O tilintar das correntes anunciava a passagem da caravana. Era a comitiva de um nobre que rumava para uma cidade costeira, com suas carruagens e cavalos aos montes também se arrastavam seus muitos escravos, puxados pelos fios metálicos da servidão. Um deles em especial ficava à frente, caminhando mais próximo a carruagem do senhor. Era um escravo forte, alto, meio amedrontador de aparência, com cabelos castanhos sujos e uma barba mal feita.
O robusto servo observa de longe os muros de uma cidade pequena se aproximando. Já estava escurecendo, provavelmente a comitiva iria montar acampamento aqui durante a noite, o escravo sustentava esperanças fracas de que seu senhor resolvesse ficar no acampamento durante a noite. O abrir da porta da carruagem acaba com as esperanças dele.
Um homem de meia idade, gordo e pomposo sai de dentro do transporte, suas vestes finas e seu rosto rosado chamavam bastante atenção. O nobre faz um sinal para um de seus guardas que solta uma das correntes da caravana e a entrega para seu senhor. A outra ponta do objeto estava presa a uma coleira metálica fechada em volta do pescoço do grande escravo, um cristal translúcido enfeitava-a na frente. Como se estivesse levando um animal o nobre começa a caminhar, puxando seu servo junto.
Não era como se fosse um animal de estimação, esse escravo era mais como um cão de guarda. Em toda cidade que iam o nobre e seus soldados inúteis farreavam a noite toda, e quem tinha que fazer a segurança era ele, mesmo que tivesse que ficar alerta durante a noite e caminhar de dia. O escravo até aguenta bem o serviço, ele é forte, resistente, mas muitos outros dos servos desse mesmo senhor eram jovens ou velhos demais, não suportava ver outros monstros sendo tratados dessa forma. Ele tentou protestar uma vez, não deu muito certo, aquele cristal em sua coleira não é um mero adorno, se trata de uma pedra encantada que, quando ativa, ataca o sistema nervoso de quem a estiver usando, causando uma dor insuportável. Da últina vez que a usaram para contê-lo ele ficou inconsiente por umas duas semanas e seus companheiros foram castigados. Era uma vida cruel para os montros aqui nesse continente, ainda sentia falta de seu lar, mas sabia que jamais poderia voltar.
Ele é puxado pelo homem rico até o meio da cidade, lá o grupo estava buscando algum lugar para encher a cara.
...
Finalmente a noite caiu e o viajante pôde retirar seu capuz. Seu rosto pálido e cabelo despenteado poderiam mais uma vez contemplar a lua e as estrelas. Ele sempre quis saber como era o céu de dia, consegue partir rochas com as mãos nuas mas não poderia ficar sequer cinco minutos na presença da luz do sol sem virar uma pilha de cinzas. Será que olhar uma bola de fogo subindo no horizonte é tão legal assim?
Focando no agora, ele deveria encontrar uma rota para Aquamarine, uma cidade costeira de território humano. Apesar de ser uma cidade onde a marinha tem uma presença forte, a maioria das frotas foi enviada para ajudar na guerra dos reinos submarinos. Óbviamente um dos lados fez uma aliança que benaficia a humanidade em troca de ajuda. Muitos reinos grandes faziam isso.
O viajante puxa do bolso sua última sacola de dinheiro, precisava gastar com sabedoria. Passa por um bar, ele nunca foi muito de beber, ao caminhar mais um pouco se depara com uma confeitaria ainda aberta. Uma pintura de um bolo extremamente convidativo enfeitava a porta, só de imaginar a cobertura de chantilly com os morangos por cima sua boca enche de água, bendito seja seu vício em açúcar. Doces são um de seus maiores pontos fracos, bolos principalmente, o que ele não daria por uma baunilha ou um brigadeiro bem feitos!
Enquanto contava as moedas pode ouvir passos largos se aproximando, apesar de espaçados eram leves, quase imperceptíveis até para sua audição aprimorada. Mas somente ao desviar o olhar ele finalmente contemplou outra das suas fraquezas mais mortais. Sapatos roxos vibrantes sendo calçados por uma perna perfeitamente definida que saía pela fenda do longo vestido de ceda finíssima, vestido esse que adornava curvas estonteantes e um cabelo prateado escorrido longo o suficiente para bater abaixo da cintura. Os olhos cintilantes que poderiam fatiar qualquer um com uma encarada, os lábios finos com o mais leve dos sorrisos. As orelhas pontudas charmosas e a pele escura como a noite deixavam claro que se tratava de uma Elfa negra. A visão da moça o hipnotizou por alguns instantes, logo recobrou a consciência quando a deslumbrante não-humana adentrou nas portas de um salão do qual emanava uma música ruim e cheiro de bebida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caçadores Sobrenaturais - A Caçada Começa
FantasyO mundo está dividido entre monstros e humanos a mais tempo do que é possível lembrar, e para proteger a humanidade da voracidade incontrolável das criaturas nasceu a Ordem dos Caçadores. Anos após o fim de uma grande guerra surge um grupo extremist...