Capítulo 62

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LARI

A gente conversou mais um pouco e então eu subi pra pegar minhas roupas, alemão disse que tinha uma coisa pra fazer e ia me deixar em casa. Esperei ele se arrumar e assim que tava pronto, saímos de la e no meio do caminho alguém mandou uma mensagem pra ele e o mesmo virou o carro e deu meia volta.

- ta indo pra onde? - perguntei assustada

- resolver um baguio - ele diz

- e eu vou junto?

- a menos que tu queira que eu te deixe aqui e volte a pé - alemão diz

- não tenho nada pra fazer mesmo - falei

Alemão parecia irritado, na verdade, parecia com um ódio enorme. O caminho foi todo em silêncio, só ouvindo as músicas do carro e aos poucos fui percebendo que estávamos quase saindo do Rio de Janeiro, olhei pra ele sem entender mas não me deu nem atenção. Mando mensagem pra Lua e aviso que não vou almoçar com elas, ja que iam sair com a minha tia. Percebo que meu celular vai descarregar então deixo de lado mas meu pai continua a me ligar.

- atende essa porra logo - alemão diz ainda dirigindo

- eu vou falar com ele outra hora - falei

- que birra hein, ta parecendo criança - ele diz

- eu tinha que ter sangue de barata e não ligar pro que aconteceu nos últimos 6 anos né - falei

- ai vai ficar chorando pelos cantos como se isso fosse unir sua família de novo? - ele diz e eu não respondo - ja faz mo tempão isso ae

- e eu devia ficar feliz e aceitar aquela vagabunda e o filho dela? - perguntei irritada

- tu nem deve saber o que rolou - ele diz - e ai vai ficar xingando..

- é claro que você ia ficar do lado dela, de vagabunda você deve entender bem - falei com sarcasmo

- é, tu nem faz idéia - ele diz e eu encaro ele - foi tu que falou

- eu imagino que seja verdade, ja que toda vez que eu ando naquele morro as meninas ficam me olhando - falei revirando os olhos - certeza que ja pegou todas

- todas não mas a maioria, talvez - ele diz e eu fecho a cara irritada com o que ele disse

- que ótimo! - falei revirando os olhos

- qual foi?

- nada! Por que será que traficante atrai tanto? - falei e ele me olha - quer dizer, tem uns que são até bonitos mas mesmo assim

- não é óbvio? - ele pergunta e faço que não - dinheiro!

- mas não é com se você fossem ricos pra querer ficar só por dinheiro - falei

- vou dar só um exemplo pra tu, o morro tem uma hierarquia, os vigia da entrada tão em baixo, vou chutar que cada um ganha 5 mil por semana - ele diz e eu olho surpresa 

- caralho, vocês 25 mil no mês pra ficar meia hora em pé? - falei

- também não é assim né fia, cada um tem um turno e vigiar é pior de todos! Por que o morro depende disso

- mas você disse que eles tão em baixo na hierarquia do morro

- em questão de grana, tipo, eles ganham menos por que tem mais cara lá

- e a biqueira que tem menos, ganha mais? - perguntei e ele confirma - não faz sentido! Mas é por isso que tem várias mina?

- a maioria dos cara trouxa, banca elas

- e eu dando de graça - falei e ele me encara - brincadeira!

- continua com tuas graças ai

Dou risada da cara dele e continuamos indo até sei la pra onde, percebi que ja tínhamos saído do Rio e estranhei quando ele parou em uma pousada. Linda inclusive, tinha umas palmeiras enormes, piscina, jardim e um salão enorme. O alemão saiu do carro e eu vou atrás dele, a gente passa pelo hall e vamos direto pros quartos.

Não entendi nada, só fui seguindo ele e o mesmo parecia estar espumando de raiva. Subimos até lá e ele para direto em uma porta, bate e assim que abre vejo um homem alto, grisalho, malhado também e moreno. Assim que o alemão olha pra esse cara, vai logo segurando ele pelo pescoço e arrastando o homem pra fora do quarto.

- eu te avisei pra ficar longe deles - alemão diz

- não tenho medo de você, não passa de um bandido de merda - o homem diz

- Felipe para com isso - vejo a mãe dele sair do quarto

- eu sabia desde o começo, seu filho da puta, não quero você perto do Rafael! - alemão diz puto e apertando o pescoço dele

- Felipe? - o Rafael diz saindo do quarto e vendo o irmão, logo depois me vê - oi tia Lari

- oi amor - falei e vi a situação - vamos pra piscina

Entendi a mão pra ele e o Rafa pega, pergunta se a Emilly também veio e eu digo que não. Bom, não entendi direito mas acho que o cara era pai do Rafael e por algum motivo ele e o alemão não se davam bem. Comprei um sorvete pro menino e fiquei ali em baixo com ele, um tempo depois não sabia como as coisas estavam indo.

Então decidi ir ver, mas la em cima não tinha ninguém. Sai com o Rafa la fora a tempo de ver o alemão dar um murro na cara daquele homem. Até tentei tapar os olhos dele mas o Rafa viu, levei o menino pra dentro do carro e deixei assistindo coisas no meu celular. A mãe dele tentava separar, então puxei ele pela mão.

- o que você ta fazendo? - perguntei

- não se mete nessa porra!

- Felipe o seu irmão ta aqui atrás, não deixa ele ver isso, se acalma! - falei segurando o rosto dele - o Rafael é uma criança,  mesmo que o pai dele tenha feito alguma coisa ele não vai entender por que você ta fazendo isso, agora não é a hora e nem o momento pra isso!

A.N.A.R.C.O.SOnde histórias criam vida. Descubra agora