Capítulo IV

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Enzo andava apressado rumo a sua sala. 
Seu óculos escuros ajudavam a disfarçar a noite mal dormida que tivera, e não era por causa do artigo difamador que a jornalista havia feito sobre si, ou porque 99% dos seus colegas de trabalho acreditavam no noticiário, pois todos olhavam para ele com indiferença. Não, ele não se importava nem um pouco com isso. Ele estava com olheiras porque havia virado de um lado a outro em busca de uma posição que fosse passível de ficar sem lembrar do sorriso de Bonnie, mas como era mais fácil nascer chifre na cabeça de uma serpente, do que a imagem da bela mulher desaparecer de sua memória, ele acabou não dormindo direito, pois só pensava nela.
 
-Bom dia, senhor xerife. -Sarah saudou, Enzo.
-Bom dia!- ele respondeu seco enquanto se dirigia a sua sala.
- Então, eu tenho uma boa e uma má notícia, qual deseja ouvir primeiro? - ela perguntou
Enzo fingiu não ouvir o que ela havia dito. Ele ainda estava muito chateado por ela ter lhe descrito tão mal para a tal jornalista.
- Sr. St John, o senhor me ouviu? - ela indagou perturbada quando o homem de calça social bem ajustada -por sinal- abriu a porta da sala e entrou visivelmente a ignorando.   
-Sim, ouvi. -ele declarou sem olhá-la.
- O que diabos deseja, afinal? Independente da ordem, ambas notícias serão dadas mesmo e terão o mesmo impacto - já em sua mesa ele retirou os óculos, abriu a pasta e removeu seu notebook de lá.
-Então...- a mulher engoliu em seco, ajeitou a coluna e segurou seus óculos rente ao nariz
-Ontem policiais foram chamados para checar uma denúncia de ataque, do mesmo grupo, os tais dos mascarados.
- E?- ele atropelou a fala dela
-E nada encontraram no local, nenhum vestígio, nada. E isso acabou irritando o senhor prefeito, afinal hoje é feriado de ação de graça e toda cidade se agita com a festa promovida pela prefeitura, é a quermesse mais aguardada do ano. Resumindo, ele está furioso disse que precisa urgentemente que o senhor vá à mídia e tranquilize a população.
-Qual é, está brincando com minha cara?- Enzo deu um sorriso lateral.
E como seu sorriso era putamente sexy a secretária até sentiu calores crescerem entre as pernas.
-Não senhor. – ela disse séria buscando autocontrole
-Não vou a mídia, nem a programa de tv, ou a qualquer um desses veículos de imprensa, dizer nada.
- Mas senhor...
- Nem mais ou menos, Sarah. Não irei e ponto final. Mande-o colocar uma atração circense, que com certeza, todos os cidadãos irão a essa bendita festa, a qual infelizmente eu também serei obrigado a participar. Bom, é  só isso, ou tem algo a mais a dizer?
-Sim, tenho, agora a boa notícia – ela disse sorridente
-Diga! - declarou ríspido
-É que acabamos de ganhar um novo cabo já foi confirmado, o antigo era o Tyler Lockwood, mas ele foi transferido, agora teremos uma mulher, seu nome é Olivia Parker.
-Hum.... ótimo! Assim esse bando de preguiçosos que vivem dormindo dentro das viaturas tomarão um rumo. Se era só isso, está dispensada, pode ir cumprir sua jornada de multitarefas. - ele dispensou ela.
Sarah até pensou em insistir para ficar, mas como já imaginava qual seria a reação dele decidiu se abster.
-Sarah..- o homem a chamou e o coração da funcionária errou uma batida, ela congelou no lugar e encarou ele novamente.
-Pois não- respondeu
-Então... sobre a descrição que você fez sobre mim a tal jornalista, eu quero dizer que você  foi muito branda para quem eu realmente sou, mas isso você só perceberá se suportar trabalhar comigo. -o homem declarou irônico.
-Agora pode ir- dispensou ela.
Sarah nada disse, apenas apertou a maçaneta e saiu. 
Já fora do campo de visão do delegado, ela se protegeu fazendo o sinal da cruz.



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Ela estava com seu pijama diário na cozinha de casa, fazendo panquecas para seu pai.
O velho Rudy, gostava tanto de panquecas que se ela não o controlasse, ele comeria em todas as refeições possíveis, mas como era a filha quem tomava as rédeas da dieta do ex-prefeito, ela o privava maior parte do tempo de comer da massa,  dando-lhe o privilégio de uma vez ao mês comer seu prato favorito. Como era  feriado de Ação de Graça, Bonnie quis agradá-lo.
-Bom dia- ele disse
-Bom dia, pai. Dormiu bem?
-Sim, mas poderia ter tido uma noite melhor, se você, e o idiota que insiste em chamar de noivo, não passassem a noite discutindo pelo celular. – ele sentou a mesa, colocou os óculos e abriu o jornal.
Bonnie ficou constrangida, ela não sabia que tinha sido tão inconveniente a esse ponto, ela e Damon discutiram porque ele insistia em cobrá-la coisas, que o próprio não lhe dava, tipo atenção e carinho. Bom... por mais que odiasse assumir sua relação com Damon estava cada vez pior, e por mais que tentasse lutar por eles, isso estava ficando cada vez mais difícil.
-Desculpa... - ela disse cabisbaixo enquanto derramava o líquido preto na xícara do velho homem.
- Por que você insiste nessa relação, querida? – ele afastou o jornal do rosto só para encarar a filha
- Pai...- ela disse em tom de repreensão
- Me diga Bonnie, porque insiste nessa relação? – persistiu carrancudo. 
- Porque eu o amo – respondeu enquanto caramelizava as panquecas
- Se te fere, te machuca, te deixa mais angustiada do que feliz, não deve chamar de amor.
- Pai... por favor, não vamos começar, já sabemos onde e como isso termina.
-Você merece mais que um homem que só estar contigo porque é um covarde, um inútil que não suporta a própria companhia.
- Não, não é bem assim... – replicou seca
-Ele não é bom para você, morrerei dizendo isso.
- Chega! Tá bom, eu já entendi. – ela colocou o prato com as panquecas e o café diante dele.
- Você um dia despertará, eu só temo não estar vivo para ver.
-Chega senhor, Rudy . CHEGA! - ela gritou.
Odiava o rumo que a conversa sobre seu relacionamento com seu pai, sempre tomava, na verdade todas as vezes que ele se dispunha a falar sobre. Ela odiava porque bem no fundo sabia que ele tinha razão. Ela lutava por Damon, e por sua relação, mas sabia que nunca o teve completamente. Metade dele pertencia a Elena e partiu quando ela também partiu, restando outra metade que morreria de overdose a qualquer momento.
Bonnie respirou fundo.
-Desculpa, Desculpa... eu não quis gritar com o senhor, mas estou cansada, eu estou cansada, pai, cansada de tudo. – disfarçadamente ela limpou as lágrimas que marcaram seu rosto e em seguida deu as costas a Rudy.
- Tudo bem, eu também peguei pesado... eu assumo. - ele reconheceu.
- Hoje é feriado de Ação de Graças, precisamos ficar juntos. Sente com seu velho – ele puxou a cadeira ao seu lado convidando-a.
- Bon, venha me fazer companhia.
Com um sorriso cansado depositado nos lábios ela sentou-se ao lado dele.
- Não quis te fazer chorar. -ele acariciou o ombro da filha
-Não foi o senhor. - ela limpou novamente os olhos.
- Não te criei para vê-la chorar por homens... seja lá quem for eles. Eu ou qualquer outro. Então, trate de se recompor. – ele ordenou em parte sério e em parte brincando.
- Sim senhor. – Bonnie bateu continência e  serviu-se de café em seguida.
- Então hoje terá quermesse? – Rudy perguntou na intenção de mudar o assunto.
-Sim, sim.- assentiu
- E você obviamente irá, correto?
- Não sei, pensei em ficar em casa com o senhor, sei lá, assistindo um documentário ou vendo filmes. O que acha?- ela terminou de passar geleia na torrada e o encarou
-Acho péssimo, pois eu irei a quermesse.- ele deu de ombros .
-Como assim? – ela disse de olhos arregalados enquanto descansava a xícara na mesa.
- Você disse que devo sair de casa, então...
-Mas pai...- começou
-Não, nem tente me convencer do contrário. – ele a interrompeu.
- Vamos os dois. Vamos comer de graça, beber de graça e ver o que há de novo nesse fim do mundo. - o sábio senhor, disse.
- Está  fazendo isso por mim, não é?- ela descansou a cabeça no ombro dele.
- Talvez... sim. – o homem beijou o topo da cabeça da filha.
- Te amo. – sua cabeça se ergueu para olhá-lo nos olhos.
- Eu também amo muito você, minha eterna baixinha. - respondeu.



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