Gélidas, as gotas da água marítima se lançavam pelo ar conforme o bater das ondas contra as rochas. Ao longe um bando de pássaros sobrevoa a imensidão fluida em busca de comida, os grasnados deles alcançavam o rangente porto. Sob essa sinfonia caótica o vento do oceano almejava a cidade, aos poucos trazendo uma estranha embarcação de velas desgastadas. O veículo esbanjava uma variedade de corais cobrindo o casco em ambas as laterais, na dianteira haviam estruturas aparentemente esculpidas em calcário que simulavam o focinho de um tubarão.
O navio pirata estava rondando a cidade a algumas horas, mas sem se aproximar muito, provavelmente estavam averiguado se é seguro ancorar. Os oficiais monstruosos estavam discutindo o motivo dos corsários terem chegado um dia antes do combinado. Enquanto isso Julian se esforçava para se manter nadando para poder respirar, por conselho do maldito moleque de roupa de couro sua gaiola foi parcialmente imersa na água, somente deixando um espaço de menos de trinta centímetros para que pudesse pegar ar, mesmo assim uma ou outra onda o obrigava a prender a respiração. Não era capaz de usar suas chamas, nem mesmo romper a grade de metal, uma vez mais estava impotente. Em contrapartida Henry estava amarrado em uma cadeira que foi posta bem junto à mesa de jantar dos inimigos, na qual acabara de acordar.
Em sua cabeça doía uma ferida que foi devidamente tratada, as cordas estavam amarradas bem firme, imobilizando seus braços, tronco e pernas. Agora ele entendia o motivo de Julian ser desmemoriado, também deve ter tomado uma "voadora perdida" no meio da testa.
- Henry, você acordou! - profere uma voz masculina, um timbre que o garoto conhece bem.
- Luka! - anima-se, mesmo estando em uma situação no mínimo suspeita - Cara a quanto tempo! E aí como vai a vida?
- Ah meu amigo, bastante coisa aconteceu em bem pouco tempo, mas é muito bom te ver de novo, você nunca manda notícias eu achei que tivesse acontecido alguma coisa! - diz o menino de roupas de couro, mais descontraído por estar falando com um amigo e não um superior.
Piscando os olhos rapidamente o garoto de cabelos claros percebe o cenário ao seu redor: uma mesa grande situada no meio de um deque de madeira bem perto da entrada do ancoradouro, no centro do Porto. Duas mulheres discutiam ferozmente do outro lado da mesa, uma era mais alta, tinha marcas azuis e uma cara de doida, Henry acha que já viu ela em algum lugar, a outra era menor, apesar de ainda ser mais alta que ele, possuía uma pele escura como a noite e cabelos prateados como a lua, ela se vestia como se quisesse chamar atenção de qualquer um que olhasse. Pode parecer que o olhar frio e calculista dele rapidamente percebeu todos os detalhes do comportamento desses seus captores, mas Henry sequer sabia que havia sido sequestrado.
- Como veio parar aqui? O que houve com a gangue? Na sua vila só tinha um "pequeno polegar" dizendo que você morreu! - conta o menino, como se estivesse em uma conversa normal - Por que foi embora? Cadê a senhora Misaki?
O brilho no olhar do menino das mechas azuis desaparece, em seu lugar emerge uma expressão de tristeza e rancor.
- Henry, depois que você saiu da cidade um apareceram caçadores por todos os cantos, disseram que estavam fazendo uma operação mas eu tinha certeza de que só foram lá pra levar mais prisioneiros pra subir de patente, eles começaram a inventar ataques de monstros e levar os membros da gangue presos... - explica o mais velho - Eles invadiram a casa da vó, alegaram que ela era uma fugitiva do estado, aí eu interferi, não podia deixar aquela injustiça tomar conta da minha cidade, a luta foi feia, e no final nós acabamos encurralados...
- Eu não sabia dessas coisas, cara você tá precisando de ajuda? - diz Henry, preocupado.
O gângster observa seu amigo ali atônito, avoado sobre o que realmente estava acontecendo, Luka havia esquecido de como a inocência desse moleque era reconfortante. Não conseguiu conter as lágrimas quando se viu obrigado a proferir a próxima frase.
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Caçadores Sobrenaturais - A Caçada Começa
FantasíaO mundo está dividido entre monstros e humanos a mais tempo do que é possível lembrar, e para proteger a humanidade da voracidade incontrolável das criaturas nasceu a Ordem dos Caçadores. Anos após o fim de uma grande guerra surge um grupo extremist...