2. Herdeira

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Autora falando:

E vamos de POV Adora (e finalmente alguma interação entre essas duas)

Boa leitura <3


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Adora checou mais uma vez o número da poltrona antes de se acomodar. Era ali que iria sentar mesmo? Iria viajar de primeira classe na sua primeira negociação profissional?

Tinha espaço sobrando para si, era um assento único que virava cama, tinha milhares de opções de filmes e séries para assistir. O menu tinha pratos assinados por chefs de cozinha, e a cartela de bebidas poderia ser facilmente confundida com a de algum restaurante cinco estrelas.

— Se isso for um sonho, queria parabenizar você, meu subconsciente, pelo realismo e criatividade — a mulher cochichava consigo enquanto aconchegava-se na poltrona cheia de botões para reclinar, massagear e aquecer.

— Chamou, senhorita? — uma voz ecoou da tela em frente à moça.

E assim Adora descobriu que um dos seus luxos era ter contato direto com os comissários de bordo sem nem precisar esperar.

Por algum motivo, o seu microfone estava já ativado. Provavelmente porque nem tudo em sua vida pode ser vitória. Tinha que ter um espaço para alguma dose de constrangimento passar.

— Ahn... Não, não. Obrigada.

— Certo. Bom dia — dizia a comissária simpática — Vou desligar nosso contato para que tenha privacidade.

Será que ela saberia o número da cabine de Adora depois? Com certeza iria rir de sua cara quando fosse entregar algum pedido durante a viagem. E não tinha como fugir, pois seriam longas 12 horas de voo. Enfim. Isso não é um problema. Por que está querendo fazer de um momento tão irrisório algo importante? Tinha decidido que seria mais otimista e prática em sua vida. Precisava manter-se no caminho.

Desde que saíra do ciclo de mudar de orfanato para orfanato na tentativa de ser notada por alguns dos casais que buscavam a adoção, Adora havia dedicado mais de seu tempo para agradar-se. Sem a culpa de não ser o suficiente para ser notada, sem a sensação de que não fazia falta para nada e nem ninguém no mundo.

Ela gostava de viver, afinal. Ela mesma era a pessoa por quem buscaria propósito. Isso deveria bastar.

E bastava, principalmente agora. Acabara de entrar em sua carreira dos sonhos, trabalhava com um de seus dois melhores e únicos amigos, ganhava razoavelmente o suficiente para não ter que dividir moradia com ninguém. O Museu de Excentricidades era pequeno e pouco conhecido. Ainda assim, sempre fora seu lugar favorito na cidade, não tinha do que reclamar sobre a oportunidade que teve de começar a carreira por lá. Sempre ficava deslumbrada com as exposições sobre o oculto, as criaturas que uns chamam de lenda e outros chamam de verdade que o mundo não suporta. O museu tinha noites especiais de Halloween, com pessoas que eram convidadas para contar suas experiências com vampiros, bruxas, lobisomens... A Adora de 12 anos vibrava de tamanha animação.

Agora a de 24 realizava o sonho de trabalhar em seu local favorito. Tudo parecia tão bom que não tinha como melhorar. Até que recebeu esse email de uma herdeira de artefatos raros na Transilvânia que estava interessada em vender as obras para o museu. Foi a prova de que existia, sim, possibilidades de ficar melhor.

Não queriam mandar a novata para negociar algo de tamanha potência, evidentemente. Mas Adora era quem estava em contato com a moça desde o início, foi por ela que procurara desde a primeira conversa. Por isso, quando surgiu a proposta de ir pessoalmente avaliar os artefatos, a jovem lutou para que fosse a escolhida para tal tarefa. Era ela quem merecia e iria criar uma nova exposição.

Atraída Pela NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora