12. Viagem

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Desde muito pequena Adora sabe que certas coisas não têm explicação. Como o motivo pelo qual foi deixada no orfanato que cresceu, ou o porquê de não conseguir deixar ninguém entrar em sua vida de verdade. Enquanto outras coisas poderiam ter mil e uma explicações e, ainda assim, carecerem de qualquer sentido. Como esse momento exato.

Olhava para Catra dentro daquele caixão improvisado de madeira, ensanguentada e pálida, completamente vulnerável. A mesma Catra que a recebeu lá pela primeira vez, tão cheia de vida.

Vida, ou seja lá o que for o conceito de vida para uma vampira. Uma criatura não mais humana, uma daquelas sobre a qual leu histórias durante toda a infância e adolescência.

Estava tão paralisada que seus pulmões precisaram implorar pelo ar que estava esquecendo de respirar. Depois de inalar o tão esperado oxigênio longamente, conseguiu voltar ou pouco a si e fazer as perguntas importantes a quem poderia ajudar a esclarecer pelo menos minimamente toda a situação.

— Scorpia, eu preciso saber a história completa, por favor. O que aconteceu com Catra?

— Completa eu também não sei, — a suposta cientista passou ambas as mãos pelos fios de cabelo e apoiou-se na parede perto de onde estavam — não sei de nada depois que ela te ajudou a fugir e-

— Fugir? Eu? Fugir do quê?

— Como assim? Você não se lembra?

— Não... Eu não faço ideia do que tá falando, — mesmo tentando conter, seu tom de voz entregava o pânico que a dominava — não faço ideia de absolutamente nada que tá acontecendo aqui, pensei que já tivesse deixado isso claro.

Scorpia estava surpresa. Ficou um tempo em silêncio, parecia presa nos pensamentos. Até mesmo balançava a cabeça em negação, talvez debatendo possibilidades dentro da própria mente.

— Você... — a mulher maior ainda divagava enquanto formava a pergunta — Pelo menos sabe quem é ela?

— Sim. Foi com ela que fiz o negócio das peças que levei para Boston — Adora respondeu inocente e mais calma dessa vez, curiosa com a pergunta da outra.

— E foi só isso? — Mais hesitação na pergunta de Scorpia.

— É, foi só isso.

— Então realmente preciso te contar mais do que eu imaginava — balbuciou a maior, mais para si do que para qualquer outra pessoa.

— Então conta — sua voz era tão indecifrável quanto sua expressão, tanto para si quanto para a outra mulher — porque até onde eu sei, ela era herdeira da famíl-

— Não, ela nunca foi herdeira de nada — Scorpia nem deixou Adora terminar — tudo era parte do plano para te atrair até aqui e facilitar o seu sequestro. Catra fazia parte de um clã de vampiros, o mesmo que o meu, e era a missão dela te entregar para eles. Mas ela os traiu para te mandar de volta para casa e te livrar de uma morte cruel na mão daqueles desalmados.

— O que você tá dizendo? — a loira deu dois passos para trás, afastando-se temerosa — Vocês duas faziam parte desse negócio todo e eles são desalmados e vocês não? O que você quer agora? Vai me entregar para eles e terminar o que Catra não terminou? E ela? Por que ela fez isso? Por que não me entregou?

— Se acalma, por favor — Scorpia apontou para o sofá sem sair de onde estava para dar o espaço seguro que Adora parecia exigir — porque vem mais uma história completamente incomum.

Foram algumas horas até Adora conseguir absorver tudo o que ouviu sobre o clã na região da Transilvânia e a captura de pessoas invisíveis para a sociedade, sobre Catra não querer fazer essa missão desde o início e de ter simpatizado demais com ela a ponto de decidir trair o grupo. Muitas questões se formaram antes mesmo de Scorpia terminar de falar, mas ela sempre as respondia com certa paciência e empatia.

Atraída Pela NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora