9. A penny for your thoughts

131 15 153
                                    

A pior parte do trabalho de Yoongi era lidar com os papéis. Cuidar de funcionários, correr atrás de fornecedores, fechar contratos e conversar com os contratantes era um parque de diversões se comparado com o transtorno que era tratar de papelada. Não eram os papéis físicos em si, era uma questão de documentação. Ter que avaliar cada contrato, cada licença de funcionamento, cada ordem de pedido, tudo aquilo era um inferno.

A sua sorte era ter encontrado Jungkook, um secretário que, ao contrário dele próprio, parecia amar essa parte do trabalho, talvez até de maneira excessiva. Jungkook demonstrava imenso prazer em ler, demarcar partes, resumir textos e organizar tudo de acordo com datas, origem e finalidade. Para outros assuntos, em especial os que requeriam um tanto de traquejo social, seu secretário não era a melhor escolha, mas isso não se mostrava um problema; esse era um talento natural de Yoongi no campo profissional. A dinâmica entre os dois era excelente, porque cada um supria o que faltava no outro. Em circunstâncias mais favoráveis podiam vir a ser sócios. Yoongi, pelo menos, pensava nisso de vez em quando. E estava pensando nisso agora, vendo Jungkook de pé ao seu lado, resumindo cada documento e pondo em montinhos distintos sobre a mesa.

— Perdão, Jungkook... — interrompeu em dado momento. — Eu acho que não entendi essa última parte.

— Tudo bem, senhor. Eu explico de novo.

Jungkook reiniciou sua explicação com todo o cuidado e paciência do mundo, e Yoongi ficou o observando, ainda encantado com o seu jeito, mas cuidando para não se dispersar outra vez e acabar forçando o secretário a ter que se repetir outra vez. Prestou muita atenção no que lhe era repassado, e mesmo deixando o pensamento se desviar de um lado ou de outro, quando Jungkook terminou seu relatório oral, tinha compreendido tudo.

— Obrigado, Jungkook. — Pegou uma das pilhas, a que estava mais próxima. — Assim que eu tiver assinado tudo, eu lhe chamo. — Deu uma olhada desanimada para o pequeno bolo de papel em suas mãos. — O que seria de mim sem você?

— Que é isso, senhor Min. Eu só faço meu trabalho.

Jungkook respondeu um tanto baixo, fazendo Yoongi levantar o rosto e o encarar brevemente. Seu secretário parecia tímido, com as bochechas um tantinho coradas e um sorriso que classificaria como meigo no rosto. Ainda não tinha notado, mas Jungkook tinha os dentes da frente um pouco maiores que o padrão, o que deixava seu sorriso único e bonito.

— Eu vou voltar pra minha mesa, senhor. Com licença.

Jungkook fez uma reverência e saiu da sala do patrão, deixando Yoongi com um pequeno sorriso para trás. Yoongi, ainda sorrindo, foi pegando cada folha de papel e espalhando rubricas e assinaturas depois de fazer uma leitura dinâmica. O certo seria ler tudo com cautela, mas tinha tão pouca paciência que preferia uma leitura rápida com foco em palavras-chave. Ademais, confiava em Jungkook, ele era um bom funcionário, um sujeito muito correto. Se estava correto, era o tempo que lhe diria.

Muitas rubricas e assinaturas depois, Yoongi passou para a outra parte do trabalho chato, e quando terminou viu que faltava pouco para a hora do almoço. Aproveitou os minutos para dar uma olhada em algumas coisas pessoais, incluindo a conta que tinha aberto para guardar o dinheiro que Seokjin lhe dava como pagamento de aluguel. Riu ao ver que o valor era pouco, mas não pela quantia, e sim por achar de certa forma fofo que seu melhor amigo se visse na obrigação de lhe pagar, ainda que tão pouquinho. Será que Seokjin tinha consciência de quanto se gastava para manter um apartamento como o que tinha?

Seokjin sempre tinha sido um sonhador. Não no sentido de ter grandes ambições, ou ser extremamente otimista, mas de uma forma um tanto racional, se pudesse classificar assim. Seu amigo era muito aberto e tranquilo, amante das coisas simples e do dia-a-dia, e era essa característica que o fazia ser bom em sonhar. Seokjin não sonhava com coisas impossíveis, com o que não podia ter. Ele sonhava com a paz, com estar satisfeito. Não queria competir com ninguém, não queria chegar longe, só queria seu espaço corretinho, bem sossegado.

Ride (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora