A Clave: A Luz Que Reina Sobre Trevas

Hella Helsin

Fazia dias que Hella não via Demian. Muitos dias.
No início foi difícil, era inegável. Mas, depois de um tempo se tornou só uma lembrança desagradável.
Era simples, ela só pensava que tudo aquilo tinha sido um erro, que nunca de fato daria certo, aquela era a única forma de tudo acabar. E foi exatamente assim que acabou. Como todos esperavam, como os dois fingiam não esperar, ou ela fingia. Porque ele parecia querer que acabasse assim.
Então, como a pessoa que simplesmente ergue a cabeça e segue em frente que era estava jogada na poltrona com uma carranca.
—Helsin?– Uma voz suave a chamou na porta do quarto. E só tinha um ser que a chamava desta forma. Então ela se endireitou imediatamente e virou para ver Antony.
Um cara alto, de pele morena, cabelos pretos como a um buraco dimensional.
—Ah, oi Ant– Sorriu gentilmente e apontou a cama —Senta aí. Novidade você vir aqui.
—Coordenar um exército das trevas têm me tirado um tempo considerável.– Ele sorriu graciosamente. Ele era graciosamente irritante. Mas talvez de todos os concorrentes à mão de Hella ele fosse o melhor.
Ela não queria se casar. Mas se algum dia por algum azar do destino tivesse que o fazer, provavelmente seria com ele.
Não. Hella não sentia nada por ele, ao menos achava que não.
Mas, ele era educado, forte, decidido, e mais outros adjetivos que faziam o pai dela se referir toda vez a ele como "Um bom rapaz" ou "O rapaz ideal". Talvez fosse. Talvez não. Mas era a última coisa que ela queria pensar no momento.
—Imagino que sim– Fitou o garoto de cima a baixo. Ele usava roupas neutras, com cortes perfeitos e retos. Era inegável que caiam bem.— Mas, o que veio fazer aqui?
—Recebi algumas notícias preocupantes.
—O que houve?– Hella falou e assistiu ele andando calmamente até a cama e sentando na ponta.
—Vire-se para mim, por favor.
—Hum, claro.– Ela virou um pouco a poltrona ficando de frente para ele e imóvel
Aqueles olhos pareciam procurar o fundo da alma dela.
—Seu pai me disse que você não estava bem.
O que aconteceu?
—Mentiras.
Não é querendo dizer muito, ou ofender, mas meu pai não me conhece.
—Você não respondeu. E ironicamente isso já me responde muito, Helsin.
Realmente aconteceu algo. A questão é: O que houve?
—Nada tão relevante para me tirar de órbita.
Mas não era esperado.
É algo que não estava em meus planos, eu perdi alguém. Alguém que eu nunca tive.
—Ah, Helsin– A voz dele era realmente confortante— Vejo em seus olhos que você sente falta do que perdeu.
Mas veja, nem tudo sai como o planejado. E está tudo bem. Você só precisa seguir.
—Eu estava tentando fazer isso.
Mas tornar o simples rompimento de uma amizade que já nem era mais a mesma em um assunto recorrente não é a melhor forma de me ajudar com isso.
—Desculpe-me se fui inconveniente, podemos sair para tentar espairecer. Se achar melhor, é claro.
—Não, não. Não é você.
Minha mente está uma confusão e eu…eu não esperava dele.
Não sem um motivo.
—Tem mais algo preocupando você?
—Tem…
—Você pode falar comigo. Sabe disso.
Mas se eu estiver te pressionando, me fale, eu paro imediatamente.
—Não está.
É que…a cerimônia de coroação.
Iríamos juntos receber aquelas malditas coroas. E eu não quero mais ver ele, assim como ele não quer ver nem mesmo a minha sombra. E então, vai ter que adiar tudo aquilo, ou alterar as coroações.
Sendo sincera, meu pai obviamente vai interferir e deixar a minha por último.
E até aí tudo bem, mas assim que eu assumir a coroa, eu tenho que lidar com ele.
E a nossa relação não é das melhores.
Não quero ser como nossos pais.
E ainda tem o último motivo, se ele desistir da coroa, meu pai não me deixará assumir até colocarem um novo sucessor no clã das trevas.
Por que? Porque o Gartelk é perigoso e assassino, e cruel e…–A garota soltou uma descarga de ar enorme enquanto relaxava o corpo na poltrona voltando a virar uma poça de água— Eu não quero a coroa. Quero dizer, eu não queria.
Mas eu vi esperança nos olhos daquelas famílias. Esperança de mudança e eu posso fazer essa mudança. Você entende?– Fala ainda meio hesitante.
—Ele desistir atrasaria a sua posse da coroa?
—Foi só isso que você prestou atenção?
—É claro que não. O que você pensa sobre mim?
—Eu… desculpa. Eu não consigo confiar com facilidade em quase ninguém. Não mais.– Não mais depois que meu melhor amigo, mesmo com uma relação ruim, melhor amigo, me colocou na ponta de uma foice.— A intenção não era ferir a sua índole. Jamais o faria. Você se dispôs a sair de sua rotina para me checar– Mesmo sabendo que não tenho dois anos, sei me virar sozinha, odeio o fato de você simplesmente aparecer aqui sem avisos, ter ignorado tudo o que me deixa apreensiva e ter focado na coroa como qualquer pessoa faz. Odeio admitir também que ele era o único ser que não tornava a coroa a única coisa que eu sou.— Obrigada.
—Eu posso resolver isso para você.
Sua coroação ainda pode ser adiada. Muito provavelmente devido a relação de vocês.
Mas, vou tentar convencê-lo de que não é bom passar a coroa para a mão do pai por mais um longo período.