o4| AQUELA VIDA QUE NÃO É SUA

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"O problema é o único amigo dela, e ele está de volta outra vez. Deixa o corpo dela mais velho do que realmente é. Ela diz que é hora dela ir embora, ninguém tem muito a dizer nesta cidade. O problema é o único caminho, é para baixo." —  Carry you home (James Blunt)


  Starfish, 2025.

"Ei, Billie! Até quando você vai continuar vivendo essa vida que não é sua?"

Billie acordou com uma leve dor de cabeça, parecia de ressaca. O som daquela voz continuava ecoando nos seus ouvidos, fazia tempo que não sonhava. A menina de cabelos verdes não conseguia tirar da cabeça as memórias quentes que devastavam seus pensamentos sobre a noite passada. O simples ato de reviver os momentos que passou com Dandy, fazia sua pele inteira formigar. A corredora não costumava ficar distraída por causa de alguém, mas reconhecia que se o rapaz aparecesse com uma coleira, ela ficaria de quatro e aceitaria de bom grado, talvez até latisse.

— Sou muito cadelinha, que saco — resmungou.

Ela tateou o colchão em busca do celular, o encontrando embaixo do travesseiro. Riu ao ver que tinha dormido no auge da conversa com Alice, que mandou dez mensagens pedindo detalhes, e a décima primeira era xingando a amiga pelo vácuo. Billie ficou até tarde com Dandy, e só retornou após o rapaz sair apressado quando o céu começava a exibir os primeiros sinais do raiar do dia. Sem sombra de dúvida, aquela foi sua melhor noite após o retorno a Starfish. Ao escutar uma movimentação na cozinha, logo tratou de descer para tomar café da manhã. Sua avó preparava uma porção de panquecas quando notou a presença da neta escorada no balcão da cozinha.

— Minha nossa, não sinto o cheiro desse perfume há séculos! — exclamou Amélia, girando uma panqueca no ar. — Não o fabricam desde os anos oitenta.

— Bom dia, vovó — murmurou, de forma preguiçosa. — Esse é o cheiro do boyzinho que estava comigo. Ficou impregnado, não que eu tenha achado ruim.

— Billie, você é uma cafajeste. Venha comer, me conte tudo — Amélia depositou uma porção de panquecas no prato da neta e empurrou na direção dela. — Ainda nem tirou a roupa, isso tudo é por causa do cheiro dele?

— Ainda bem que você sabe — ambas riram. — Acho que já me apaixonei, sou muito fácil.

— É mesmo — a médium concordou. — Não quero macho na minha casa.

— Quando eu trouxer, vai ser escondido. A senhora nem vai notar.

— Atrevida — resmungou. — Esse cheiro me lembra alguém.

— Quem?

— Um amigo, era integrante da Pluma. Esse perfume era uma das marcas registradas dele.

— Muito bom, né? Qual o nome desse perfume?

— Não me lembro, faz muito tempo. Fez sucesso entre os rapazes na época da minha juventude. — Amélia lançou um olhar curioso para a neta. — Agora vamos ao que interessa... quando vou poder conhecer o rapaz?

— Bem, deixe-me ver... — Billie assumiu um semblante pensativo e resmungou de boca cheia. — Se eu não me engano, hoje é dia de lua cheia. Então vou passar uma infusão de maca peruana na minha calcinha e entregar para ele beber. Então logo, logo a senhora vai conhecê-lo.

— Billie Jean, não quero a senhorita envolvida com simpatias. Nunca se sabe o que pode acontecer. Não se deve brincar com coisas que não conhecemos.

— É brincadeira, calma!

— Não imaginei que fosse apelar para uma simpatia para conquistar um homem — ela riu da careta de Billie. — Bem, esqueça isso. Ontem Phil me ligou, estava histérico.

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