4. Hard day's night

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Já era noite avançada quando Namjoon decidiu que o bolo, que já assava por volta de quarenta minutos, estava finalmente pronto. Puxando as mangas do moletom rosa claro pelo menos dois números maior que seu tamanho normal — a única peça que lhe cobria o corpo, além de meias brancas longas de algodão —, ele colocou a luva de cozinha com estampa de morangos na mão direita e, com muito jeito, abriu o forno e retirou a forma de dentro. Com rapidez, a dispôs sobre a bancada da cozinha estilo americana, onde um suporte de madeira barata, porém trabalhada, aguardava pelo vasilhame super aquecido. 

— E eis aqui... — Namjoon falou com suavidade, num inglês perfeito e sem sotaque estrangeiro, para a lente de uma câmera posicionada à frente do local onde, agora, o bolo negro quentinho se encontrava. — ...o nosso bolo de fim de tarde! Não acham que ficou perfeito? — Piscou, sorridente, evidenciando suas belas covinhas, que tanto faziam sucesso entre os seus clientes. 

"Nós sabemos que aí é noite, D(ick)Imples", uma mensagem subiu na tela da smart tv, posicionada por detrás das câmeras e das luzes que tomavam boa parte do espaço do estúdio improvisado. 

"Não dá pra saber se ficou perfeito enquanto você não desenformar", outra mensagem, digitada por um user diferente, apareceu logo abaixo. 

"Ele não pode desenformar agora, tá quente", um terceiro user digitou, e logo abaixo, um pouco mais: "mas parece que ficou bem fofo, D(ick)Imples, você é bom nisso".

Namjoon olhava para as mensagens, as lendo, enquanto elas deslizavam tela acima do monitor da tv, sobre a imagem de seu rosto. Era a filmagem feita pela câmera que estava de frente para ele, denominada principal. Nos cantos das telas, em telinhas minimizadas, tinham outras partes da cozinha — e também de partes de seu corpo — sendo exibidas, pelas chamadas câmeras adjacentes. Uma focava em suas pernas, devidamente malhadas para serem firmes, sem serem definidas demais, pelo lado direito, e outra pelo esquerdo. As demais lhe filmavam por trás, de ângulos diferentes, como se fossem visões acima de onde ele estava. 

Naquela noite, estava fazendo um serviço gold no site em que Namjoon trabalhava, no qual pessoas podiam entrar em chats privados e ter acesso a uma espécie de daily vlog de uma hora da vida do funcionário daquela empresa. Como camboy, era um dos que ele mais gostava de fazer; oferecia certa intimidade, sem lhe colocar em situações complicadas ou vexatórias, e seus clientes saíam felizes, sentindo como se tivessem acabado de fazer parte parte da vida de alguém de uma forma especial. 

Apreciava todos os níveis de serviços, claro, desde o chat geral até as salas privativas +18. Aquela profissão, na qual ele entrara por dinheiro e acabara descobrindo uma vocação, tudo era bastante interessante e satisfatório. No entanto, algumas situações, em alguns momentos, conseguiam lhe deixar constrangido, e nem eram os pedidos sexuais do nível diamante que esse tipo de situação costumava acontecer. Pessoas podiam ser estranhas, às vezes, de um jeito bastante peculiar, ainda mais quando achavam que ninguém as estavam olhando. Aqueles chats em grupo com interação eram confortáveis e seguros, nesse sentido.

— A gente sabe que aqui é noite, mas podemos fingir, não é? Fica mais real e divertido pra vocês. — Falou para a câmera principal, apoiando os cotovelos sobre o balcão, próximo ao bolo. — E sim, mesmo antes de desenformar posso apostar que esse bolo não tem defeitos. Se vocês pudessem ao menos sentir o cheiro disso! — Inalou, "puxando" o cheiro com a mão, a balançando sobre o bolo. — Deve ser o melhor bolo que eu já fiz na vida!

"Até o próximo, não é?", um dos clientes comentou. "Você deve dizer isso a todos os bolos"

"Você apostaria seu moletom?", outro dos participantes do chat questionou, colocando um emoji sugestivo na mensagem. "Se quando você desenformar esse bolo ele se despedaçar, o moletom vai pro chão. Topa?"

Ride (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora