram todos que davam dinheiro no chat, já que essa função Namjoon costumava deixar de graça para atrair público com seu charme, mas alguns gostavam muito de dar dinheiro a ele. Amava muito os que faziam isso, mesmo sem saber nome e rosto de uns tantos. Como não amar quem lhe dava dinheiro até para conversar? Era muito desprendimento material e Namjoon adorava quando tal desprendimento o beneficiava.

Na porta do apartamento encerrou o chat, não antes de fazer os presentes ficarem ainda mais interessados na sua live vindoura. Entrou, fez um breve asseio, vestiu uma cueca branca, quase transparente, uma camiseta justa de uma série americana e foi para a cozinha. Comeu um pouco de bolo com café, uma combinação incrível que alguém tinha ensinado para ele durante uma das lives, ajeitou as câmeras, arrumou o mise en place todo e iniciou seu trabalho. Já que iria cozinhar aquela coisa lovecraftiana, iria monetizar em cima disso sem o menor pudor.

Ride (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora