Capítulo 4 - "Controle"

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Atenção: Algumas cenas do ambulatório podem causar desconforto. Por favor, se em algum momento não se sentir apto a seguir a leitura, a interrompa.

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Parecia que eu tinha o controle.

Não sobre os acontecimentos, sobre isso eu nunca tive. Caso contrário, meu pai ainda estaria vivo, e eu nunca teria descoberto a Leucemia, e nem teria saído de Mency para abandonar tudo aquilo que eu cultivei ao lado de todos os amigos que fiz.

Se eu controlasse os acontecimentos, também me sentiria culpado.

Porque se meu pai não estivesse morto, e se o câncer não fosse diagnosticado. Se eu não tivesse sido encaminhado para o hospital especializado em oncologia e não tivesse me mudado para a capital, então eu não choraria como um bebê em uma das primeiras manhãs depois de ser liberado da internação dos primeiros dias, pedindo para que mamãe não me obrigasse a voltar para o ambulatório, antes de seguirmos para mais uma sessão; nem teria atrasado nosso horário. Mamãe não ficaria tão furiosa e frustrada, não sairia para comprar um garrafa d'água na lanchonete do outro lado da avenida, e não veria o senhor Jeon atravessando rumo à entrada do hospital com uma pilha de roupas em um braço enquanto a outra mão segurava firme um buquê de flores.

Se eu controlasse os acontecimentos, e decidisse continuar com a vida que eu achava perfeita, então não teria resmungando como uma criança quando senti meu estômago revirar tanto daquela vez, nem me contorceria dramaticamente na poltrona a ponto de ver, no corredor, um garotinho esquisito de escondendo como se fosse um fugitivo. 

"Quem é aquele?", perguntei a Yeonjun, porque ele era mesmo o único com quem conversava naquele lugar. Praticamente me apresentou todo o hospital, e me contou tudo sobre os procedimentos que, segundo ele, eu deveria conhecer dali em diante.

"Hmm?", Yeonjun abriu os olhos e me encarou antes de seguir a mesma direção para a qual eu olhava. "Ah! Aquele ali? O nome dele é Jungkook", ele riu, mas eu não entendi o motivo, "Deve estar fugindo de novo". 

"Fugindo?" perguntei, um tanto curioso. "Fugindo para onde? De quem?".

"Jungkook é maluco", Yeonjun deu de ombros. "Ele foge do pai sempre que os dois visitam o hospital para trazer doações, sai escondido para... Bom, está vendo aquela porta ali?", ele apontou para onde Jungkook entrava, olhando de um lado para o outro por medo de ser pego, "É a entrada para a ala pediátrica".

Ergui as sobrancelhas. Bom... eu ainda as tinha. 

"E o que ele vai fazer ali?" 

"Ele aprendeu com a mãe. Ela também fazia o mesmo". 

"Fazia o quê?", estava impaciente.

Yeonjun riu mais. 

"Curioso, é? Eu também gosto de ver, de qualquer forma", deu de ombros e ergueu um dedo para Jisoo, a enfermeira que ajeitava sua poltrona. "Você poderia abrir a porta? Parece que o show vai começar". 

A mulher sorriu largo. Até mesmo apressou mais seus passos para abrir a porta do outro lado do corredor, e voltou para ficar de pé entre nossas poltronas. 

De início, eu não vi nada demais. Até mesmo me lembro de rolar os olhos e me encolher virado na direção contrária para onde os outros dois olhavam. Mas então, um acorde me fez parar no meio do ato e voltar para a posição anterior. 

"Ah, sim! Aí está!", Yeonjun sorriu ainda mais do que pensei ser humanamente possível. Seus olhos brilharam e eu apenas entendi quando vi Jungkook jogar uma almofada vermelha no chão, em meio às camas ocupadas pelo cômodo, e se sentar com as pernas dobradas para depois, apoiar sobre elas o violão.

A.U.T.E.N. - Estrelas e Dragões | Taeyoonseok | ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora