Capítulo 1 - Brilhante

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Atenção:
o capítulo pode causar um pouco de desconforto. Se, em algum momento, se sentir desconfortável, por favor deixe a leitura.

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Jeon Jungkook sempre gostou de histórias infantis. Fábulas, romances, lendas, até mesmo histórias de terror. Mas sua favorita era a de Peter Pan e os meninos perdidos. Isso porque, segundo ele, eu era muito parecido com o garoto que voava por aí com a porcaria de uma fada tilintando.

Eu nunca entendi muito o porquê de ele pensar assim. Até hoje.

Bom... Para que possa te explicar, vou ter que voltar à época em que o mínimo sinal de quebra de expectativas, facilmente, se tornava uma boa razão para o fim do mundo.

Por mais que o mudo real se recusasse a realmente ruir. À minha vista, era bem fácil desistir da grande maioria de tudo o que se mostrava abaixo de minhas vontades, mas isso foi apenas até eu conhecer Jungkook, e descobrir que minhas expectativas não eram nada se próximas às dele.

Jungkook sempre foi um menino curioso e compreensível. Por mais que as pessoas preferissem o chamar de "estranho" e "bobo", o fato de ele perdoá-las pelas palavras ridículas apenas me provava o quanto ele era leal aos adjetivos que eu usava para descrevê-lo nas cartas que costumava escrever.

Eu era do tipo meio antiquado, tenho que admitir. Adorava as cartas manuscritas, e era o motivo de quem as lia reclamar sempre e tanto. Mas, no fundo, eu mesmo apenas podia concordar com as reclamações de Namjoon, porque não havia outra opção quando todo o processo se mostrava sempre tão complicado.

Para escrever, era complicado, porque dependendo do dia podia render bem mais do que exaustão. Para postá-la aos correios, muitas vezes, dependia de minha mãe ou do senhor Jeon, e sempre era sujeito às reclamações dos dois sobre a agência ser um tanto distante.

Era durante reclamações como essas que eu apenas suspirava e pensava seriamente em desistir de continuar enviando as caixas com filmes para câmeras, mas logo voltava atrás e optava apenas por ignorar as ladainhas repetitivas, porque nada me faria sorrir mais do que o resultado daquele tipo de envio. Sempre valia a pena quando, no fim de cada mês, recebia a caixinha com cheiro de viagem e o nome de Seokjin bem marcado em uma etiqueta.

A pior das ocasiões, era quando não me sobrava muito tempo em casa, e tinha que carregar o papel, a caneta, o envelope e os selos para a poltrona confortável - que, por fim, sempre acabava sendo um tanto desconfortável - do ambulatório.

A mesinha ao lado era baixa demais para me curvar e forçar uma letra bonita - acabava, na verdade, forçando minhas costas. E então eu optava por apoiar o papel no braço largo da poltrona, mas me preocupava com a possibilidade de acabar colocando força demais e a ponta da caneta rasgá-lo pelo apoio ser muito maleável.

Okay... esse nem era mesmo o "pior do pior".

O "pior do pior" era mais raro de acontecer, porque eu procurava me concentrar em escrever no início do procedimento, e então quando estivesse exausto, no final, não precisaria me esforçar demais.

Aquele dia em específico, porém, foi um em que não pude me concentrar durante os primeiros minutos. Isso porque Jungkook tinha me dito que acabara de deixar a escola, mas ainda sequer tinha dado um sinal de vida.

A carta da semana, no fim, não superava sua terceira linha, e minha visão estava cansada demais para continuar. Minha mão tremia como o inferno e, mesmo que segurasse meu punho com a mão livre para tentar manter a caneta firme, o enjoo superava suas barreiras suportáveis e eu pensava seriamente em pedir meu balde amarelo.

A.U.T.E.N. - Estrelas e Dragões | Taeyoonseok | ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora