OKVAMOSLÁ

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Acordo no dia seguinte com uma preguiça horrorosa e desejo não ter que me levantar.

O problema é que assim que me viro para o outro lado, puxando o lençol até as orelhas, o alarme do meu celular começa a tocar feito maluco, então estico o braço e o alcanço no chão – foi lá que deixei na noite interior depois de passar horas fuçando em sites de relacionamento, buscando ajuda.

Desligo o despertador e me cubro novamente, fechando os olhos com força para retomar ao sonho maravilhoso que estava tendo.
Nesse mundo dos sonhos eu me casava, era aplaudida por toda a sociedade carioca, ganhava lindos presentes e Igor me prometia uma lua de mel cheia de mimos e viagens maravilhosas.

Era perfeito.

Quando já estou sendo levada pelos braços do deus do sono, um alarme soa no fundo da minha mente e arregalo os olhos.
A imagem carrancuda de Ruggero me esperando na frente da lanchonete me desperta totalmente. Que droga!

Afasto os lençóis e sacudo as pernas em pura birra.

Quero gritar contra essa maré que me empurra a ser útil mesmo que esteja toda quebrada por dentro.

Odeio isso. Odeio mesmo.

Respiro fundo. Não tem jeito. Não posso mais voltar atrás.

Esforço meu corpo a se sentar, então estreito os olhos, porque uma das telhas está quebrada e sempre entra um raio de sol atrevido pela brecha, e aquilo é tão forte que quase queima a minha retina. O que me faz pensar que preciso consertar aquele rombo, porque no outro dia quase alagou o quarto quando choveu.

Grunho por entre os dentes.

Meu tronco parece flácido e fico ali, toda torta, olhando para o travesseiro.

Mais cinco minutos! Só cinco minutos!

─ Ah mas que inferno! ─ Resmungo para o celular que começa a berrar de novo. Pego o aparelho entre murmúrios de raiva, mas logo percebo que não é o despertador tocando novamente, mas sim uma ligação.

UMA LIGAÇÃO DO IGOR!

Ah minha caceta!

Derrubo o celular na cama como se estivesse pegando fogo e fico de pé num salto.

Sacudo a mão como se afastasse um Igor imaginário, tentando tirá-lo do meu caminho.

Desliga! Desliga agora, seu traidor idiota! Ora, pare de insistir!

Como minhas ordens mentais não funcionam, passo as mãos pelos cabelos de modo automático, talvez quase apaziguador, porque meus nervos estão por um fio de romperem totalmente.

Ranjo os dentes.

Ele continua ligando...

Num ato impensado atendo a porcaria da ligação, mas não digo nada, fico só roendo a unha do dedão, acabando com o resto do esmalte que ainda tinha ali.

─ Karol? Karol, eu sei que está me ouvindo. Que loucura foi aquela? Como pôde fazer aquilo com o meu carro? Você enlouqueceu, por acaso?

Desejo gritar com ele, mas só me encolho dentro de mim mesma.

Sua voz apesar de irritada ainda é capaz de acordar as borboletas do meu estômago. Fico pensando em seu tom azedume, só que sou fraca o suficiente para implorar internamente que volte atrás, que queira ficar comigo de novo.

Sou tão idiota!

─ Você não vai dizer nada? Sabia que quase liguei para a polícia e entreguei as imagens das câmeras de segurança do estacionamento? Sim, quase fiz isso. Mas... ─ Ele respira fundo e o imagino passando as mãos pelos cabelos louros, depois se sentando em sua pomposa cadeira. Então Igor retoma, ligeiramente mais calmo: ─ Porque fez aquilo? Você nunca foi assim. Sempre admirei a sua capacidade em ser podada, discreta, centrada e recatada. O que deu na sua cabeça agora?

Trago Seu Amor em 7 DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora