11| AQUI VAMOS NÓS DE NOVO

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"Eu te desejei o melhor que todo este mundo pode dar, e te disse quando me deixou, que não havia nada para perdoar. Mas eu sempre pensei que você iria voltar, me dizer que tudo o que encontrou foi um coração partido e sofrimento. É difícil para mim dizer que tenho ciúmes da maneira que você está feliz sem mim."  — Jaelous (Labrinth)


Starfish, 1988.

Amélia ainda não conseguia acreditar que tinha finalmente dado adeus ao Texas. Seus pais permaneceram relutantes em fazê-la voltar, mas foi em vão. Viviane Jean achava que seis anos não eram suficientes para fazer a poeira baixar, e tinha medo da filha se meter em algum outro tipo de escândalo. Porém, a médium sabia que Amélia tinha assuntos inacabados em Starfish. 

A ex-corredora e o pequeno Phil se mudaram oficialmente para a Flórida. Ela já estava formada quando voltou para o Texas, e agora com trinta e três anos, conseguiu um emprego como professora na universidade em que se formou. Ela se especializou em Demonologia, mas ministrava Epistemologia. O sonho da ex-corredora era montar uma filial da funerária, então assim o fez. Após juntar bastante dinheiro com o trabalho como professora e uma pequena ajuda dos pais, ela conseguiu. Quando deu à luz a Phil, em maio de 1981, ela já estava afastada de Starfish.

Amélia sabia que o pai era Falke, mas jamais o deixaria chegar perto do filho. Quando as ânsias de vômito ficaram constantes e os seios ficaram mais doloridos, não precisou se lembrar de com quem tinha feito amor três semanas antes. Ao acordar do coma, ela soube que um julgamento estava rolando, e não se surpreendeu com quem estava sendo acusado. Amélia não conseguia parar de chorar ao lembrar de como ele parecia estranho no dia em que fizeram amor pela última vez. A ex-corredora se recordava claramente dos pedidos de perdão, das lágrimas e dos soluços desenfreados.

Ele se desculpava por algo que ainda iria acontecer, pedia perdão por algo que iria fazer. Amélia não entendeu nada no dia, mas quando acordou e recebeu uma enxurrada de informações de Zuri, ela juntou os pontos. Falke já havia armado tudo, e estava se desculpando antes do tempo. A dor da decepção com seu amigo foi imensa, mas não tanto quanto a perda de Dandy Spring. Ela precisou de muita força dos amigos para poder aguentar.

Em abril de 1986, ela pegou o seu Opala e dirigiu até a pista que aterrorizava seus sonhos. Por muito tempo, desde quando retornou para Starfish, a médium se recusava a ir vê-lo. Ela sabia que se ele ainda estivesse ali, se não tivesse partido em paz, ainda conseguiria enxergá-lo. Suas mãos já suavam frio ao descer a encosta íngreme para ter acesso a pista. 

Amélia ainda pensou em voltar, mas queria substituir a última memória que tinha com ele, que foi vê-lo morrer a sua frente. As estrelas já começavam a banhar o céu naquele final de tarde, e sentado próximo a enseada, lá estava ele. Dandy permanecia exatamente como no seu último dia de vida, ainda com o uniforme da Pluma e os cabelos negros recém aparados. Quando Amélia ousou se aproximar um pouco mais, ele olhou para trás de repente ao escutar o som arrastado dos pneus. Os vidros fumê não o permitiam enxergar quem estava dentro do carro, mas ela conseguia enxergar aqueles olhos verdes. 

Dandy franziu o cenho ao reconhecer aquele Opala, e logo se levantou. Amélia não teve muito tempo para chorar, pois teve que dar partida ao vê-lo caminhar em sua direção. Aos seus trinta e um anos, ela sentiu o peso da perda do amigo. Agradeceu ao seu coração por ter deixado seu amor juvenil ser enterrado junto com Dandy, pois ela estava envelhecendo e ele permaneceria jovem para sempre, não havia mais espaço para eles naquela vida. Aquela foi a última vez que ela o viu.

Ainda no hospital, em dezembro de 1980, Amélia precisou pensar muito rápido para proteger o seu bebê dos tablóides, e principalmente de Falke. Se a imprensa soubesse que ela estava grávida do acusado ou do morto, ambas as opções teriam grande impacto na vida dela e de Phil. Carl Ardor costumava visitar sua melhor amiga quase todos os dias, onde ainda conseguia arrancar boas risadas dela. Além de sua irmã mais nova, Amélia era a única que sabia do seu segredo. Carl era gay, mas preferiu não espalhar para os quatro cantos do mundo.

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