Eight

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- Hoseok. Você precisa acordar.

A voz da enfermeira que tanto lhe conhecia se fez presente em seus ouvidos quando recordou a consciência, ou pelo menos pequena parte dela. Olhou em volta e sentiu o pesar de seus olhos as lágrimas quentes e grossas sem nenhum caminho ao certo. O colchão deveras de qualidade nao deixava Hoseok acostumado ou alegre, suas dores eram surreais e seu corpo pedia por socorro sempre que tentava se mover.

A briga - ou melhor, a surra - que teve com Jeon, não fora uma das piores que já havia se metido, mas era a mais pesarosa emocionalmente. Foram tantas coisas jogadas em sua face com a maior consciência que era difícil não ver o quão pertubado o francês sul coreano estava; olhos fundos e olheiras aparentes, respiração falha, coceiras irregulares, tosses, nariz seco que sangrava de um em um minuto, os cabelos desalinhados demonstravam um Hoseok pensativo e desregulado, como se tudo ao seu redor tivesse que girar em torno de si; Como um relógio.

A música baixa da caixa velha de som, fazia os neurônios desgovernados de Hoseok gritarem por silêncio e socorro, a gritaria da música agitada lhe deixava possesso e sem rumo. Levantou-se de supetão e correu para fora, sentindo as pernas falhas e o rosto quente, sua respiração rápida e falhada lhe atrapalhavam de pensar corretamente, Hoseok tentava ao máximo não se descontrolar mas a voz em sua cabeça, seu outro ser, lhe implorava para ser liberto.

- tais-toi, vas-y tais-toi - A voz fraca e frenética repetia diversas vezes para si mesmo, estava tentando se manter no controle, por pelo menos uma vez em sua vida.
( Cale a boa, andas, cale a boca)

Hoseok queria se desculpar, queria ser normal, queria poder ler sem se importar, queria andar de bicicleta e queria ter um pai presente e uma mãe que o amasse e não lhe dispertasse ódio. Hoseok queria ser normal. Queria poder olhar-se no espelho e não ver sua outra personalidade ali, e sim o velho e amável Hope, seu eu verdadeiro.

Diagnosticado com bipolaridade e dupla personalidade, um Hope ( Na fanfic, Hope é o nome verdadeiro em francês do Hoseok, apenas finjam que é ) alegre que levantava às seis para estudar e voltava às nove da noite depois que saia do trabalho. Mesmo que sempre escutasse as brigas diárias de seus pais Hoseok tentava fingir que sua família era perfeita, preferia acreditar que sua vida não passava de uma fase difícil e que logo tudo ia mudar.

Mas não mudou.

Sua mãe, Jung Bora, suicidou-se aos quarenta e cinco anos e seu pai, dois anos depois lhe internou em uma clínica ao ver o menino chamando pela mãe de madrugada. Um descontrole emocional apossou-se de Hoseok em uma noite de chuva dentro do quarto, onde seus remédios foram deixados de lado logo após a morte do enfermeiro encarregado por si. Os lábios carnudos e convidativos de Hoseok abriram-se em um sorriso grande e feliz.

Na cabeça de Hoseok, ele estava levando as pessoas para fazer sua mãe não se sentir sozinha, seja lá onde ela estivesse. Ele queria que ela não se sentisse sozinha, então levava pessoas a ela, como testemunhas que tentam levar jovens adolescente á igreja mesmo que às tentativas, na maioria das vezes, fosse falha.

As visitas de seus irmãos - ambos casais de gêmeos - mais velhos se tornaram frequentes e a preocupação foi ficando cada dia mais aparente e maior, a internação de Hoseok em um manicômio não era a melhor escolha e Jiwon sabia disso, Jiwoo, por sua vez acreditava que dessa forma, tudo ia melhorar, mas não negou quando Jiwon decidiu tirar Hoseok de lá e o levar de volta para casa, os primeiros anos foram ótimos, Hoseok estava melhorando, já não falava sozinho e também não andava pela casa de madrugada em busca de sua mãe.

Mas, Hoseok também não chorava.
Mas, Hoseok também se expressava.

Guardava tudo para si, e tinha esperanças de que nada oque sentia ou os pensamentos obscuros que lhe tomavam quando estava perto de algo afiado fossem lhe prejudicar, ou fossem sair de sua mente.

Ele estava fazendo de novo. O seu outro eu estava lhe implorando para sair, lhe implorando com juras falsas de que tudo ficaria bem, e Hoseok, ou melhor, Hope, sabia que não. Sabia que nada ficaria bem, sabia que não estava apaixonado verdadeiramente por August e sabia que oque tinha feito com o Park fora errado, mas também sabia que não eras de fato, sua culpa. Hope não tinha controle sobre Jhope e muito menos sobre Hoseok, só tinha controle sobre si mesmo, que era uma pequena porcentagem em sua cabecinha conturbada pelos danos psicólogicos causados pela vida.

As duas vidas quase latiam dentro de si, lhe arranhando como um lobo sedento por carne, e seus olhos se fecharam, Hope jogou-se no chão e chorou, sem opções, ele apenas chorou e repetia diversas palavras que para os outros detentos pareciam mais com juras infernais.

- Allez-vous me tuer, allez-vous me tuer, voulez-vous me tuer ?
(Tu vais me matar, tu vais me matar, tu queres me matar?)

Quem o visse ali, jogado no meio do pátio nem imaginava a briga de personalidades que desgastavam um Hope saudável mentalmente.

Suas pernas tremiam, suas mãos batiam vez ou outra em seus ouvidos enquanto ele gritava que iam mata-lo e que iam levá-lo a força para sua mãe, da mesma forma em que eles levaram diversas pessoas; Hope entendia sobre a morte de sua mãe, entendia que ela havia partido, mas Hoseok e Jhope, não.

Eles não aceitavam, só aceitariam se matassem com suas próprias mãos o pai que os abandonou, os irmãos que lhe viraram as costas e pararam de lhe visitar, e seus avós que tanto diziam que o amavam, mas já haviam lhe esquecido por completo.

Por isso, Hope se dopava. Por isso, Hope se drogava. Ele não queria ficar sobre posse de seus demônios mentais.

Uma coisa, os três tinham em comum; Os três queriam a liberdade e a paz que uma criança vazia merecia.

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Essa é a história do nosso Hobi :(

Pra quem não entendeu, na cabeça do Hoseok existem mais 2 dele mesmo, sendo eles;

Jhope e Hoseok.

Hope é o nosso Hobi amável, e seu nome verdadeiro, o consciente, enquanto os outros dois, "nasceram" depois do trauma do abandono paternal e de seus irmãos e avós.

São como demônios que aparecem para lembrar a Hope que ele tem direito a se vingar, e que tem direito a ser quem ele deseja sem medo.


CELA 1306 | Jjk + Pjm Onde histórias criam vida. Descubra agora