3. Good news

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Finalmente a vida tinha sorrido para Seokjin. O serviço avulso que Yoongi lhe arranjou por mero acaso tinha se tornado algo fixo, e só podia agradecer ao amigo por isso. Se Yoongi não tivesse pensado nele ao trocar algumas ideias com o senhor Kwang, não teria chegado ali e não estaria bem empregado, num ambiente decente e confortável, tendo chefes tão gente boa quanto os que lhe empregaram. Tudo aconteceu tão rápido e naturalmente que, às vezes, durante seus primeiros turnos nas madrugadas naquela lojinha de conveniência, ficava tentando se recordar se não tinha sofrido algum acidente e batido a cabeça, quem sabe, e agora estava, na verdade, sonhando. Porém, tudo era bastante real, e logo tratava de agradecer ao universo em vez de ficar fantasiando besteiras. 

O trabalho não poderia ser melhor. Tirando o horário, um pouco fora dos padrões para alguém acostumado a dormir durante a noite, e o salário que não era tão bom assim devido às circunstâncias, era calmo e não lhe causava transtorno nenhum. Não era de fato um fator de periculosidade estar trabalhando noite adentro, e os clientes, que não eram tantos, não costumavam lhe dar dores de cabeça. As únicas exceções, como Seokjin pôde logo perceber, eram os finais de semana, quando jovens universitários iam por lá com o dia quase nascendo, depois das festas e badalações, e um ou outro resolvia bancar o engraçadinho e tentava furtar algum produto da conveniência. Nessas horas, Seokjin deixava toda a simpatia de lado e assumia uma postura ameaçadora, que combinada com seu porte físico avantajado, dada a sua altura e formas, fazia a pessoa desistir rapidamente de seus maus intentos. Além disso, o horário incomum ainda lhe permitia ter tempo para realizar pequenos serviços avulsos, com os quais poderia complementar seus ganhos e, quem sabe no futuro, poder sair da aba de Yoongi de uma vez por todas. 

A vida estava, de fato, bem melhor no presente, mesmo que a melhora tivesse sido discreta.

Naquela madrugada de segunda-feira em específico, tudo corria na mais absoluta paz. Logo que chegou uma senhora e sua neta apareceram e trocaram algumas ideias com ele, enquanto a jovem tomava um lanche rápido depois de tantas horas na escola. Seokjin a observava, exausta em seu banquinho alto, comendo ligeiro — fosse para que pudessem ir logo embora dali ou por estar faminta, não se podia dizer —, e durante esse ato fazia sala para a senhorinha simpática que não cansava de elogiar a beleza que dizia enxergar nele. 

— Esse é o tipo de homem que você precisa conquistar, Hyolin! — A idosa disse sorrindo, num dado instante. — Bonito, jovem, trabalhador. 

— Pare com isso, vovó! Que constrangedor! — A moça respondeu com a boca cheia de sanduíche, ficando um tanto ruborizada. — Coitado do moço!

— Ah, com certeza ele não se importa! — Virou-se para Seokjin. — Você não se importa, não é, filho?

— Não senhora. 

Seokjin respondeu baixo, rindo quase sem som, sentindo o rosto esquentar. Na verdade não se importava mesmo com esse tipo de coisa, desde que ela partisse diretamente da pessoa interessada nele. Ter uma senhora intermediando um possível flerte que era claro que nem ele e nem a moça, ainda estudante, queriam, mudava a situação de figura. Mas como ser rude com uma senhora tão simpática, apesar de inconveniente? Por isso, seguiu falando com ela como se fosse sua própria avó, enquanto olhava para a garota e pensava no quanto o sistema educacional sul coreano era cruel com as crianças e os adolescentes. 

Após essa visita, ninguém mais tinha aparecido. Quando a conveniência ficava assim vazia, Seokjin aproveitava para assistir alguma coisa em seu celular, um dorama ou filme qualquer, e durante a atividade sempre pensava se não deveria usar esses períodos de ociosidade para, de repente, estudar algo novo, se preparar para um objetivo em específico. No entanto, Seokjin não era bem desse tipo de pessoa, não se via estudando ou batalhando para uma meta ambiciosa. A ele bastava ter um pouco de segurança e conforto, e tudo estava bastante satisfatório assim. Por isso, acabava deixando encostado num canto de sua mente tais ideias e se concentrava nas imagens que via na pequena tela, cuidando para realizar seu trabalho ali da melhor maneira possível. 

Ride (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora