ALUA

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RUGGERO

Não sou um homem que gosta de violência, tampouco fui criado nesse meio. Meu pai sempre repudiou qualquer ato grosseiro, mesmo que fosse apenas um tom de voz mais elevado. Aprendi com ele que não precisamos gritar para sermos ouvidos ou respeitados, mas sim falar com firmeza e ter certeza do que diz.

Talvez eu tenha trilhado esse aprendizado até tomar posse da empresa e após isso busquei me manter nesse pensamento, muito embora tenha deixado passar a impressão de frieza e soberba – algo que ele ficaria magoado, caso ainda estivesse vivo.

Mas quando a Karol apareceu no meu caminho e trouxe consigo um olhar fresco sobre a vida foi como se eu até pudesse ouvir meu pai reafirmando dia após dia que independente de qualquer coisa no mundo, somos todos iguais e mortais. Ninguém é superior a ninguém, muito menos super-heróis, portanto, não caberia a mim achar que poderia resolver todos os problemas do mundo e consertar tudo – e, ainda por cima, manter a empresa de pé.

Eu precisava delegar tarefas, mas não como um general. Há um abismo de diferença entre um líder e um chefe.
E eu não queria mais ser o 'chefe', eu queria ser o líder de uma boa equipe e fazer com que trabalhássemos como uma família, tal qual no dia em que gravamos o comercial no calçadão.

E isso foi só uma das coisas que ela despertou em mim.

A Karol fez um reboliço danado na minha vida e às vezes acho que ela se tornou a espinha dorsal da Seduzione, bem como a minha própria.

Aquela mulher corre no meu sangue.

Eu soube que não me via mais sem ela no dia em que estávamos no meu carro e aquela música começou a tocar no rádio.
Só de imaginá-la cantando e quase ficando sem ar para alcançar o ápice do agudo da cantora, eu quase não posso conter o riso.

Se eu fechar os olhos ainda posso ver toda a cena.

Mas em contrapartida eu não fazia idéia do que ela sentia. Karol era um mistério para mim. Ela tinha uma barreira em volta de si que ao mesmo pé em que a deixava vulnerável, tornava-a a mulher mais forte que já conheci.

Eu não era digno dela, ainda não sou.

E a minha cabeça cheia de pensamentos medrosos e aflitos me empurraram para um abismo onde eu me agarrei com unhas e dentes ao passado, pensando que ali tinha alguma resposta para a merda dos meus problemas.

Mas não tinha. Nunca tem.

O passado não é um livro de referências, ele é só um rascunho que se apaga dia após dia e você já não é capaz de refazer, pois sequer enxerga o que existiu ali antes.

E foi aí que eu a perdi.

Ou talvez eu nunca sequer tivesse tido a chance de lutar por ela.

A Karol era de mais para mim. Ela ainda é.

E tudo o que eu fizer, quantas vezes eu implorar, mesmo que eu morresse dia após dia para tentar trazê-la para mim, ainda seria pouco.
Nada nunca será o suficiente.

Eu quebrei o coração de uma pessoa incrível porque sou uma pessoa confusa.

E pessoas confusas não merecem pessoas incríveis.

Mas, por Deus, como eu poderia me casar com a Laura? Como eu podia dizer "sim" para ela se o meu coração já nem bate mais no meu peito? Tudo que há em mim nem me pertence. E mesmo que a Karol nunca me queira, carregarei comigo uma parte sua e daqui ninguém irá me roubar.

E talvez eu devesse ter saído de seu caminho, talvez eu devesse ter sido homem o suficiente para deixá-la livre de mim, no entanto fui atrás dela, descobri sobre o que fizeram e não pude respirar.

Trago Seu Amor em 7 DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora