Capítulo 15 - O Mestre da Horda

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Gritos estridentes ressoam das gargantas dos corvos assustados. Amedrontados com o farfalhar das folhas e os tremores do tronco. A casca ferida do arvoredo resmungava com cada golpe da lâmina cega daquela espada de sucata. O metal, desgastado e retorcido, cansado de ser o instrumento de descarga de toda aquele ódio e frustração.

Vergonha, desonra, arrependimento, esses pensamentos sufocavam o espírito de um jovem Kaiorh traumatizado. Ele passava os dias daquele jeito, treinando, lutando contra as assombrações as quais nunca venceria. O couro de um monstro é forte, então, se ele conseguisse quebrar a árvore em um único golpe, talvez pudesse fazer o mesmo com o pescoço daquela coisa que matou seus amigos.

Ele foi expulso do exército imperial por deserção, só mais um motivo para se envergonhar. Mas isso não importava mais, tudo o que importa é ele estar pronto para voltar lá o mais rápido possível.

De longe um homem observava, encostado sobre uma mureta dos limites da cidade. Se não fosse pela luz das lamparinas ele mal seria notado no meio da noite, sua camuflagem composta por um conjunto de roupas sombrias: um sobretudo e um chapéu negros como a mais profunda treva. O moleque chamou sua atenção, a determinação do garoto em escalpelar a  natureza era intrigante, sem falar na falta de habilidade com a qual ele usava aquela espada, que horror! Claramente era um sujeito perturbado e problemático, mas em tempos de guerra quem não é?!

- Senhor! - chama um homem, trajado em uniforme e chapéu marrom, era um caçador.

- Fala... - ordena o oficial de patente superior.

- Em três dias somente se voluntariaram apenas cinco recrutas senhor! - prossegue o mensageiro - Os outros mestres votaram para avançarmos para o alistamento na próxima vila, mas precisam do seu voto para encerrar!

- Diga a eles que eu ficarei mais dois dias! - profere.

- Então o voto é para fica...

- Você não entendeu... EU vou ficar, os outros devem prosseguir com o recrutamento! - completa - Tenho que resolver algumas coisas.

...

Kaiorh sai de dentro da fenda rochosa carregando o último corpo, o seu velho amigo. Ele demorou quase dois dias mas conseguiu desbravar a rede de cavernas até achar cada um dos membros de seu antigo batalhão, para que ao menos tivessem um enterro digno, para honrá-los mesmo que em morte. Passou mais metade do dia cavando as covas, uma para cada. Acabou tão exausto que adormeceu entre a lama dos buracos ao seu redor.

Algumas horas depois desperta devido a um barulho irritante, como algum animal se movendo ali perto. A fonte do estranho som era um garoto, pequeno e sujo, vestindo trapos marrons. Possuía olhos animalescos e pequenas garras em suas mãos, era um monstro. Tal qual um cão a criança roía um osso, tentando achar algum resquício de carne para encher seu pequeno estômago.

O jovem soldado estremece, esse pequeno monstrinho o fazia lembrar daquele dia horrível. O pior: o miserável estava degustando um de seus companheiros. Será que os monstros não se cansam de estragar a vida de pessoas boas?! Matar e destruir é tudo o que esses desgraçados conseguem fazer?! Sem controle de seus próprios nervos o jovem avançou contra o garoto, berrando feito louco.

Kaiorh puxa sua espada e persegue a criatura necrófaga até conseguir o encurralar contra um barranco. O humano bufava e rangia os dentes, a mercê da fúria ardente que inflamava seu coração. Desesperada a criança faz uma falha tentativa de escalar a rocha íngreme, somente para cair de volta. Os olhos arregalados e a respiração eufórica do pequeno monstro só demonstrava o pânico a dominar sua mente naquele momento. Em um instinto de defesa colocou a cabeça entre as pernas e se encolheu em posição fetal, proferindo algum tipo de oração em uma língua estranha.

Caçadores Sobrenaturais - A Caçada ComeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora