A coroa

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Demian estava sentado na sala, lendo um livro sobre estratégias de guerra.
Por quê? Era o que lhe restava.
Já tinha treinado, andando à cavalo, já tinha feito até seus exercícios. Então, ele arranjou um livro qualquer jogado por qualquer canto mas que parecia ser de um grande guerreiro com base no tanto de vezes que ele já tinha ouvido falar do livro de estratégias de guerra. Não funcionaria muito bem usar aquelas estratégias porque o livro era de alguma forma famoso –Então, se seu adversário souber exatamente o que você irá fazer e está preparado para um contra-ataque dez vezes mais forte. Se está tudo pronto para sua derrota se você se firmar a esse plano, porque você atacaria dessa forma mesmo assim–,então o livro era só qualquer passatempo que ele havia achado.
—Algo de interessante?–Gartelk apareceu como uma sombra atrás de Demian olhando por cima de seu ombro para ver o que ele estava lendo.
—Não.
—Como se sente?
—Com o que?
—Não fala com a herdeira do clã da Luz faz um mês e parece que aceitou a coroa.
—Por que isso faria diferença?
—Demorou tanto para se afastar dela que pensei que nunca o faria.
—Mas fiz. Já estabeleci a relação diplomática que precisava.
Vou governar com mais tranquilidade do que o reino atual.
—Aceitou mesmo a coroa?
—Tenho uma outra escolha?
—Deixar que eu escolha um substituto, que vai se casar com Hella, matá-la, e tomar o reino da luz.
—Fora de cogitação.
—Por?
—O senhor sabe muito bem, melhor que ninguém, que isso é contra as forças maiores.
E tem chances do seu plano genial de que seu substituto seja julgado por todos em Foursend e morra em praça pública. Além de todos os motivos possíveis para culpá-lo e tirá-lo do poder, ele nem sequer é do clã da Luz. Então acredito que sem uma rainha ou qualquer coisa que remeta a presença do clã no poder, acredito que ele perderá o cargo e morrerá.
—Bem pensado, mas–
—Fora de cogitação, meu pai. Eu não vou ceder meu trono. Implorei por isso a minha vida toda. Perdi tudo que tinha por isso.
Agora que eu aceitei e não tenho mais nada ou ninguém para perder você acha que vou simplesmente desistir? Me desculpe, mas não.
Não vou render a você mais uma enorme época para transformar a vida de mais e mais pessoas num inferno.
—Então é isso?
—Sim.– Demian respondeu e sentiu seu pai se afastando, mas logo o som dos passos parou e eles retornaram para tão perto quanto antes.
—Ah, meu filho– Chamou com um tom de satisfação escondido na voz.
—O que quer afinal?
—Sabe me dizer se o Antony sempre foi tão agressivo? Ou se sempre teve marcas no braço?
—Agressivo? Acredito que só em trabalho já que ele governa nosso exército. Não há muito o que fazer. São rudes por natureza. É de clã.
Agora, as marcas, não faço a mínima ideia. Quase sempre anda coberto. Casacos, ternos e armaduras.
Algum motivo específico de seu interesse por ele?
—Hum, nada. Apenas soube que ele matou mais de quinze pessoas no clã durante esses dias. Dizem que ele aparenta estar estressado e perde a cabeça facilmente com qualquer um.
—Pessoas de cabeça quente não costumam viver muito.
—Não fica preocupado?
—Com?
—Mais mortes.
—O que eu tenho a ver com isso? Se não sou eu quem está matando ou morrendo, não me importo.
Tudo o que tinha para falar com ele falei a alguns dias atrás. Avisei para tomar cuidado com as ações.
—Que ações especificamente?
—Eu conversei com ele. E não com você.
Você realmente não tem que saber o que eu converso com seja lá quem for.
—Justo.– Gartelk sorriu e se virou novamente indo embora.

Hella se encontrava jogada na cama.
Havia terminado uma série de livros e agora se perguntava o porquê tinha que ter lido tão rápido.
Ela estava entediada, fato. Mas, não queria ter praticamente devorado uma série tão boa tão rapidamente.
Desejava voltar no tempo só para saborear cada página, sensação, reviravolta, sentimentos e surpresas dos cinco livros jogados com ela na cama.
—É nesse momento que algo muito bom acontece e me tira desse dia horrendo?
—Acredito que não.
—Oi, pai– Hella sorriu e levantou da cama em um salto indo direto dar um abraço no homem mais velho.
Benjamin sorriu, contente pelo abraço apertado.
—Oi, meu anjinho. Vejo que estava em um momento de tédio absoluto.
Eu atrapalho?
—Jamais.– Diz se afastando e puxando o pai para sentar na cama.— Como você mesmo viu, é tédio puro.– Ela afastou um pouco os livros. Mesmo que pudesse pegar inúmeros outros livros do mesmo, e até todas as edições, machucar a capa era machucar a si mesma. Fisicamente. E doía mais do que bater o dedinho.
—Às vezes ficar no tédio é melhor que conversar.
—Lhe asseguro que não é o caso, querido Benjamin.– Ela falou e ele riu. Não havia humor. Mas Hella estava protegida. E isso o deixava tranquilo.
Sem o perigo que Demian carregava.
Quer dizer, ainda tinha sim um perigo, no entanto, era improvável já que quem estava ao lado dela agora era alguém apaixonado por ela, e que jamais lhe faria mal. Mal como Demian com certeza faria.
—Como se sente?
—Bem!
—Sente falta dele? Ainda dói?
—Não e não. Foi só um choque. Tudo bem, de verdade.
—Eu fico feliz em ver que você está segura Hella, sem ele por perto é melhor para você e– Hella interrompeu o pai com um sorriso compreensivo e segurou suas mãos.
—Nós não precisamos falar sobre isso, pai.
Eu entendo que você só queria o meu melhor, que fui teimosa, que quebrei a cara e que não foi por falta de aviso. E está tudo bem.
É só seguir em frente.

A Clave: A Luz Que Reina Sobre TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora