o5| EQUINÓCIO

140 22 338
                                    

"Alguém disse que você tem um novo amigo, mas ele ama você mais do que eu? E, sim, eu sei que é burrice, mas tenho que ver por mim mesmo. Estou no canto, observando você beijá-lo. E eu estou bem aqui, porque você não pode me ver? Eu estou dando tudo de mim, mas eu não sou o cara que você está levando para casa." — Robyn (Dancing on my own)


Starfish, 2025.

Billie percebeu que havia retornado quando aquelas luzes ofuscantes voltaram a cegá-la. Seu estômago se revirou e sua garganta foi preenchida pela bile ácida que a fez rapidamente se inclinar em direção ao sanitário. Seu corpo já não aguentava mais tanta ânsia e tontura. Billie limpou a boca com o dorso da mão, conseguiu se levantar com muito esforço e cambaleou até a cama. Ela só queria tomar um banho para se livrar do cheiro de vômito e suor, mas sentia-se tão fraca e trêmula, que pôde se levantar apenas para tomar uma aspirina. Engoliu o comprimido no seco, pois sentiu que se tomasse algo, colocaria para fora no mesmo instante.

A corredora voltou a afundar no colchão e se enrolou nos cobertores com a esperança de afastar o frio. Era estranho, não fazia frio naquela época do ano, principalmente no verão em Starfish, onde as temperaturas costumavam ser bem altas. Billie não conseguia dormir, se revirava o tempo todo e murmurava palavras desconexas. 

Ela não entendia desde quando ficou tão doente. A última vez tinha sido no Texas, onde contraiu a virose da mosca. Por alguns instantes ela sentiu o corpo se ajustar à sensação de "estar de volta". Ela não sabia muito bem o que aquilo significava, apenas tinha certeza de que era aquilo que sentia no momento. Não demorou muito tempo para que as vibrações voltassem e que a sensação de estar se distanciando se instaurasse. Ela ficou tão leve que poderia jurar que havia fumando maconha e que estaria tendo apenas uma brisa leve, na qual achava que era uma nuvem.

Mas não, talvez ela só estivesse no plano errado.

***

Starfish, 1980.

Billie não queria abrir os olhos, pois sabia que em algum momento aquelas luzes voltariam a atacá-la. Ela não precisou abri-los para saber que já estava em outro lugar. A corredora percebeu que estava na mesma festa. Escutava as mesmas vozes, sentia os mesmos cheiros. Somente a música havia mudado. Dandy a arrastava entre a multidão de pessoas agitadas ao som de algumas bandas hippies locais. Billie abriu os olhos quando um homem alto esbarrou nela, salpicando um pouco de gim na sua amada jaqueta. Ambos se encararam incrédulos.

— Oh, porra! — berrou, parando de supetão. — Não me viu aqui?

O homem a olhou impassível e deu de ombros diante da encarada dela, que franzia o cenho tentando se lembrar de onde conhecia o hippie.

— O que você quer? Por acaso é uma groupie?

— O que? Não, você esbarrou em mim.

— Não ande por aí de olhos fechados, gatinha — ele bebericou o que restou do seu gim. — Principalmente em uma multidão, você que esbarrou em mim.

— Ah, okay. Me desculpa — ela disse, reconhecendo que estava errada.

— Ei, Love — Dandy abraçou o outro, deixando a amiga confusa. — Cara, a música de vocês está muito boa, sério. Se uma gravadora bater os olhos em vocês, é um contrato fechado.

— Love Wallace? O pai da Alice? — indagou Billie. — Eu sabia que o conhecia de algum lugar!

— Calma ai, gata! — Love riu e levantou as mãos em sinal de rendição. — Eu sempre quis ter uma garotinha chamada Alice. Eu e Carrie ainda estamos entrando em sintonia. Falta pouco para o segundo equinócio do ano, ele nos revelará muita coisa.

LOVE, FUTURE & NOSTALGIAOnde histórias criam vida. Descubra agora