16| CANTE PARA MIM, ALICE

62 11 193
                                    

"Há um homem das estrelas esperando no céu. Ele gostaria de vir e nos conhecer, mas ele acha que nos assustaria. Há um homem das estrelas esperando no céu, ele disse para não estragarmos tudo, porque ele sabe que tudo vale a pena." — Starman (David Bowen)


Starfish, 2o25

— Ele pensa que é o original, e deveria continuar assim, se a sua filha não tivesse enviado aquela foto — Falke suspirou pesado e lançou um olhar fulminante para Alice. — E é com ele que você vai ficar!

     Se não estivesse tão irritado, o viajante soltaria boas risadas da careta de desespero da loira. Love não resistiu e soltou boas gargalhadas, deixando a filha irritada. Ele só queria pegar o seu violão e tocar um pouco com a esposa sem a preocupação de possíveis agressões. Parecia impossível que aqueles dois ficassem no mesmo ambiente sem tentar se matar. O viajante estava visivelmente irritado, e o hippie conhecia a filha o suficiente para saber que ela usaria aquilo para irritá-lo ainda mais, como gasolina em princípio de incêndio. 

     Os três foram se sentar nas almofadas, com a visão privilegiada de uma mesa farta, agora com um convidado. Carrie acabou pegando no sono por causa da alta dose de chá de camomila, e Love achou melhor que a esposa não estivesse ali. Falke não quis tomar um banho antes, pois estava morto de fome e não fazia questão de fazer cerimônia. As travessias pelo tempo sempre deixavam o viajante faminto, exausto e sujo, como se tivesse saindo de um longo e enfadonho expediente de trabalho. Naquele momento, a existência de Alice era irrelevante, sua única atenção estava voltada para a comida. 

     Ele retirou as luvas, lavou as mãos e sentou na almofada ao lado da loira, que o olhava de esgelha sem entender nada. Falke começou a atacar a mesa, serviu-se das frutas, bolos, torradas, ovos fritos e o café com leite. Quando finalmente terminou, a única coisa que desejava era uma cama, mas precisava tomar banho.

     — Estou imundo, preciso tomar banho.

     — Vou preparar um banho para você — Love disse, se levantando. — Nós podemos conversar depois?

     — Depois que eu dormir? Estou exausto.

     — É claro, não quer aproveitar e passar uma noite?

     — Nem pensar — Alice protestou.

     — Sim — Falke disse, seguindo Love.

     — Ótimo, você pode se sentir à vontade para conhecer a casa, afinal, você quem a projetou.

     O viajante quis corrigi-lo, dizendo que quem havia projetado a casa era o Falke que estava na casa de Amélia, mas resolveu não confundir mais as coisas. Ele gostava de Love, pois o hippie não o julgava em nada, apesar de já ter vivenciado momentos mirabolantes com o norueguês, ele só aceitava o fluxo das coisas, reconhecendo que era impossível ir contra as leis do universo. Eles foram para uma sala de banho, onde o que parecia ser uma enorme banheira de hidromassagem estava prostrada no centro. 

     Love deixou tudo preparado para o viajante se sentir o mais confortável possível, e se retirou da sala para ir pegar toalhas limpas. Finalmente sozinho, Falke colocou sua bolsa transversal na prateleira e começou a retirar as roupas sujas. A água morna o fez gemer baixinho, e ao se acomodar na lateral da jacuzzi, sentiu que poderia ficar ali para sempre. A água acariciava seu corpo enquanto não parava de jorrar das laterais, e a espuma com cheiro de limão deixava tudo mais agradável. Falke espreguiçou os braços na lateral da jacuzzi e fechou os olhos, deixando que o banho levasse toda aquela fuligem embora. No andar de baixo, os hippies discutiam. A loira não queria deixar as toalhas e os óleos, enquanto Love insistia que ela fosse.

LOVE, FUTURE & NOSTALGIAOnde histórias criam vida. Descubra agora