2. Silver lining

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Alguns dias já tinham passado, e as coisas no apartamento de Min Yoongi não tinham mudado tanto. Seokjin ainda acordava cedo todas as manhãs, forjando um otimismo que a cada mudança no calendário ia ficando menor. Yoongi ainda o consolava, afirmando que tais situações eram comuns, que não havia com o que se preocupar. Por fim, Hoseok ainda observava a tudo num misto de preocupação, pena e irritação, dependendo do ponto de vista que ele adotasse no momento.

Por alguns dias as coisas pareciam que iam, de fato, se modificar, porém tinha sido mais um dos inúmeros alarmes falsos. O mais velho dos três tinha arrumado uma vaga como estoquista numa venda de estivas não tão distante do apartamento. O horário era um tanto irregular, precisava chegar às vinte e duas horas e sair às cinco da manhã, mas para o rapaz esse tipo de circunstância não representava o menor problema. Ademais, a proximidade se mostrava uma grande sorte, posto que, assim, não precisaria sequer gastar com transporte. O senhor que o contratara, um velhinho ranzinza, mas bastante justo, havia lhe prometido que, dependendo da avaliação que recebesse no fim de duas semanas, poderia ser incorporado ao quadro de funcionários do pequeno lugar. No entanto, mal uma das semanas se passou e o filho do sujeito acabou se intrometendo no acerto, impedindo que a palavra do senhor fosse cumprida, o que ocasionou, no fim, a dispensa precoce de Seokjin.

A sorte era que tinha conseguido fazer alguns de seus serviços avulsos, e com isso, pôde arcar com um tanto da despesa de aluguel de Yoongi. Foi necessário muita conversa e persuasão por parte do mais velho, e também uma breve perda de paciência de Hoseok para que o promotor de eventos recebesse as notas das mãos do melhor amigo - as quais decidiu que iria guardar em vez de usar para pagar o tão referenciado aluguel, mas mantendo tal decisão em segredo. Em algum momento Seokjin poderia precisar daquele valor — tão pequeno —, e não era como se ele, Yoongi, necessitasse de fato ter auxílio para pagar todas as despesas dos três moradores.

Não era rico, mas sempre teve a cabeça no lugar, bastante focada em seus objetivos. Sabia o que queria desde muito novo e se preparou para tudo. Além disso, os três homens não eram do tipo esbanjadores, não acumulavam gastos extraordinários. Hoseok, entretanto, fazia questão de contribuir com as despesas, e Seokjin ficava naquele eterno martírio, se culpando por algo que não era culpa sua, e se cobrando mais do que o considerado saudável. Nenhum dos dois tinha disposição para abrir a mente e entender que Yoongi estaria bem sem que ambos fizessem tanta questão de serem participativos.

Naquele dia em questão, posterior ao que o amigo tinha lhe dado quase a totalidade do dinheiro conquistado com seus pequenos serviços, Yoongi abria uma conta poupança para que pudesse depositar os valores dados por Seokjin até que este encontrasse um emprego fixo do qual poderia se orgulhar. A conta ficaria ali, sem que ninguém soubesse dela, e se Seokjin nunca precisasse dos valores, ao menos teria poupado mais um tanto de dinheiro — algo que não costuma ser demais em nenhuma ocasião. Em seu escritório não tão grande e finamente arrumado, o rapaz ia digitando as informações solicitadas pelo website do banco escolhido, numa velocidade manual incrível, sem nem olhar para a tela do computador durante a atividade.

Algumas digitações e uns tantos cliques depois, a sua nova conta poupança estava aberta, pronta para receber os primeiros depósitos. Satisfeito, pegou na carteira as notas que o amigo tinha lhe entregado, as recontando, balançando a cabeça em sinal negativo ao conferir o estado em que algumas cédulas se encontravam. Pelas marcas de dobraduras e aspereza do papel, não era difícil deduzir que, em algum período de existência, aquelas notas deveriam ter feito parte de um bolo de grana de algum bêbado, desses que amontoam tudo nos bolsos sem tomar o menor cuidado. Não gostava nem de pensar em que tipo de buraco Seokjin tinha ido oferecer seus préstimos para receber um dinheiro em tão questionável estado de conservação. Após verificar o valor total, puxou um envelope e colocou tudo dentro, o fechando e anotando no dorso do mesmo as informações necessárias para que pudesse ser feita a transação bancária. Com tudo pronto chamou seu secretário, um jovem muito eficiente e prestativo que nunca dava sinais de ter vida própria, uma vez que sempre estava liberado para horas extras e atividades avulsas.

Ride (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora