Capítulo II

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Ele passou gel sobre o cabelo e em seguida alisou-o com escova, deslizando milimetricamente as cerdas do objeto, assentando cada fio. Ele odiava vê-los desalinhados, desde que cortara o cabelo naquele estilo baixo e bastante social que ele se preocupava em deixá-los sempre impecáveis. Em seguida Enzo escovou os dentes e fez um bochecho demorado, terminado ele voltou até o quarto e encarou-se diante do espelho, sua calça social preta estava sem uma ruga, seu sapato de couro estava brilhante como sol que iluminava a sacada, e sua camisa social vermelha-marsala estava muito bem aliada ao seu corpo. Ele estava de fato impecável para seu primeiro dia de trabalho.
 Enzo saiu do quarto, passou na cozinha, pegou uma maçã na fruteira, depois fechou o apartamento e partiu. Segurando a pasta na mão esquerda, e a maçã presa em sua boca,  a direita ele levou ao bolso, pegou  o celular e  checou as horas, para seu alívio e, alegria do taxista que lhe aguardava do lado de fora do prédio ele não estava atrasado, logo seu humor estava suportável.  
- Bom dia! - Enzo saudou o motorista assim que se ajustou no banco traseiro do veículo. 
 
-Bom dia, senhor. - o homem respondeu. 
 
Enzo sempre fora de poucas palavras. Ele mudou em muitos aspectos com o passar dos anos, exceto o fato de ainda ser um antissocial e introvertido nato.
 Na faculdade ele não sofria como na escola, por ser assim, mas ainda era muito julgado por ser um estudante de direito que não gostava muito de falar em público, mas isso não significava de forma alguma que ele não tinha boa dicção e oratória, muito pelo contrário, todos seus professores o elogiava quanto a isso. 
Passados alguns minutos da viagem o taxista estacionou em frente a Delegacia de Mystic Falls, Enzo pagou-o e seguiu em direção ao local. Estar novamente na velha cidade lhe gerava velhas sensações, todas traumáticas que ele queria muito se livrar.
Ele encheu os pulmões de ar e soltou lentamente, sua tática sempre funcionava em situações que exigia dele muita coragem. 
Enzo subia os degraus da escadaria do prédio, quando foi abruptamente surpreendido com a chegada de uma morena de cabelos longos escuros, e óculos de grau no rosto, sua saia era era tão justa que ele se perguntava como ela conseguia andar feito um frango empanado, os saltos finos dificultavam sua descida mas ela era persistente. Ao chegar diante do moreno que a encarava perturbado, ela lhe disse: 
 
- Oi, ou melhor...quero dizer, bom dia, senhor – Ele nada respondeu, apenas assentiu. 
-Ooown que tonta, deixa eu me apresentar – ela ajustou o óculos no nariz e limpou a mão direita na saia, - Sou Sarah Nelson, sua assistente, na verdade assistente só não, sou escrivã, às vezes carcereira, também sou investigadora, balconista e se duvidar até faxineira – ela declarou dando uma gargalhada final de puro nervosismo. Ele não entendeu muito bem sua apresentação e todas as funções descritas pela moça, mas ele apoiava que ela exercesse a que mais distante ficasse de si. 
 
-Lorenzo, mas prefiro ser chamado pelo sobrenome, St Jhon - ele estendeu a mão até a dela e apertou fortemente. 
- Prazer! - quando ele soltou sua mão, ela gemeu baixinho pois uma ardência se espalhou pela palma. 
Enzo seguiu subindo os degraus acompanhado pela morena, cuja presença  estava suportável até ela novamente interromper o seu silencioso trajeto.
 
- Então... Lorenzo, ou melhor, St John, quer que eu carregue sua maleta?- ela se ofereceu. 
 
- Não- disse categórico. 
 
- Mas eu faço questão senhor, todos os xerifes que passaram por aqui não carregavam suas coisas. Além do mais, eu gosto de fazer isso. Me permita?
Enzo respirou fundo pela milésima vez dentro de um minuto. 
-Talvez eles não tivessem capacidade motora de levarem as suas próprias coisas, mas eu tenho -ele atravessou a porta e passou pela sala de espera e balcão de atendimento, saudou com um seco "Bom dia."  as poucas pessoas presentes e seguiu até a única sala dentro daquele cubículo. 
Ele jogou a pasta na mesa, e reparou que havia poeira na mesma, como ele odiava sujeira seu humor já corrompido pela péssima recepção, ficou ainda mais amargo. 
 
- Você disse que era faxineira também, não disse? -ele passou o dedo sobre a madeira.
 - Que tal começar logo seu trabalho? Limpe isso, por favor. -ele apontou o dedo sujo pra ela. 
- Oh sim, vou... é claro. Deseja algo mais xerife?
-Sim, desejo. – ele declarou a fazendo parar para encará-lo. 
-Pois não?
-Pare de me chamar de xerife, coisa mais antiquada, me sinto nos Texas, pode de chamar de senhor delegado ou com a licença  do título "doutor", até "St John" é melhor que esse título rural de "Xerife". – ele disse irritado e tudo que Sarah fez foi assentir e sair da sala. 
Agora sozinho no local,Enzo se lançou sobre a cadeira e esfregou o rosto perguntando-se onde havia se metido? Talvez desse tempo de sair correndo dali, rasgar seu diploma e tornar-se um andarilho. Ele inclinou o rosto sobre a mesa suja tentando refletir, buscava um motivo para continuar ali, uma razão para não abdicar de tudo. 
 
- Senhor? - a suposta assistente dele o chamou. Enzo bufou e elevou o rosto até ela. 
-Trouxe o pano. – ela começou a limpar 
-Desculpe por isso. É que as janelas não fecham  completamente, aí a sala acumula poeira vinda da avenida principal, e também não podemos trocar pois não há verba suficiente e querendo ou não,  as janelas  são úteis  para ventilação da sala já que não temos ar-condicionado. -ele checou o local e chegou à seguinte conclusão:  o porão da casa branca era mais habitável que a sala do delegado de Mystic Falls. 
- Depois me passa o endereço do prefeito, por favor. – ele pediu enquanto ligava o computador. 
-Sim senhor. Ah! -ela pegou sua agenda e abriu. - Agora às dez horas o senhor tem uma entrevista marcada. 
- Eu?- ele perguntou com desdém. 
-Sim, aqui tem escrito entrevista para a Forbes Jornalism...
- Não - ele interrompeu 
-Sim, aqui está bem legível. - ela ratificou
-Sim, eu entendi. Não estou dizendo que é mentira sua, estou dizendo que eu não vou dar nenhuma entrevista porque eu-não-marquei- nada. -soletrou.
-Mas senhor St John. O que digo quando a Jornalista chegar?- Sarah nervosa, indagou 
-Simples, ligue desmarcando. Diga “o delegado disse que não marcou nenhuma entrevista, então ele não dará entrevista alguma.” 
-Mas- ela começou tentando iniciar um contra-argumento convincente. 
- Não há, porém  algum, Sarah. Não darei entrevista e ponto. Agora por favor me deixe sozinho, preciso organizar essas pastas, esses relatórios ... o ex xerife – ele frisa bem a palavra debochando. – Não sabia usar computador presumo, isso aqui tá pior que almoxarifado de museu. 
- Não quer que eu o ajude? – ela se ofereceu 
- Não. Você tem muitas funções, com certeza uma delas ta carente de você. Obrigado!- ele voltou a teclar no computador e Sarah saiu da sala. 

Imprensa  (Bonenzo)Onde histórias criam vida. Descubra agora