Capítulo VII

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Bonnie se negava acreditar que o homem indescritivelmente machucado era Lorenzo.
O quê ele fazia ali? Por que estava naquele estado? Nada fazia sentido. Ela piscou várias vezes. Precisava agir, o problema era seu corpo que não atendia a nenhum comando seu.
- Enzo? - ela ajoelhou-se diante do homem que parecia estar desacordado. Quando sua mão tocou-o, ela teve certeza que sim, era ele.
- Meu Deus! O que fizeram com você? - ela disse gaguejando, incrédula, nervosa, trêmula.
-Enzo, preciso levá-lo a um hospital- ela segurou a bolsa como quem ia pegar o telefone celular.
- Vou ligar para emergência. Aguenta firme.
-Nã-não- ele disse
-Oh, você está lúcido. Eu vou ajudá-lo. Não se preocupe.- ela respirou aliviada.
-Claro que estou. - ele tossiu.
- Me ajude a sair daqui. - ele se esforçou para levantar.
-Como?- seus olhos se arregalaram
-Meu carro - ele apontou para a BMW branca.- Me ajude a entrar nele - ele grunhiu.
-Meu Deus, Enzo. Você não está em condições de dirigir, muito menos de entrar em um carro, você deve ir para emergência.
-Não, eu não irei a merda alguma de emergência. Me ajude aqui, Bonnie- ele ordenou estendendo a mão para ela.
Bonnie não sabia o que fazer, se dava ouvidos ao pedido dele, ou a sua consciência, que lhe dizia que ela devia levá-lo sim a um pronto socorro.
- Vamos Bonnie, me ajude - insistiu.
-Merda, Lorenzo. - ela esbravejou enquanto passava o braço pesado dele por seu ombro, por mais que tivesse derrotado, sujo e ferido, uma coisa era fato, ele ainda exalava um cheiro masculino muito bom.
- Você é muito teimoso.- ela o ergueu com dificuldade, afinal ele era cerca de 21 centímetros maior que a mulher.
-O que houve com você?
- Nada- ele disse ríspido.
-Como nada?- ela franziu o cenho - Desse jeito eu não posso ajudá-lo. - ela parou um instante.
-Já disse que não foi nada. Apenas me ajude a entrar no carro.
Bonnie, bufou. Sabia que ele era teimoso como um cão, não valeria a pena insistir, ela o ajudou a entrar no carro após pegar a chave que havia caído próximo, então o colocou no banco de passageiro contra-vontade dele, fechou o cinto, deu a volta no veículo e sentou-se no banco de motorista.
- O que você está fazendo? - ele disse pressionando a mão na costela esquerda. Bonnie o ignorou, arrastou os pneus e saiu do estacionamento
Só quando havia chegado na avenida principal ela declarou:
-Vamos encontrar um pronto socorro, vou pôr no GPS.
-Não, eu não vou para pronto socorro nenhum. Por que é tão difícil para você entender isso?- ele pegou alguns papéis toalhas de algum lugar que ela não visualizou especificamente qual, e começou a enxugar seus ferimentos.
- Como não? Você quer ir para onde então, poxa?- ela olhou para ele exacerbada.
- Para um hotel, tem um a poucos metros daqui, um cinco estrelas.
-Você quer ir para um hotel cinco estrelas neste estado? Você é louco
- Só me deixe lá, Bonnie. Só isso. E por favor, olha para o volante, não quero morrer de acidente após ter sobrevivido a um espancamento.- apontou para o parabrisa
- Enzo. - ela fixou os olhos no volante
-Que é?
-Me diga, o que diabos aconteceu?
-Apenas dirija, Bonnie - ele ordenou
-Como você é insolente, teimoso, que ódio de você.- ela praguejou.
- Não me importo.- ele virou o rosto e focou no vidro da janela ao lado.
Bonnie dirigiu até o hotel conforme o GPS indicou, óbvio que extremamente irritada, se dependesse de si, eles iriam para um hospital, mas não podia obrigar um homem da idade de Enzo a fazer nada. Estava por conta dele essa decisão.
-Pronto, seu turrão.
-Obrigado.- ele abriu a porta do carro.
- O que está fazendo?- ela apressou-se para ajudá-lo no processo.
-Sei me virar- ele disse se apoiando no veículo.
- Estou vendo - ela revirou os olhos. Bonnie passou o braço dele sobre seus ombros e com a mão livre fechou a porta.
- Minha arma está no banco traseiro, preciso pegá-la- ele disse
-Sério?
-Sim.- disse em tom de obviedade
-Ok.- ela abriu a porta e pegou uma pistola calibre oito e entregou a ele que colocou no cós da calça.
- Daqui em diante eu posso me virar. - ele fez como quem ia se afastar dela.
- Ah, não vai, não. Fica quieto. Não me irrita.
Ela entregou a chave do carro ao manobrista, caminhou devagar, já que o peso do homem estava quase todo sob si e foi até recepção onde uma das funcionárias assustada se adiantou dizendo:- Meu pai amado.... o senhor precisa de um hospital, talvez da polícia - ela ameaçou fazer um telefonema, mas Enzo se adiantou, não deixando a jornalista sequer explicar por ele.
Abruptamente ele tirou o distintivo do bolso e lançou sobre o balcão.
- Delegado de polícia de Mystic Falls, magistrado do conselho jurídico da Inglaterra e advogado criminalista. - ele declarou com desdém. - Serve?
-Oh, me desculpe senhor- ela desistiu da ideia de chamar a polícia ao olhar o distintivo dele.- Me desculpe. Eu...
- Não importa, amor. Só desejo um quarto, o melhor que tiver, quero roupas limpas, moletom serve. - ele disse dando a ela seu cartão de crédito.
-Ok. Sim senhor- ela declarou fazendo imediatamente a reserva dele.
Bonnie fez careta, ser apoio humano de Enzo não era uma tarefa fácil.
-Obrigado!- Ele disse à mulher assim que ela terminou o cadastramento.
- Ah, o senhor e sua namorada gostariam de algum outro serviço extra? Além obviamente do kit de primeiros-socorros.
Bonnie arregalou os olhos, estava prestes a dizer que não era namorada dele, mas Enzo foi mais rápido.
-Não. Você deseja algo, amor?- ele provocou.
-Não- Bonnie sorriu gentilmente.
Ao chegar no elevador ela o soltou abruptamente, e Enzo desestabilizado quase caiu.
-O que foi ? - ele indagou confuso
-O que foi?- ela bradou.
- Acabou de deixar aquelas funcionárias acreditarem que somos um casal. Mentiu para elas descaradamente.
- Ei - ele a interrompeu
- Eu não inventei nada, elas quem supuseram
- E você não desmentiu. Muito engraçado.
-Ah pare, você é uma mulher desimpedida
- Eu não sou desimpedid...- suas palavras perderam força quando lembrou-se que sim, ela estava desimpedida.
- Sua aliança de noivado cadê? Tira para ir à balada? - ele deu de ombros a ela.
-Muito engraçadinho. - ela fez careta.
- Estamos passando por uma crise... apenas, é normal casais discutirem.
- Sim, é normal viajar para outras cidades para se divertir, também.
- Ah, vá a merda. Não sei porque estou dizendo isso a você, não é do seu interesse minha vida amorosa. - Bonnie deu as costas ao homem ficando mais próxima a porta do elevador e mais distante dele.
Minutos de espera depois, o elevador abriu no andar sinalizando pela recepcionista.
- Me dê a droga da chave e a merda do seu braço- ela arrebatou a chave da mão dele, passou seu braço nos ombros dela e o conduziu até o quarto, abrindo-o, ela ajeitou ele no primeiro estofado que encontrou e voltou para a fechar a porta a qual tivera certa dificuldade, não era muito familiarizada com aquele tipo de fechadura. Bonnie se embaraçou, mas aconteceu que após vários minutos lutando contra a fechadura a porta enfim foi trancada.
Ela passeou seus olhos à procura do moreno e não o encontrou, ela bufou irritada. Ele não se cansava de lhe dar trabalho, só faltava agora está morto por qualquer canto do enorme duplex. Pensou e logo se repreendeu, não desejaria ver ninguém morrer diante de si, nem mesmo Enzo.
- Quem te deu ordem para sair do lugar onde te deixei? - ela gritou ao chegar no outro cômodo, em um quarto tão enorme quanto sala, só assim entendera o valor do aluguel ser o equivalente a de dois meses de seu salário.
- Enzo... eu não acredito que está tomando banho...- ela disse no momento exato em que ele saiu seminu do banheiro, resguardado apenas por uma toalha em volta da cintura.
- Que é isso? - ela lutou para não escorregar seus olhos por cada parte do corpo dele, não que fosse musculoso como um lutador de MMA, mas porque de certa forma Enzo tinha uma viralidade que até a mulher mais fiel do mundo iria ser tentada.
-Estou limpo agora. - ele ainda estava bastante ferido, só que menos ensanguentado.
- Sim, estou vendo, mas não deveria tomar banho ou esfregar a região sem um tipo de produto adequado.
-Sim, eu deveria. - ele aproximou-se da cama e pegou a calça de moletom que estava sobre ela, tudo bem dobrado, ao lado tinha também uma necessaire, certamente o kit de primeiros-socorros.
Ela deduziu.
- Vire- se, não acho que deva me ver pelado assim, não estou no meu melhor dia, amor.
-O que ?- ela gaguejou
- Vamos.- ele segurou na toalha e soltou no imediato momento em que ela virou-se instintivamente dando as costas a ele.
- Você é louco? Meu Deus! Você é louco.- ela disse vermelha de vergonha enquanto o homem sorria atrás de si.
- Pronto já coloquei, pode olhar.- ele disse
Bonnie ainda estava receosa, assustada, pensativa se deveria ou não voltar sua atenção a ele.
- Estou falando sério. Pode virar, Bonnie.
- Ok.- ele virou-se demoradamente com os olhos fechados e só se permitiu abrir aos poucos, e para seu grande alívio, o homem estava de fato vestido....Mas que maldição por que vestido de calça de moletom? A merda lhe caíu tão bem. E por que a figura dele ainda que todo machucado lhe despertava uma certa excitação? Ela não deveria estar tão fissurada nisso.
Ela queria fugir dali.
- Minha cabeça dói bastante. - ele sentou na cama.
Que merda! Não iria deixá-lo ali colocando as tripas para fora, sozinho.
- Vou fazer um curativo em você. - ela sentou ao lado dele, retirou a bolsa, e abriu a necessaire que contia esparadrapo, gaze, álcool, soro e antisséptico.
- Bom, começaremos por onde? - ela o encarou meio confusa. Havia tantos hematomas que nem sabia por qual começar.
- Acho que seria bom higienizar melhor esse soco da costela. - ele apontou abaixo do peitoral que ela não podia deixar de notar que era cabeludo e bem definido. Tocá-lo não lhe parecia uma boa ideia.
- Sim... é claro. - ela colocou um pouco de soro no algodão e deslizou pelo ferimento e sentiu na ponta dos dedos os músculos do abdômen dele contraídos.
- Desculpa. - ela se compadeceu dele
- Tudo bem. Pode continua- ele disse em meio a uma careta
- Quem fez isso com você?- perguntou cuidadosamente.
- Uns bad boys. Eu estava dançando com uma garota. - Bonnie acabou se entretendo que nem notou que pressionou demais a região e Enzo gritou.
- Desculpa.
- Como ia dizendo, eu defendi uma garota e o namorado dela que além de agressivo e pertubado da cabeça, andava em bando, quando sair para ligar para a polícia e denunciar o merdinha, ele e mais quatro vermes, me atacaram covardemente no estacionamento, obviamente que eu também desfigurei alguns deles...
- Mas eles estavam em maioria, e você quase morreu. Eu sinto muito por ela, e você.- completou a jornalista.
- Sim. - ele engoliu em seco.
Bonnie fez o curativo na costela de Enzo, e seguiu para o rosto dele, onde teve que aumentar mais seu contato físico, criando uma fricção corporal entre eles.
Ela limpou próximo a têmpora esquerda, e canto dos lábios, esfregando em um quase um carinho a região.
- Você lembra da primeira vez que fez isso? - ele sussurrou com a voz putamente rouca. Ela odiava o fato da voz dele ser tão atraente.
- Sim. - os lábios dela curvaram um sorriso tímido. - Eu lembro.

Era uma manhã ensolarada de sexta- feira.

Todas as turmas do ensino médio estavam reunidas na quadra para o último jogo do ano, as meninas se aqueciam, com seus pompons, vestidas com seus uniformes de animadoras de torcida, o campo sempre ficava mais verde quando os times de futebol americano se encontravam, assim que jogo começou o Tigres Falcons iniciou a partida largando na frente do Buffalo Bills. E aquilo impulsionava ainda mais Bonnie e suas amigas a se movimentarem durante a coreografia. O ritmo mudou, assim como o humor da maioria do público presente, ao ver o time dos Buffalo's Bills virar o jogo e encerrar a última partida do ano, vencendo pela primeira vez na história os Tigres. Ela obviamente ficou triste com o resultado, queria muito que o seu time vencesse, mas logo superaria aquilo porque meninas têm capacidade de lidar com as adversidades, meninos não.
No caminho para o vestuário Bonnie que carregava a cabeça da mascote -o tigre- encontrou um grupo de meninos do seu time rechaçando um outro jogador do time rival, ela pôs a cabeça do enorme urso sobre a sua e caminhou a pessoas firmes até eles, o garoto tava tão encolhido no chão cercado por outros cinco animais que ela só o visualizou bem quando o grupo se dissipou, ao ouvi-la espernar que iria chamar o técnico Alaric para puni-los. Seu instinto de ajudá-lo a fez se ajoelhar diante dele e checar o rapaz. Bonnie, tirou a cabeça da mascote e mesmo contra-vontade dele, ela retirou seu capacete, e viu que graças a Deus, ele não estava desfigurado, o capacete o impediu de ser machucado, mas ele tinha um arranhão na têmpora direita.

- Meu Deus, Lorenzo. Aqueles idiotas te machucam? - ela disse de olhos arregalados
- Não foi nada, eu estou bem. - ele respondeu friamente. Ele era sempre assim.
- Estou vendo como está bem- ela ironizou. Tirou um lenço do decote e começou a limpar a têmpora machucada do colega.
- Não precisa, Bonnie. - ele murmurou encarando-a vermelho como tomate.
- Claro que precisa, seu bobo. - ela deslizou a mão pelo machucado dele e o limpou.
-Assim está melhor.
- Obrigado!- ele sorriu timidamente, ele tinha um sorriso tão bonito, as poucas vezes que sorria confirmava isso.
- Por nada. Estou retribuindo aquela vez em que me salvou daqueles ...- Shh- ele pediu a ela, pressionando seu indicador nos lábios da baixinha.
- Está tudo bem agora.
- Soube que vai embora para Inglaterra...- ela declarou repentinamente.
- Sim.- ele assentiu. - Não há nada aqui para mim.
- Então acho que devo me despedir de você - ela olhou em volta e não encontrando ninguém o surpreendeu ao selar seus lábios nos dele em um beijo calmo, um beijo a princípio travado, pois o garoto parecia não ter prática na arte de beijar, mas ela insistiu e o beijou se encaixou, molhado, suave e terno.

- Fez aquilo por pena não foi? - ele a tirou de seus devaneios
- Não foi por pena, Enzo. Você estava indo embora... e semanas antes você havia me salvado de ser abusa... -Shhh - ele pediu pressionando seu indicador nos lábios dela
- Não gosto que relembre isso, amor. - os olhos dele cintilavam
- Não foi por pena, acredite em mim.- ela insistiu.
O homem se aproximou mais de Bonnie, colou sua testa na dela, e misturou suas respirações, seu nariz tocou o dela em um roçar carinhoso, e seus olhos estavam fixos um no outro.
- Foi por gratidão- a voz dela saiu baixa e serena. Enquanto os lábios dele tocaram os dela com suavidade.
- Então agora... é a minha vez de te agradecer. - ele sussurrou e levou a mão à nuca dela, então beijou-lhe.

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