O balburdiar do comércio matinal começara cedo na cidade. O sol se ergueu no horizonte a menos de uma hora, a essa altura os comerciantes já estavam terminando de arrumar as barracas. O puxar de uma madeira aqui, o arrastar de uma caixa ali, a mistura bela e exótica de sons criava quase uma melodia matinal. O cheiro já evidenciava, assim como a fina fumaça saindo do topo de um forno a lenha, a padaria estava agora aberta. O odor magnífico dos alimentos fermentados se alastrava pela rua toda, carregado pela brisa fresca. Foi mais do que o suficiente para despertar o apetite do menino, acordando-o de seu sono. Espreguiçando-se sobre os trapos os quais haviam lhe dado calor de noite, o garoto boceja enquanto esfrega os olhos cuja visão ainda estava embaçada. Os finos raios de sol permeavam dentre as frestas das tábuas velhas daquela carcaça de bote abandonada. Sua casa provisória não era muito luxuosa, mas pelo menos não era o chão, a lama ou a chuva do lado de fora. Ele observa seu amigo ainda adormecido na outra extremidade do abrigo.
- Ei! - chama ele - Cara... Aah... Bora catar um rango ali na... Ah, deixa que eu vou sozinho, você sempre arruma briga mesmo!
O rapaz rasteja para fora do abrigo improvisado, agora pisando na grama gelada da noite com seus pés desnudos. Uma característica que chamava a atenção pro garoto eram seus cabelos pálidos como o inverno, eram opacos em um tom de cinza beirando o branco. Ele não era nenhum idoso, nem sofreu nenhum acidente de percurso na vida, ele era assim desde que nasceu, até onde sabia tinha herdado esse traço de sua mãe. A pele clara, quase pálida, somada a essa cabeleira exótica, faziam ele parecer que estava sem vida.
Sem pensar muito o garoto se dirige a rua principal, quase carregado pelo cheiro dos pães frescos. Ao chegar na frente da padaria já vai erguendo a mão para agarrar um pão recém-saído do forno, mas é impedido, pelo padeiro e também dono da loja.
- Você de novo moleque?! - fala o Senhor Hugo, o padeiro - Dessa vez você tem como pagar?
O garoto enfia a mão nos bolsos e de lá retira seus pertences.
- Eu tenho uns fiapos e um botão... - o padeiro o encara com a sombrancelha arqueada - Qual é, é um baita de um botão bonito! Acho que vale uns três pães ein... o mercado de botões tá em alta recentemente...
- Meu filho, se não tem como pagar então eu não tenho como ajudar! - diz ele - Os impostos aumentaram, meus pães não estão conseguindo valer sequer um cripto! E você ainda quer me pagar com um botão?!
- Era de um terno, eu acho... - sussurra o jovem - Pode usar pra consertar uma camisa que arrebentou, você deve ter várias...
- O que disse aí? - o padeiro distraído com o forno não pode ouvir.
- Nada não! - disfarça.
- Garoto, se estiver precisando muito, pode me ajudar carregando uns sacos de farinha lá dos fundos aqui pra frente pra eu usar, eu te pago com pães!
- É pra já chefia! - o rapaz prontamente corre até os fundos da loja para completar a tarefa, seu café da manhã estava em jogo, falhar não era uma opção.
Pouco tempo depois ele reaparece com um saco de farinha que devia ter uns vinte e cinco quilos nos ombros. Sem o menor equilíbrio o menino cambaleava devido o peso do pacote. Em suas voltas o garoto anda, sem perceber, em direção ao forno, mas antes de queimar suas costas nas pedras quentes, alguém toma a farinha de suas mãos. Outro jovem aparece, mais alto, com a pele em um tom bronzeado e o cabelo raspado bem curto. Os olhos alaranjados do menino mais alto estavam vermelhos de sono.
- Tão cedo e você já quase fazendo merda Henry! - diz o garoto com o saco de farinha nos ombros.
- Mano! - exclama o menor - Que bom que acordou! Me dá uma mão pra trazer essas farinhas até aqui pra gente descolar um café da manhã!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caçadores Sobrenaturais - A Caçada Começa
FantasíaO mundo está dividido entre monstros e humanos a mais tempo do que é possível lembrar, e para proteger a humanidade da voracidade incontrolável das criaturas nasceu a Ordem dos Caçadores. Anos após o fim de uma grande guerra surge um grupo extremist...