Capítulo 5 - O Viajante

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Manchando a escuridão da noite um sinuoso fio de fumaça se erguia de um campo. A luz alaranjada da fogueira logo abaixo aquecia as frias mãos do viajante. Ao seu lado um cantil de água era tudo o que tinha para passar a noite, era o suficiente. O esguio homem de cabelos negros bagunçados deita-se sobre a grama fria do campo, contemplando o céu estrelado. Noites calmas como essa eram raras em sua rotina, aproveitar bem era quase que uma obrigação. Respirando fundo e em seguida soltando o ar fresco de seus pulmões, o cheiro do capim a alguns metros dali preencheu suas narinas. Não podia deixar de pensar em sua família, a dor da saudade o perturbava, mas a preocupação o afligia ainda mais. Ele estava em uma busca, talvez inútil, mas precisava chegar até o fim. Por tudo o que acreditava enfrentar a natureza e a fome não era nada.

O viajante espreguiça seu corpo, estalando as pontas de seus dedos e soltando um grande bocejo. Mesmo com sua convicção, o que ele não daria por um pedacinho de bolo agora...

Um som.

Ao longe o som estalante do galopar de um cavalo, não, uns três ou quatro. Se tinha algo de que podia se gabar era sua audição, e em um campo aberto era ainda mais fácil detectar o que acontecia ao seu redor. As batidas dos cascos seguiam para o oeste, estavam vindo do sul a pelo menos uns quinhentos metros dali. Eram equinos fortes e vigorosos, devido ao cheiro que aos poucos aumentava.
Devia haver alguma cidade na direção em que estavam indo, afinal a julgar pelos cavalos, eram soldados imperiais, ou até membros da ordem dos caçadores. Não. Um caçador não deixa rastros, ainda mais em território neutro.

De qualquer modo, ele precisava de informação, e água não iria encher sua barriga por muito tempo. Não se demorou muito. Pegou suas poucas coisas apagou as chamas com os pés e começou a seguir o som. Mais uma noite de caminhada, nada fora do normal.

...

Chegando na cidade as luzes dos candelabros refletiam nos tecidos das mais diversas cores. Como uma cidade de território neutro o lugar abrigava muitas espécies, por isso o comércio noturno era tão movimentado. Andando pela rua, cercado por pessoas de todos os lados, o viajante procura algo que o ajude em sua busca. Por mais que a cidade não estivesse sob jurisdição humana o brilho prateado das armaduras dos soldados ainda reluzia sobre a multidão, montados em seus cavalos, acima do resto das outras pessoas, somente a aura que emanavam fazia com que os demais se sentissem oprimidos. Apesar de toda a pompa dos soldados eles não eram a arma mais eficiente da humanidade. A Ordem dos Caçadores, esses sim eram um problema, quando um chapéu marrom estava a vista era sinal de que algo ruim estava para acontecer, geralmente para algum monstro. Caçadores eram mais experientes, certamente recebiam um treinamento mais rigoroso do que os militares imperiais.

Um grupo se destaca entre a multidão, pelo menos nove pessoas juntas, todas eram jovens, adolescentes, balburdiavam e conversavam entre si. A presença de um símbolo estranho na ombreira de um deles foi o que chamou a atenção do viajante, um símbolo que ele tem começado a ver com mais frequência em algumas cidades de fora dos domínios da humanidade. Focar no que estavam dizendo em meio às vozes do comércio fervente era uma tarefa difícil, ele precisava se aproximar mais. O grupo se move para dentro de um estabelecimento que, pelo que sabia, não devia receber menores. Era a oportunidade perfeita de bisbilhotar a conversa alheia. O viajante se esgueira pela multidão até alcançar a porta do lugar. Ao adentrar o cheiro de álcool o acerta como se tivesse dado de cara com uma parede. Muitas cadeiras vazias, muita gente caindo de bêbada. Mas nenhum jovem.

"Onde vocês foram?", pensa consigo.

Por algum motivo o atendente do bar não estava atrás do balcão. O grupo devia ter entrado até os fundos do lugar. Uma reunião secreta, ainda bem que nosso viajante é um penetra profissional. Saltando por cima do balcão ele atravessa a porta para a cozinha. Ninguém, como suspeitava. Um som vindo da porta dos fundos, estavam conversando. Indo até perto da porta com cuidado para não fazer barulho algum ele pode olhar por uma fresta na madeira.

Caçadores Sobrenaturais - A Caçada ComeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora