Votem e comentem.
Na calada da noite, apenas o vento e as respirações de Azriel e Lotte podiam ser ouvidas. Ambos, motivados pelo sonho assustador da loira e por sua coruja, decidiram explorar o pequeno cais do reino das Rainhas em busca de algo que pudesse juntar aquele quebra-cabeça e ceder qualquer pista para a quebra das muralhas de proteção. O encantador optou por ir durante a noite, pois seria muito estranho um homem com asas enormes durante o dia. Lotte concordou de forma sarcástica, o sorriso brincalhão perguntando se ele podia escondê-las como seu Grão-Senhor.
O local estava frio e úmido, o vento chacoalhando os barcos que estavam ancorados no porto. A Lua estava cheia e bela, iluminando fracamente o recinto. Não havia pessoas durante a noite, quase todo o povoado se conhecia, portanto não tinham tanta desconfiança.
- Onde começamos? - a voz dela sussurrava e era como uma melodia triste nos ouvidos dele. Desde a morte do homem-besta e do sonho vívido, Lotte não parecia ser a mesma. Ele a pegou suando frio e com os olhos sempre em alertas e era como se pudesse ver fumaças saindo por seus ouvidos toda vez que ela ficava calada.
Azriel não conseguia sentir o mesmo peso que sua parceira carregava, tampouco podia entender como era a sensação para ela. Ele desconfiava que Lotte nunca tinha presenciado a morte tão de perto, e em pouco tempo ela havia tido diversas descobertas e fardos colocados em seus ombros mundanos, assim como o dom mitológico que apenas ela conseguiria dominar. Ter visto Azriel matar com tanta frieza e ódio talvez pudesse deixá-la traumatizada e o próprio encantador se culpava por isso.
- Não sei, o que você sente? - eles estavam tão pertos, os couros se tocando no pequeno esconderijo de frente para os barcos.
Os olhos verdes estavam tristes, mas brilhosos e ela ainda tinha a expressão serena e calma. Ele não queria deixar que aquela expressão fosse embora ou trocada pela face amedrontada que Elain havia mostrado em suas visões. Azriel faria o que fosse preciso para não deixar aquela luz se apagar, mesmo que precisasse revelar seu lado assassino para ela.
- Hawk... - a coruja branca já não parecia normal aos olhos do encantador, era tamanha coincidência que seria impossível ignorar. Talvez fosse algum tipo de espírito da floresta Primaveril como nos contos, a mãe de Rhys contava muitas histórias envolvendo forças da natureza e muitas criaturas antigas que a própria Mãe havia criado para proteger sua terra - Algo na água, qualquer coisa...
Eles seguiram a pequena distância até o porto, os passos ecoando na escuridão e suas sombras distorcidas pela Lua marcando o chão de pedra cinzenta. Havia alguns barcos e todos mexiam-se e rangiam conforme as ondas batiam contra seus cascos. O mar não estava agitado, era tão calmo como o encantador e tão deslumbrante com o luar refletindo.
Lotte estava indo mais rápido, algo a puxava e ele poderia dizer que a ansiedade era uma dessas coisas. Ela não queria parecer louca ou paranóica quanto ao sonho, e depois do fracasso com seus poderes, ele sentia que ela estava se esforçando para achar algo que pudesse quebrar as barreiras. A loira ainda era a mulher destemida e corajosa que havia matado uma besta mesmo com a perna machucada e queria provar não ser um fardo para ele.
Azriel soltou uma risada anasalada quando imaginou que todo o esforço podia ser em parte para deixá-lo orgulhoso já que o espião tinha sido seu treinador.
- O que foi? - o cabelo dourado se moveu com o vento quando ela virou o rosto para entender o motivo do riso.
- Nada... - é, ele estava perdido por ela.
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Portadora da Luz: Entre Dois Mundos
FantasíaCharlotte Evans era mais uma garota típica e normal vivendo em sociedade num planeta chamado Terra. Uma jovem tímida, mas tagarela e criativa. Uma alma pura, um coração bom. Ou uma leitora, uma assídua leitora. Sua vida inesperadamente é c...