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–Senhor Demian! Por favor, peço que saia. 
Acabou de chegar uma carta, e a senhorita Hella quer encontrar com você—Falou uma das empregadas do lado de fora do quarto iluminado apenas pela janela.–Mas já começa o dia assim?— Responde sem nem se mover na cama. No dia anterior o garoto havia saído em missão diplomática por toda Moff, visto coisas que ninguém deseja ao seu próprio povo.  Dito isto, a noite de Demian não teria sido das melhores, muito menos seus sonhos–O que aquela criatura mimada quer comigo?
–É pela diplomacia, breve vocês terão de governar juntos sendo completamente opostos.
Então o mais recomendado é aumentar o convívio logo e criar uma aliança forte. Quem sabe assim você possa ter mais poder até que o seu pai, que prefere se recolher apenas a Moff.

–Diplomacia é?—Demian soltou uma risada um pouco baixa. –Claro.
–E seu pai disse que seria bom você sair, e quem sabe achar uma dama para reinar ao seu lado, não?
–Não.—O garoto levantou-se de forma preguiçosa e foi em direção ao banheiro.– Que horas foi marcado, hum?
–Ás dez, senhor!
–Ótimo, chegarei às onze.
–Mas se..— A empregada tentou ir contra a atitude "rebelde" do seu patrão.
–Tchau, tchau—Respondia ele já de dentro do banheiro mostrando que não muito valeria se ela tentasse convencê-lo do contrário.
–Até mais senhor—Fez uma reverência em frente à porta fechada e foi embora. 
–Diplomacia, no máximo ela está entediada.
Pois o problema é dela.— Demian tirou a blusa a colocando em cima da pia e saiu de novo do banheiro. Apoiou a mão direita no chão e começou a fazer flexões–Me pergunto quem ela acha que é para impedir meu sono.
Agora pensando aqui, seria ótimo casar com a mais chata das garotas, e criar um interesse enorme pelo trono, só para ver o velho perdendo a paciência. Seria icônico!—Demian continuou por lá por mais de 30 minutos esvaziando a cabeça enquanto fazia seus exercícios matinais. 

Finalmente levantou, com muita relutância e foi em direção ao banheiro novamente.
Tirou o short de algodão que havia usado para dormir juntamente com sua cueca e pisou dentro do box. 
Andou um pouco mais até ficar sob o chuveiro.
Estendeu a mão de forma preguiçosa até o registro do chuveiro o girando e esperando as primeiras gotas de água caírem e formarem um rastro quente por sua pele. Este era um dos poucos momentos em que Demian tinha paz.
O garoto terminou de tomar banho depois de alguns minutos.
Pegou a roupa no chão e guardou dentro de um cesto.
Pegou a toalha e a prendeu na cintura, andou até a frente do espelho ainda com preguiça e pensando em porque simplesmente não havia negado aquele encontro como havia feito várias vezes.
Passou um creme no cabelo e se livrou de algumas marcas de pêlos nascendo em seu rosto.
–É, vou adiantar. Não quero me atrasar— Soltou uma risadinha sabendo que para o horário que a garota ordenou ele já estava obviamente atrasado.
Arrumou o cabelo, passou um perfume e saiu de lá de dentro.–Hum..—Ajeitou a cama e vestiu a roupa, tudo na maior enrolação do mundo para incomodar seu pai e talvez Hella.
Por fim, desceu calmamente até a sala de jantar para tomar café da manhã.

–Bom dia, lorde Gabriel.—Cumprimentou o pai e sentou-se na ponta da mesa desnecessariamente grande, afinal, nem tinham reuniões ali. De que servia aquele monumento colossal? 
–Lorde Gartelk, príncipe Demian.— Corrigiu sem nem olhar os olhos do filho.
–Mi Lorde Gartelk.—Falou enquanto debochava de um sotaque aleatório.- Melhor, meu pai?
–Rebelde sem causa.
–Velho em decomposição.
–Coma logo, já está atrasado demais.
–Que bom que já está sentado.—O pai o olha com uma feição de confusão e então ele completa.–Esperar que eu termine em pé lhe cansaria, e suas juntas já não são mais as mesmas. E se são, acho que deveria procurar um médico.
–Você é um idiota, Demian!—Tomou um gole do vinho branco na sua taça e se levantou.– Você tinha de tudo pra ser meu maior projeto.
O maior de todos os reis, quem conquistaria os dois reinos.
Mas, além de burro é infantil.—Totalmente alheio ao olhar de desprezo que seu filho lhe lançava o rei se levanta e sai da mesa.–Se quer que eu coma mais rápido acelere o tempo, vossa majestade—Retrucou ele sem nem mesmo ter encostado em todo o banquete a sua frente–Que bela manhã…—Assiste seu pai ir embora e só então se levanta–Tenha um bom dia, meu pai. Perdão, mi lorde.– Grita para o pai marchando no corredor. 
–Gritos...Eu já lhe disse que isso é coisa de idiotas. Aumente seus argumentos e não seu tom de voz, seu retardado.– Reclama e abre uma porta no final do corredor se confinando de volta a sua sala.–O senhor não vai comer?—Pergunta a empregada ao ver o príncipe se levantando.
–Não, não.
–Então porque irritar seu pai?—Demian pensou sinceramente em responder "porque estava afim.", contudo, repensou pois ela estava preocupada com ele.–Eu? Irritar o lorde das trevas? Jamais.—A empregada balança a cabeça em negação mas não ousou dizer outra palavra, apenas fez sinal para que outra empregada viesse.–Príncipe, seu casaco, está frio.—A outra empregada estende o casaco para que o garoto pudesse vesti-lo.
–Ah...sim…—Coloca um dos braços no casaco e depois o outro.- Não precisa disso tudo, eu não sou uma criança.-Diz enquanto imóvel esperando a empregada arrumar qualquer dobra de seu casaco.
–Claro que precisa, irá ver a princesa da luz e você é o príncipe e futuro rei das trevas.—Se segura para não virar os olhos.
Parecia ser burrice não perceber que nunca se tratavam de assuntos comerciais e que a menina só o queria por perto pois ele era o único que a entendia, já que os dois sempre se viam, e sempre foram um pouco restringidos de contato com pessoas alheias, e com pessoas alheias quero dizer qualquer um jovem não esnobe e que não fosse filho de algum contato importante dos reis. 
Ela teve mais liberdade que ele quanto a isso, clã da luz, amigável e amorosa, é, o de sempre.–Obrigado. Com licença.—Sai andando quando a empregada finalmente termina de ajeitar tudo quanto é canto de suas roupas.
Demian saiu do castelo e foi até o estábulo, pegou seu cavalo e saiu.
Atravessou a cidade tentando não olhar para os becos e vielas.
Não é que sua cidade fosse de todo ruim— Até era—mas, nos becos... lá havia mais tristeza que o normal. Mais fome, e mais mortes.
Também não era o tipo de coisa que seu pai não sabia, qualquer rei que passou por ali tinha plena consciência do estado que seu povo se encontrava.
 Ele só não se importa mesmo, e se questionado dizia que assim formava guerreiros mais fortes, acostumados com extremas necessidades e fome.
O que não era mentira de certa forma, os guerreiros de lá eram indiferentes, não hesitavam se necessitasse arrancar a cabeça de seus inimigos, muito menos tortura-los.
Era cruel, cruel em um nível absurdo, mas tudo lá se desfazia em trevas, como poderia ser diferente? Como a coroa poderia ser mais que apenas espinhos pesados e afiados?
Era triste a forma que agiam em batalha, mas muito bom, pois desde a imposição de seus homens e mulheres frios e fortes em campo não tinha um que ousasse levantar a voz, bater de frente, ou até apenas pensar em guerrilhar com o povo das trevas.
Isso também havia lhe concedido privilégios, o egocêntrico clã da luz engoliu alguns sapos calado, não que não aguentasse uma guerra, longe disso, seria certamente uma batalha equilibrada. Mas também tinha a certeza de que não seria fácil.
Seria mentira se dissesse que nunca pensaram nessa ideia.
Pois pensaram, e por todo o castelo da luz se tinha o boatos de que o Deus regente era contra a batalha e teria punições, mas como ainda justo que era, declararia o clã com maior baixas submisso. Não unificando o poder dos dois reinos, pois ele era contra isso de todas as formas e havia proibido os clãs de fazê-lo, a idéia de submissão vinha dos seguintes termos; o clã com mais baixas nunca, em hipótese alguma poderia assumir uma faixa de poder outra vez.
Analisando bem, perceberam que não seria uma boa tentar a sorte contra guerreiros violentos...se fosse para vencer, eles talvez conseguissem por estratégia, mas por maior número de mortes, nesse caso era um pouco improvável.
O príncipe finalmente chega até a praça, para, e desce do cavalo.
Um homem o olha com claro desprezo e nojo, mas ainda assim, por obrigação se põem a serviço.–Lorde Demian, desculpe-me o importuno de me referir a você, mas, como meu trabalho é esse não tenho outra escolha.
Se importaria se eu levasse seu cavalo até um lugar onde posso prendê-lo?
Demian pensou diversas vezes em mandar ele parar com a formalidade ou simplesmente calar a boca já que estava claro na cara do serviçal seu mais puro rancor pelo príncipe.
Mesmo que nunca tivessem se esbarrado ou conversado alguma vez em toda eternidade.
Demian optou apenas por um ato.
Estendeu a rédea do cavalo para o homem que lhe mal julgava antes de ouvir duas palavras de sua boca e se limitou a dizer:–Leve.—Optou por ser frio com sinceridade, era muito melhor do que tratar alguém com tamanha falsidade, como a do homem que lhe oferecia ajuda.
–Sim, senhor.—Pegou o cavalo e saiu.
–Pobre cavalo, deve ser terrível conviver com aquele ser.—Reclamou quando já estava longe o suficiente para que Demian não ouvisse, e ele ouviu mas optou por fingir que não.
Não valeria a pena descutir, ou mesmo reclamar.
Estava óbvio no rosto dele desde o início, a feição do príncipe das trevas nem sequer mudou ao ouvir o desprezo nas palavras do homem aleatório, estava tão acostumado com isso, em qualquer lugar que ia.
Qualquer lugar, até mesmo em casa.

–hum…—Deu de ombros ajeitou o casaco e começou a caminhar indo em direção a uma garota sentada em um banco, de cabelos um pouco mais escuros do que o normal no clã da luz e então ele soube que era Hella, mesmo de longe.– Mimada.—Falou de forma preguiçosa parando em frente a menina.
–Criatura das trevas.—Hella sorriu gentilmente.–Não tocarei sua mão pois sei que ver meu belo rosto já é alegria o suficiente.
–Você não imagina o quanto estou feliz por te ver.—Responde ironicamente.
–Foi por isso que demorou? Passou uma hora surtando pela honra de vir me ver?
Ri–Claro.
Uma hora inteirinha.— Fica sério de novo–Porque pediu pra que eu viesse? 
Estava paz na minha casa, na minha cama, longe dessa sua voz irritante.
–Você é um idiota
–Me diga algo novo e eu digo se esperava.
–Senti tanta falta...
–Eu disse algo novo, Hella.—Ri.
–Não falei de você, e sim disso aqui.— Hella aponta o dedo na direção do cabelo de Demian e faz um movimento circular formando um pequeno tornado bagunçando o cabelo do menino.
–Mimada e infantil, eu esqueci de adicionar infantil.— Ri e passa a mão no cabelo para arrumar de novo.
–Eu prefiro antes, credo.
Arrumado você fica muito feio—Bagunça de novo o cabelo do menino.
–E quando não estou arrumado hein, senhorita insuportável?—Sorri
–Ah, aí você é só feio mesmo.—Ri

Demian ri e se senta ao lado da menina no banco.–Pena que não posso dizer o mesmo.
–Porque eu sempre estou linda.
–Permita-me corrigir a senhorita, querida dama da luz, não existem momentos em que você esteja menos feia.—Sorri
–Sempre um babaca, não é lorde Demian?—Hella falou de forma doce.
–Sempre incoveniente, não é dama da luz?—Respondeu o garoto no mesmo tom.
Hella ri–Me diga, como está Moff?
–A mesma merda…—Balança a cabeça em negação.–Tive de sair ontem, nunca odiei tanto um momento.
–Imagino—Encosta-se no banco e deixa o pescoço pender para trás.
–E a capital? Quanto roubo?—Hella olha para Demian incrédula e depois ri–Audácia falar assim.
Diria que é um mentiroso, mas isso não é mentira.
Continua a mesma coisa.
A única coisa que mudou durante essas semanas foi a pressão sobre conversar com meu povo—faz sinal de aspas–Para conhecer melhor e criar laços para ganhar apoio e enfim...assumir o trono.
–Bem vinda a minha vida, insuportável.—Encara a visão a sua frente sem nem focar ou prestar atenção no que estava vendo–Eu também estou nessa, mas é desde que aprendi a me comunicar basicamente.
Eu carrego o peso da coroa sem nunca tê-la sentido em minha cabeça, Hella.
–E também o peso dos chifes—Ri
–Cara, eu nunca namorei—Ri
–Te chifraram sem ter nada? Você só se afunda mais lorde das trevas.
–E tu, já pensou em tomar?
–O que? Chifre?
–Não, conta da sua vida mesmo.
–Retardado…—Sorri e levanta–Tenho que ir, pedi pra que viesse uma hora antes.
–Está reclamando enfia o pedido de volta na garganta—Fala com a voz meiga.– Estou livre de você—Levanta em um salto e se vira de costas.
–Espero que você morra na ida.— Responde no mesmo tom.
–Desejo isso e mais umas três mortes diferentes a você.
–Idiota.—Falou Hella enquanto saía.
–Mimada.—Respondeu Demian enquanto também caminhava em direção contrária.

A Clave: A Luz Que Reina Sobre TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora