Capítulo 10 - Pretérito

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Acredite quando digo. Jeon Jungkook tinha a grande mania de se desligar mesmo de seu mundo.

Ele já não vivia em uma realidade comum. Enxergava o que muitos de nós não podiam, mas isso não era "o somente" de Jungkook.

Não mesmo.

Jungkook se perdia tanto em sua "realidade paralela" que as vezes se esquecia de olhar para trás, para o passado, e quem sabe assim relembrar tudo o que deu errado e serviu de exemplo para que não se repetisse.

A verdade é que a palavra "erro" não existe no vocabulário de Jungkook. Talvez "tropeço", ou "deslize". Mas não "erro".

Isso porque tudo o que ele vê são tentativas. Podem ser tentativas falhas, mas continuam sendo tentativas.

Talvez tenha sido o motivo para ele ter seguido caminho naquela madrugada. Porque ele se lembrava bem do que aconteceu da última vez em que decidiu seguir uma estrela, mas aquilo foi uma "tentativa falha" e não um "erro".

Aconteceu quando ele ainda tinha doze anos. Pouco tempo antes de a senhora Jeon ser enterrada. Jungkook desapareceu durante a noite, e foi encontrado apenas cinco dias depois, próximo ao lago da cidade mais próxima de onde vivia. Quando questionado sobre como acabou chegando naquele lugar e o motivo de estar ali, Jungkook foi simples em dizer que seguiu uma "estrela gentil". Foi quando senhor Jeon decidiu que ele precisava de acompanhamento psicológico.

Os dias perdido garantiram marcas a Jungkook. Além de estar magro e pálido pela falta de comida, estava sujo e assustado. Ainda tem uma cicatriz logo abaixo do olho, jura ter sido causada por uma "expectativa", mas eu não saberia explicar ao certo o que ele quis dizer com isso.

Se pudesse defini-lo com alguma palavra, com toda certeza seria: Determinação.

Eram poucas as vezes em que ele se permitia olhar para trás, para o passado, quando estava correndo – porque ele tinha pressa – rumo ao futuro.

Naquela madrugada, Jungkook não olhou para trás enquanto pedalava, determinado, atrás da estrela cintilante que se afastava rumo ao horizonte. Ele sentiu as pernas queimarem, mas não parou mesmo quando o ar pareceu um tanto mais denso para os pulmões que não pareciam mais suficientes. Quando o suor escorreu pela testa, ele sequer se deu o trabalho de secar.

Ele não olhou para trás, talvez por isso não tenha visto outro alguém acompanhando – com uma facilidade surpreendente – sua velocidade. Mas ele ouvia bem a voz cantarolando logo acima, que parou de imediato para deixar a ordem simples que Jungkook não se deu o direito de negar:

Olhe para trás. — Foi o que ela disse.

Jungkook não usou o freio. Na velocidade em que estava, ele apoiou os pés no chão sem cuidado, arrastou as solas do sapato até sentir esquentar a sola dos pés, virou o guidão com destreza e então estava parado no meio da estrada, os olhos calmos fixados em Jimin que, se não fosse pela reação imediata em puxar os freios, se chocaria contra ele.

Ele não saberia bem dizer o motivo, mas se perdeu naquela imagem: A boca cheinha e entreaberta, o peito agitado para recuperar o ar perdido. Jungkook achou aquilo lindo como o céu sobre sua cabeça.

— O que faz aqui? — Foi o que perguntou.

Jimin engoliu em seco.

— Estou te chamando desde que saímos da cidade. — Estava ofegante. — Para onde vai, Jungkook?

— Tenho assuntos a tratar.

— Claro. — Ele viu quando os olhos de Jimin se elevaram. Olhou para a mesma direção, e a estrela que encaravam tomou rumo outra vez.

A.U.T.E.N. - Estrelas e Dragões | Taeyoonseok | ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora