O Baile: Encontros e Reencontros

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No dia do solstício, Lotte permaneceu apreensiva. Por horas considerou ter feito uma grande burrada, algo que poderia arruinar a amizade com Tamlin e acabar destroçando mais a corte do mesmo. Talvez havia se precipitado em convidar o povo ou, por Deus, convidar os Grão-Senhores das demais cortes.

Ela pensou e pensou durante o dia todo, o que não passou despercebido pelo macho, que também permaneceu silencioso. Ele poderia suportar o desprezo do povo e a solidão de um reino sem súditos, podia e já havia conseguido. Mas ao ver o esforço de Lotte para decorar a mansão, o apoio para que ele ficasse esperançoso e ficasse pronto para assumir seu lugar por direito, as noites perdidas dela ajeitando tudo para celebrar. Isso não, ele não conseguiria suportar a decepção dela. Então por ela, Tamlin fez o que tinha esquecido a muito tempo: rezou. Para a Mãe, para o Caldeirão, para qualquer deus que o ouvisse.

Mas para a surpresa de ambos, às 20h a movimentação começou. Feéricos de todos os tamanhos, de todas as cores e de características diferentes atravessavam as portas do castelo. A jovem e o loiro estavam no hall, no pé da escada recepcionando a todos. Eles não sabiam como se portar diante de Tamlin novamente, hesitando entre serem arrogantes pelo abandono do macho ou se curvarem para ele. Lotte os entendia e, como uma anfitriã - palavras do loiro -, deixou as formalidades de lado, colocando-as bem no fundo de seu ser. Eles serão convidados, não súditos.

O macho concordou instantaneamente. E como prometido, não deixou que ninguém se curvasse perante ele, apertando as mãos como sinal de cumprimento. Apertando as mãos firmemente enquanto olhava intensamente para cada feérico recebido, como um pedido silencioso de desculpas pelos erros do passado. O perdão estava entre eles e o que ambos os lados queriam era apenas a tão desejada paz.

O rosto coberto por uma máscara dourada fazia com que os olhos verdes do macho se destacassem, o brilho no olhar ofuscando qualquer maldade ou rancor do recinto. Ele estava elegante e radiante, acolhendo todos com muita satisfação. A blusa de linho branco e a calça bege fazendo contraste com as botas pretas de cano alto. Lotte insistiu um tanto para que ele vestisse algo mais elegante, afinal poderiam haver visitas importantes. Bobagem, ele disse. O macho esbanjava charme e sorrisos, reconhecendo cada um dos convidados, estendendo coroas feitas de flores que ele e Lotte haviam feito uma noite antes. Centenas para que todos pudessem ganhar, para que todos fossem incluídos.

Entretanto, Lotte não se incomodará de vestir algo melhor do que o vestido azul simples de alças. Tamlin, ao observá-la, insistiu para que o vestido fosse trocado. Eles discutiram um pouco, com o macho insistindo para que ela usasse um vestido feito pelas ninfas da floresta, com cores rosa e roxo e muitas flores. Lotte negara, não queria ser um incômodo e muito menos parecer a senhora da Primaveril. Entretanto, o macho insistiu. Não por ser controlador ou por querer exibi-la para os outros, apenas queria que Lotte, sua boa amiga, fosse a verdadeira anfitriã. Os créditos daquele baile eram exclusivamente dela, portanto ela deveria aproveitar.

Mas a surpresa real foi quando os Grão-Senhores adentraram o recinto. Helion, radiante como o Sol, entrava acompanhado de alguns súditos leais. Thesan vinha ao seu lado, igualmente acompanhado de súditos leais. As roupas muito semelhantes, um dourado com vermelho constratando com a pele negra de ambos. As máscaras cobrindo parte de seus rostos, o que poderia fazer com que fossem apenas convidados comuns. Entretanto, o poder que emanava de ambos fazia com que Lotte quisesse se esconder debaixo das cobertas, como uma garotinha assustada. Tamlin ao seu lado apertou sua mão, a consolando para que não se curvasse perante o poder, para que os reconhecesse como iguais, assim como haviam feito com o povo da Primaveril. Respeito por serem iguais, não por serem os Grão-Senhores.

Portadora da Luz: Entre Dois MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora