Capítulo 7 - Sobre o paraíso e o inferno

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Eu já devia imaginar que as histórias viriam logo depois. Afinal, era mesmo o mais provável tendo Namjoon como a voz mais alta em nosso meio e todos reunidos – outra vez – depois de tanto tempo.

Namjoon conduziu os primeiros relatos sobre suas aventuras durante minha ausência, e é claro que eu esperei ansiosamente para que ele me contasse todos os últimos grandes atos de RM nos muros da cidade, mas ele guardou isso para outra hora porque Jimin ainda não estava por dentro do que acontecia.

Jimin tomou a palavra logo depois, se levantando e encenando tudo o que contava, e fazendo Taehyung se levantar também para ajudá-lo na interpretação. Aparentemente – por tudo o que ouvi de suas histórias – os dois vinham se tornando cada vez mais próximos desde que ele encontrou Taehyung chorando na rua de sua casa. A proximidade no nível assustador que, eu podia ver bem, incomodar um tanto meu Hobi.

A cada cena narrada por Jimin, o maxilar de Jung Hoseok parecia mais trancado, a ponto de me perguntar se ele tinha emagrecido tanto quanto eu no período de minha ausência, e o porquê de eu não ter reparado isso antes. Mas era apenas o grama de ciúmes que irradiava de seus olhos para que todos me encarassem desconfortáveis, como se para confirmar se eu tinha reparado naquilo.

Bom... Eu reparei. E meu estômago endureceu por isso. Mas não podia estar de outra forma... Então estava tudo bem.

— Então vocês se beijaram?! — Jungkook estava animado, no entanto. Esperava pela resposta com os olhos tão abertos que chegava a dar medo. — Mas não são amigos?

— E por isso mesmo nos ajudamos. — Jimin encolheu os ombros. Houve um tom de vergonha em sua voz, e aquilo era novo. — Foi só para não ficar na mão... Todo mundo estava aos beijos de língua e nós ficamos abandonados num canto qualquer, então pensamos "porque não?".

— Todos estavam aos beijos de língua? — Perguntei baixinho, em meio à risada incomodada que não tinha como objetivo chamar a atenção de ninguém, mas chamou.

A noite a qual Jimin se referia, era aniversário de Seokjin.

No início do ano, quando o calor insuportável da estação fazia o horizonte do bairro hospitalar – que já era quase que completamente inexistente graças à quantidade exagerada de prédios – se esconder por trás de uma nuvem tão densa de poluição que fazia o sol ficar vermelho por todo o dia; em Mency, fazia o mormaço emergir do asfalto das ruas largas como ondas inconstantes do fogo invisível que – para Namjoon – vinha diretamente do que os mais velhos chamavam de inferno.

Na época, as coisas já desandavam para ele. Namjoon nunca foi muito fã de Mency e suas mentes pequenas e reservadas – as mesmas que o diziam o "garoto tão bom" o qual procurava manter as vistas por respeito à única mulher que permaneceu em sua vida. Depois da chegada de Seokjin, ele teve certeza de que aquela pequena cidade esquecida por Deus apenas tinha se tornado ainda menor.

Ele não sabia explicar os motivos para sempre se perder em Seokjin como costumava se perder em pensamentos durante o tempo que tirava para escrever. Não soube explicar até o dia em que tudo ficou tão claro que ele decidiu culpar a luz por toda o seu azar.

A luz era forte demais, e ele não merecia receber tanto brilho se os velhos idiotas e capengas o diziam como sinal da benevolência divina. Porque, depois de ver Seokjin pela primeira vez, Namjoon também teve certeza de que era um dos piores pecadores que já caminharam por aquelas ruas.

Namjoon era ótimo em esconder o que sentia.

Quando eu ainda estava na cidade, na época em que as coisas ruins aconteceram em uma sequência tão rápida que me esquecia de respirar, Seokjin estava vivendo a melhor época de sua vida.

A.U.T.E.N. - Estrelas e Dragões | Taeyoonseok | ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora