1. Ficha

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O castelo subterrâneo do clã de vampiros da Transilvânia era cheio de corredores longos tomados pela arquitetura românica. Eles interligam as dezenas de cômodos das mais diversas finalidades. Dos quartos às áreas de treinamento, da biblioteca ao salão de jogos.

Da sala de base de dados à academia. Esse último trajeto era o de Catra no momento.

Tinha acabado de receber uma ficha a mando dos líderes e não contente com sua mais nova missão, corria atrás de Scorpia para pelo menos ter a sensação de que existe alguém ali para ouvi-la desabafar.

Scorpia era definitivamente a pessoa de Catra. Quer dizer, vampira. Tanto faz. Eram bem próximas desde o primeiro momento em que precisou lidar com essa transformação indesejada. Mesmo que a amizade em si tenha dado meio errado nos primeiros anos, com uma certa negação de sua parte por não querer construir qualquer tipo de laço com alguém dali. Sua amiga era geneticamente híbrida, filha de humano com vampiro. E, apesar de ter crescido com mães adotivas humanas, sempre foi preparada para um dia ir para o coletivo em busca do seu direito de ser associada. A coitada só não sabia que, de todos os grupos do mundo, ela pararia em um dos mais decadentes. Infelizmente, era desse clã que seu pai vampiro tinha saído, então era ali que seria aceita sem muitos desafios.

Assim como Catra, Scorpia não concorda com muitos dos métodos antiéticos dos líderes Shadow Weaver e Prime. Contudo, entende que precisa obedecer regras pelo bem de suas mordomias e necessidades. E assim ela vive, enquanto Catra escolhe ser a rebelde que questiona cada decisão e fica dias sem se alimentar como punição. Se não fosse por Scorpia quase sempre contrabandeando bolsas de sangue para ela, com certeza seria uma das centenas de criaturas hibernando em um dos caixões poeirentos dali.

Como quem tem tempo de sobra para saber de toda a rotina centenária de uma vampira previsível demais, Catra encontra Scorpia saindo da academia e acelera o passo já rápido para caminhar ao lado da amiga. E sem nem cumprimentar, deixa sair de uma só vez uma chuva de palavras emboladas na sua voz ansiosa:

— Sendo uma vampira, para qual ser divino que eu devo rezar para conseguir me livrar dessa missão que apareceu para mim hoje lá na sala de dados? — ignorando o pulo assustado da outra ao seu lado, continuou a falar — Porque eu não consigo pensar em outra maneira de conseguir resolver esse problema. Eles querem que eu capture alguém, Scorpia. Eu. Você tem ideia do quanto não quero fazer isso?

— Ei, calma! Eu tô indo para o spa agora e acho que deveria vir comigo para canalizar melhor esse estresse, mulher — a outra criatura, bem mais alta e de ombros largos, tinha uma toalha em volta do pescoço que usou para secar algumas gotas de suor restantes do treino ao mesmo tempo que afastava os fios de seu cabelo branco platinado da testa.

— O que acha de eu tentar passar esse caso para alguém em troca de algum favor? — enquanto caminhavam em passos largos na direção do spa, a mais baixa e franzina especulava esperançosa.

— Tá doida? Se está no seu nome, é porque Shadow Weaver ou Prime escolheu com o Conselho — a voz de Scorpia era receosa, complacente com o desespero da amiga, mas firme na opinião honesta — Sei que é um passo muito difícil, mas tenta pelo menos. Pensa que isso pode ser sua salvação para não ficar constantemente sendo punida.

— Já fiquei uns 30 dias sem beber uma gota de sangue humano e tô aqui acordadíssima. Não tenho medo das punições desses dois babacas — discretamente adotava uma postura confiante.

— Mas ficou 3 dias em um coma raro. Quase que não acorda — a outra não comprou a meia verdade. Encarava a amiga com os olhos cerrados para descredibilizá-la — Para de inventar desculpa, cumpre essa missão para ter pelo menos um pouco da credibilidade do clã. Eu não quero te ver constantemente em situações ruins, pequena, mas você tem que se ajudar.

Atraída Pela NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora