"Hoje é outro dia para encontrar você se afastando. Estarei vindo pelo seu amor, ok? Aceite-me, venha na minha. Eu partirei, em um dia ou dois. Você é tudo de que eu preciso me lembrar, eu voltarei para te buscar de qualquer maneira." — Take me on (A-ha)
Luzes ofuscantes fizeram seus olhos doer quando os abriu. Ele se deparou com seu antigo carro de corrida amarronzado prostrado alguns metros à sua frente. Ao ajustar a visão, percebeu que usava o uniforme da Pluma, então ele sabia que tinha que correr. Falke entrou no carro e começou a dirigir pela imensidão esbranquiçada.
Onde estava? Ele não sabia.
Suas mãos enluvadas se fecharam com força em volta do volante e seu pé nervoso pisou no acelerador. Falke abaixou os óculos de aviador para proteger os olhos e acelerou, acelerou e acelerou. O corredor sentia a adrenalina em suas veias e sabia que não poderia parar, não agora, quando estava tão perto. A velocidade do carro se tornou descomunal, já não se distinguia os borrões lá fora do vulto do veículo. Ele acelerou, acelerou e acelerou... e então houve a colisão com o nada.
Luzes voltaram a cegá-lo, e quando conseguiu enxergar, estava em um lugar familiar. Falke vagou por entre a vila de casas amadeiradas, passou por estalagens e subiu uma colina. Seu coração apertou ao reconhecer aquele carvalho frondoso, e onde deveria haver uma lápide, uma mulher com o uniforme da Pluma estava sentada de costas enquanto outra mulher fazia belas tranças em seu cabelo. O corredor sabia que tinha voltado para casa, mas como? Ele temeu que aquilo não passasse de uma ilusão, mas ao se aproximar, a de cabelo marrom ergueu o rosto.
— Meu amor!
Amélia quase pulou para cima dele, e tê-la em seus braços já era motivo para abrir o choro. A deusa os observava com cautela, para ela, o amigo nunca esteve tão certo em ter abdicado de sua eternidade. Porém, ele era o filho de Frey, e o pai não permitiu que o filho deixasse de existir. Quando a roleta começou a voltar para o tempo presente, Ostara começou a se lembrar das coisas. A gigante xingou o amigo diversas vezes, mas ao ver o casal transbordar amor nos braços um do outro, ela compreendeu tudo.
Falke ainda não acreditava que estava diante da sua esposa. Amélia partiu e Frey pediu para Ostara coletar a alma dela para a casa deles, e assim ela o fez. A médium aguardou o marido naquele lugar lindo, conheceu Frey e se tornaram bons amigos. Ela falou como era a vida mundana — nada que o deus já não soubesse, pois era um fanfarrão. Ele falou dos caprichos do filho, e de como Falke havia fragmentado a própria alma ao girar a sua roda do tempo.
— Ele se fez nascer novamente quando já existia, então... — Frey riu, em mais uma de suas conversas com Amélia. — São dois indivíduos diferentes agora.
— Frey, me fala das mulheres humanas que você amou.
— Eita... — ele riu. — Filho, você está com a sua roda do tempo?
— Estou.
— Bom, vamos precisar de muito tempo, pois a lista é extensa.
Amélia começou a rir, ela amava Frey. Os três escutavam atentamente as histórias de amor do deus, que não eram poucas. A médium escorou a cabeça no peito do marido enquanto ele a aninhava em seus braços. Naquela noite que parecia não ter fim, a fogueira acalentava os corações que batiam ternos naquela imensidão estrelada. Falke mergulhou nos olhos castanhos de Amélia, e, por nada naquele mundo, abriria mão de sua eternidade com ela.
Eles sempre estariam juntos, como naquele clube de dança, em mil novecentos e oitenta e seis.
F I M
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LOVE, FUTURE & NOSTALGIA
Ciencia Ficción🌌 Destaque Novembro | Perfil Oficial SciFiLP (2022) 🏆 SELECIONADO PELO PERFIL @AmbassadorsPT COMO UMA DAS "MELHORES HISTÓRIAS DE 2022" Se essa é uma história de amor ou fantasmas, no final você quem decide. Em Starfish, a cidade das corridas clan...