Capítulo 15 - Anti-herói

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Sonhei com rostos conhecidos.

Taehyung se afogando em águas escuras do outro lado da barreira paralisada que era Hoseok. O tentei alcançar mas meus pés estavam presos no chão.

Eu queria estar perto, mas não podia.

"O sistema é um cacete", a voz familiar disse, e pude jurar já ter ouvido aquilo antes. "A culpa é do Newton, claro. Afinal, de onde veio a ideia da porra da lei da inércia? 'Um objeto em movimento tende a continuar em movimento até que alguma força seja aplicada sobre ele', baboseira! Quando estou em movimento tendo a continuar em movimento, desde que queira continuar me movimentando. É escolha minha, e que se foda as leis de Newton".

"Que se foda", repeti, baixinho. Mas pareceu ser o suficiente para que Hoseok ouvisse.

Ele ergueu os olhos a tempo de ver meus pés quebrarem a barreira do chão, que me mantinha preso. Me lembro de ter pego sua mão, de puxa-lo em direção a Taehyung, mas não me lembro de mais nada.

Isso porque, na casa pequena de teto mapeado por infiltrações em Mency, Hoseok abriu os olhos e se sentou de vez, ofegante. O sonho costumeiro não foi o mesmo, havia algo errado.

Algo mudou, outra vez.

Ele se levantou quado se lembrou de que Taehyung ainda estava se afogando antes de abrir os olhos. Pegou o casaco jogado às costas da cadeira e desceu com pressa as escadas que rangeram sob seu peso. Fechou a porta com pressa, no baque que não interrompeu o sono pesado – e merecido – de senhora Jung no andar de cima.

Enfiou as mãos nos bolsos do agasalho enquanto caminhava pelas ruas, rumando à casa de quem tinha essa mesma mania. Apenas parou quando o portão alto se ergueu à sua frente.

E era mesmo sempre assim. Tendo a casa roxa na rua sem saída como exemplo outra vez, Hoseok se via barrado. Quase como se fosse negado, como estivesse sendo mantido de fora, ou como estivesse sendo afastado. Era a casa de Kim Taehyung, mas não havia ali um Kim Taehyung que ouviria seu chamado, mesmo se o fizesse em plenos pulmões. Talvez estivesse no condomínio com Jimin, o mais longe possível daquilo, que mais parecia uma fortaleza.

Aquele lar, e a forma como sufocava o mais novo, o deixava impaciente e irritado da forma que não saberia dizer.

Queria ser como os príncipes encantados. Ter a coragem para se aproximar e colocar a baixo o portão alto de ferro, se possível também os muros, e estender a mão para Taehyung.

Hoseok não sabia que Taehyung não era do tipo que esperava por resgate, e odiava qualquer tipo de conto em que não existisse um maldito anti-heroi.

— Hobi. Não faça barulho aí. — Se surpreendeu, então, quando ouviu a voz grave vinda do outro lado dos muros de madeira baixinho entre as duas casas coloridas. — Vai acorda-los, e então eu terei problemas.

Ele caminhou até vê-lo, sentado no galho onde, logo ao lado, estava a mochila pendurada – encharcada pela chuva.

— Tae...? O que faz aí?

— Eu te procurei algumas vezes. Você não parecia pronto para sair. Decidi esperar você vir. — Deu de ombros.

— Sabia que eu viria.

— Você sempre vem. — Taehyung suspirou. — O sol sempre nasce.

Tinha algo diferente ali, Hoseok notou.

— Parece desanimado.

— Pareço? — Riu em um suspiro. — Talvez eu esteja, um pouquinho.

A.U.T.E.N. - Estrelas e Dragões | Taeyoonseok | ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora