Alianças

2 1 0
                                    

Hella entrou no castelo repleto de grandes corredores em passos rápidos para não ser percebida, mas logo ouviu a voz grave de Benjamin atrás de si quando tocou na porta da biblioteca.
-Hella...-Falou seu pai já com um descontentamento notável.
-Benjamin...-Virou-se para a direção do pai com um sorriso de criança que tinha acabado de fazer uma grande besteira, apesar de que ela não tinha feito nada.-Dia bonito, não é?
-Sim, está ótimo para sair e se envolver com o príncipe das trevas.- *concordo*, foi o que Hella pensou em responder-Eu?
-Você, uma hora fora.-Respondeu o rei sem nem ligar para as negativas exageradas que ela fazia com a cabeça.
-Até parece que você não conhece os descendentes das trevas, principalmente o príncipe e a rebeldia dele.
Ele praticamente havia acabado de chegar.
-Então admite que foi se encontrar com o príncipe.-O rei encarava a menina com seriedade.
Não era muito a favor da proximidade dos dois.
Também nunca deu um motivo concreto para que os dois não mantivessem um laço.
-De que adiantaria mentir, meu pai?- Respondeu Hella simplista e deu de ombros.
-De nada Hella, então por que não me avisou de seu encontro "diplomático" com o príncipe.- Odiava que sua filha lhe escondesse coisas, ou que saísse para se encontrar com Demian sem avisá-lo ou pedir permissão.
Ele tinha convicção que o rapaz do reino oposto levava sua filha por um caminho terrível, até porque não era do feitio da garota fazer esse tipo de coisa. Nunca fazia, exceto quando queria ver o príncipe.
Mas bem, analisando os dados, ele fez com que ela tivesse essa ação. O príncipe não a obrigava a garota a lhe chamar para sair. Muito menos fazia propostas que enchem os olhos da menina a fazendo inocentemente querer vê-lo mais vezes.
Muito pelo contrário, o máximo que o príncipe fazia era não a proibir de nada, não lhe botar cabrestos imaginários. E olhando por este lado- Vulgo o lado correto da situação. E não a história que o rei tivera montado em sua cabeça para disfarçar que estava falhando como pai, desde o princípio quem fazia sua filha errar era o próprio pai. Tentando a proibir de ver alguém que lhe fazia bem.

Hella não gostava de agir assim, mas era a única forma.
Ela não queria fazer isso, mas Benjamin não abria espaço para contra-argumentação.
Era como ouvir uma parede com um gravador dentro, repetidas vezes.
Não importa quantas inúmeras vezes dissesse que não era assim, ou pedisse para que o loop de palavras erradas parassem...nunca iria parar, e mais, a parede nunca ouviria ou mudaria seu discurso.
Nem mesmo se moveria. É uma parede.

-Em primeiro lugar, omitir não é mentir.
Em segundo lugar, eu menti porque você não me dá escolhas. Sabe que ele me faz bem, e me entende, ouve meu lado. Um pouco diferente do senhor.
Mas, o terceiro e mais importante, porque as aspas no "diplomático"?
Sinceramente prefiro ter vários encontros "diplomáticos" com Demian e sermos dois líderes capazes de fazer tudo por aqui prosperar do que viver como você e o Gartelk, cão e gato, sempre brigando.
Ameaçando o tempo todo o próprio povo com guerras sem sentido algum.
Ou até mesmo, como você, que sabe o que o povo das trevas passa mas não faz nada para ajudar pois lhe está ótimo ter sempre novas pessoas vindo para cá para sustentar mais suas coisas e regalias inúteis. De que vale apertar a mão das pessoas e no final as deixar morrer de fome?-Encara seu pai indignada e chocada com sua carga de coragem aleatoria.- Para mim, não vale de nada.
Se você rouba tanto deles, o mínimo seria cumprir o que promete. Ou pelo menos parar de brigar como criança e manter seu povo seguro.
Benjamin engole em seco, no fundo um pouco orgulhoso com a coragem da garota de lhe enfrentar, e também com o fato de que ela usou de forma vantajosa as palavras.
Não restou muito além do truque que os pais repetiam sempre.
Ignorou tudo que lhe foi dito e foi exatamente ao ponto em que a garota errou, mesmo estando dez vezes-Se é que isso não é pouco-mais.
-Claramente não é algo diplomático.
Você mantém uma ligação maior com o Demian.
-Pela diplomacia.
-Diplomacia? Vocês são amigos.
-E qual o grande problema até então? Não entendo a sua implicância com uma boa convivência, pai.
-Você nunca entenderia. Mas é para o seu bem.
Então, qual foi o assunto diplomático da vez?
-É para ser sincera?
O assunto foi como vocês falham com seu povo.
O Gartelk os deixando em miséria, e você, agindo como um idiota e roubando de seu próprio povo. Sendo que nem precisa disso.
-Então foi esse o assunto diplomático?- Ri-até parece que você se importa com diplomacia, Hella.
Quantas vezes já andou por Moff, quantas vezes apertou a mão desse povo que tanto ama? Você nem entra lá sem segurança e escolta porque sabe o quão perigoso é.
-Está agindo como um idiota de novo, é um recorde, Benjamin?
Você está simplesmente resumindo um povo inteiro a sujeira porque um ou outro é ruim.
Você sabe quantas pessoas ruins tem aqui. Não se faça de sonso.
-A questão não é o lugar de onde vieram
-Ah, é sim, óbvio que é.
Você acha que não percebo a diferença entre como você trata um descendente das trevas que mora aqui para um que mora em Moff.
Posso ser muito do que você diz sobre mim, até irresponsável, mas cega eu nunca fui, meu rei.
-Hella eu...
-Você, exatamente, sempre você.
Está culpando todo um povo e lhes limitando a brutalidade para justificar algo que é culpa sua.
-Minha?- Respondeu incrédulo.
-É claro que sim, eles são assim exatamente porque pessoas como você os julga.
Morrem pessoas todo dia nas vielas daquele lugar, eles aguentam isso sem falar nada. E quando chegam a um grupo social são tratados com medo, desprezo, nojo ou piores coisas. Você sabe que no início muitos descendentes das trevas apanhavam e eram assassinados quando vinham para este lindo lugar hipócrita.
-Mas eu proibi isso.
-Ah, incrível, e quer o que? Palmas!?
Você fez o mínimo, na verdade, nem isso.
Sabe que acontece ainda. O que você está fazendo para mudar mesmo, meu pai?
Você faz o que lhe é bom e o que não te tira da merda do seu conforto.
Você fez a lei para que mais gente vinhesse e você tivesse mais dinheiro e boa fama.
Mas você sabe que continua acontecendo, contudo, como custa um pouco de tempo e esforço óbvio que você não vai fazer nada.
Não lhe afeta, porque sairia de seu conforto hum?
-Hella eu não tenho paciência para seus dramas infantis.
-H i p o c r i t a. -Hella sorri-É isso que você e toda essa classe mais alta são.
Hipócritas. Que os falecidos deuses me perdoem, mas o pior erro que já fizeram foi ter decidido deixar os clãs nas mãos de uma família tão suja quanto a nossa. Sua descendência e o que eles fizeram em poder me assusta. Eu tenho pena do que o povo das trevas sentiu. Eu sinto o medo deles correr pelas minhas veias. E você sabe que eu tenho privilégios. Também sabe que apanhei porque a cor do meu cabelo não é tão clara.
Sabe que se eu sair debaixo de tuas asas e alguém não souber que eu sou da família real eu vou ser julgada. E isso só porque meu cabelo é minimamente mais escuro, meu pai.
Imagine se eu fosse de fato um pobre coitado do clã das trevas...-Ri-Você sabe muito bem qual seria meu destino se ficasse lá ou viesse tentar a sorte aqui.
Você apenas fecha os olhos para não admitir a sua culpa.
Agora, se me der licença , eu vou ler. É melhor do que olhar para você agora ou ouvir seu ataquezinho sem sentido, até porque, você sabe quem está certo aqui. Mas você é o rei. Sempre está certo, até quando está errado não é?- Hella se vira de novo, entra na biblioteca e tranca a porta.
-Hella...-Sussurrou o rei do lado de fora e encostou na porta.-Você não entenderia...e eu não posso lhe contar...Você iria querer interferir em tudo e faria exatamente o que não pode ser feito...me desculpe, minha filha.-Benjamin respirou fundo.- Mas realmente tem coisas que são minha responsabilidade.-Virou-se de costas e saiu dali.

A Clave: A Luz Que Reina Sobre TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora