QUASEVERDADE

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Subitamente começo a sentir uma pontada na lateral da barriga e me levanto.

Ruggero parece estar perto demais e isso me deixa desconcertada, porque foi ficando próximos dessa maneira que a coisa toda aconteceu na noite anterior, e se íamos mesmo falar sobre aquilo era melhor ter uma distância saudável entre nós.

─ Sendo bem sincera eu não acredito que tenhamos nada para conversar sobre tudo aquilo, Ruggero. Eu nem me lembro direito do que aconteceu.

Mexo com a pontinha do dedo do pé na lateral do tapete e entrelaço as mãos atrás das costas.

─ Realmente não se lembra dos detalhes?

─ Você se lembra?

Ruggero pigarreia e se apruma, depois ajeita a gravata que parece bem apertada.

─ Nós bebemos bastante.

Assinto com sutileza tentando entender aquela resposta.

Ele se lembra ou não? Quem estava mais bêbado? Era difícil saber...

Mas eu não ia dar o meu braço a torcer.

─ Sabe o que eu acho sobre tudo isso? Acho que não devíamos perder tempo pensando sobre essa bobeira. É sério, pessoas bêbadas fazem coisas idiotas o tempo inteiro, mas não significa nada. É só uma... besteira, sabe como é? Não importa.

Ele se levanta e seus olhos de chocolate amargo estão dolorosamente pousados em mim.

Consigo notar que Ruggero aparenta estar em um impasse.

─ Então pra você está tudo bem? Realmente não significou nada?

Jogo as mãos para cima e abro um largo sorriso, finalmente respirando de alívio porque não perdi a minha chance de ir às Maldivas e, de quebra, aparentemente tudo ia ficar bem.

Sento-me no braço do sofá e dou de ombros.

─ Estava preocupado com o que eu ia pensar? Qual é, relaxa. Eu já...fiquei com...outros caras. Sabe? Essa coisa de bêbado e tal, a gente acaba beijando sem nem se dar conta. Acontece. E, sinceramente, eu levo numa boa, procuro nem me lembrar.

Não que eu realmente tenha feito isso alguma vez, mas era melhor que ele pensasse que sim.

Seus ombros parecem relaxar, mas sua atenção ainda é toda minha.

─ Eu não sabia como você iria reagir. De verdade, fiquei com receio de que me abandonasse.

─ Abandonasse?

─ Sim. O nosso acordo. Eu quis dizer que pensei que você abandonaria o nosso acordo.

Balanço a cabeça.

─ Claro, o acordo. Mas, como eu já disse, por mim não tem problema. Já passou.

Eu só teria que explicar isso para a minha cabeça, mas uma hora ou outra ela teria que entender que bom ou ruim tudo isso não passou de uma noite esquisita onde nós dois estávamos totalmente fora de órbita, fazendo coisas que jamais faríamos em outras circunstâncias.

─ De todo modo, entenderei se não confiar mais em mim.

Meu cenho franze automaticamente e com tanta força que a dor de cabeça aumenta.

─ Quê? Não. Quero dizer, você não beijou sozinho, não é? Eu te beijei também e... E naquele momento eu... nós dois, os dois, quiseram aquilo. Então... Foi comum acordo. É sério, para de pensar sobre isso, Ruggero.

Ele esboça um sorriso fraco, porém sincero e volta a se sentar.

─ Acho que nunca tive uma noite tão intensa, sabia? O dia de ontem valeu por todos os dias que já vivi nessa vida.

Trago Seu Amor em 7 DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora