Nas Batidas do Seu Coração

40. Jungkook

03/01/2017

Na escola eu não fui a pessoa mais comportada do mundo, não tive muitos namoros que realmente levei a sério, não era esse tipo de pessoa, mesmo assim... Aqui estava eu, sorrindo feito um idiota por causa de um beijo na bochecha.

— Você está muito feliz esses dias — Mãe Colleen disse, semicerrando os olhos para mim enquanto estávamos os três sentados à mesa do café. — O que aconteceu?

— As aulas voltaram — Respondi com simplicidade — Sinto falta da faculdade.

— Também não precisa mentir na cara dura — Mãe Yuna rebateu.

— Vocês desconfiam muito do próprio filho, quanta maldade.

— Ele puxou todo o seu sarcasmo — Mãe Yuna acusou, apontando um morango na direção de mãe Colleen, que bufou em discordância e respondeu.

— Puxou toda a sua ironia.

— Suas piadas ruins!

— Sua falta de organização!

— Sua...

— Estou saindo! — Interrompi antes que aquilo se tornasse uma discussão maior e eu fosse o voto de desempate de novo — Até mais tarde!

— Tchau, Kookie — Minhas mães disseram ao mesmo tempo.

Saí de casa um pouco mais cedo que o normal, os limpadores de neve ainda tentavam limpar as ruas, a primeira neve do ano tinha se transformado em uma pequena nevasca, era muito mais seguro sair de casa a pé.

Nos últimos dias eu não pensava em outra coisa a não ser o beijo de Taehyung e no que aquilo poderia representar, uma chance, uma possibilidade, eu não sabia muito bem como chamar aquilo ainda, mas com certeza era alguma coisa. Talvez Taehyung estivesse tentando esquecer o fora que tinha levado, tentar algo novo...

— Que surpresa ver você aqui — Brinquei quando vi Namjoon me esperando no portão como sempre — Achei que estaria de plantão no quarto de Jimin.

— Engraçado você — Namjoon revirou os olhos e andou comigo até os prédios de Administração.

— Ele está bem? Não que eu me importe.

— Ele está, sim, acho que não vai demorar a receber alta.

— Ótimo, vai voltar a me encher o saco.

Namjoon apenas riu baixinho e nos separamos quando ele foi para a divisão de Economia e eu segui para a de Administração. A volta às aulas deixava tanto os alunos quanto os professores em um tipo de pausa, então as aulas da primeira semana de janeiro eram praticamente pura enrolação, agradeci quando chegou o horário do almoço e me juntei a Namjoon novamente.

— Saco — Ele reclamou, checando a nova grade horária — Ciências Políticas agora.

— A sra. Crawford continua viva? Achei que teríamos sorte depois do recesso.

— Você não vai para o céu.

— Ela também não.

— Vejo vocês lá embaixo se for assim.

Namjoon riu enquanto guardava o horário de volta na mochila, percebi que ele não estava comendo nada, o que era estranho, Namjoon costumava almoçar rapidamente, queria voltar para a sala depressa e arranjar um bom lugar. Nerd.

— Está tudo bem? — Perguntei e Namjoon assentiu.

— Claro, só estou um pouco confuso sobre algumas coisas. E você? Não conversamos sobre aquilo.

Com "aquilo" ele se referia ao meu amor platônico por Taehyung, realmente tínhamos evitado voltar a tocar no assunto, eu não queria forçar Namjoon a escolher um lado, era uma situação estranha e eu sabia que Taehyung era o que Namjoon tinha de mais precioso, ele não saberia o que fazer caso o irmão mais novo se machucasse, muitas vezes eu odiava essa atitude, era um dos motivos para eu não me aproximar de Taehyung quando ele era pequeno, não gostava que Namjoon se privasse de tantas coisas por causa dele. Agora as coisas eram diferentes, meus sentimentos ficavam confusos quando eu tinha que escolher um lado, principalmente agora que eu podia ser... Que tinha a possibilidade de eu talvez ser correspondido.

— Não se preocupe — Respondi — Estou resolvendo isso.

— Tenho medo disso.

— Engraçado...

— Estou falando sério, Jungkook — Namjoon me encarou profundamente — Você está bem?

— Eu... vou ficar. Vou ficar bem.

Namjoon sorriu, compreensivo, acho que ia dizer mais alguma coisa, mas nesse momento Jihye apareceu, tinha um sorriso no rosto e parecia bem mais leve que sua postura habitual, até mesmo suas roupas transmitiam uma estranha felicidade, ela estava usando um vestido rosa bem claro.

— Oi, Jungkook — Ela acenou para mim e sorri — Namjoon, Jimin vai sair de alta!

— O quê? Quando? — Namjoon se levantou imediatamente.

— Agora, estou indo até lá. Quer vir comigo?

— Claro — Ele já estava saindo quando voltou e procurou uma coisa nos bolsos — Temos que conversar depois, ouviu?

— Tanto faz — Dei de ombros.

— Aqui — Namjoon me deu um molho de chaves — Taehyung vai vir aqui, dê as chaves a ele se eu ainda não tiver voltado, papai não está em casa.

— Certo, mas e as aulas?

— Estamos em janeiro, vai ser pura enrolação e ainda consigo escapar de ciências políticas.

— Vai ficar marcado na lista negra de Crawford por isso! — Gritei, acenando enquanto ele se afastava com Jihye. Namjoon apenas sorriu e deu de ombros. Kim Namjoon apaixonado, quem diria?

O restante das aulas transcorreu de maneira tediosa, tentei distrair Lila enquanto ela lutava contra o tédio para prestar atenção nas aulas, ela tinha uma concentração de ferro e não me deu atenção, era muito irritante ter amigos inteligentes. Quando as aulas acabaram, Lila não pensou duas vezes antes de me dar tchau e correr para o Departamento de Artes, aquela droga de lugar estava levando todos os meus amigos.

Chutei uma pedrinha no meio da pouca neve e esperei por Taehyung, ele não demorou a aparecer, vinha usando um casaco azul estofado e o mesmo cachecol vermelho do Ano-Novo. Sorri ao vê-lo, sentindo a sensação quente que sempre aparecia em meu peito quando ele estava por perto, agora ela parecia vir com mais força.

— Cadê o meu irmão? — Taehyung perguntou, olhando em volta como se Namjoon fosse aparecer repentinamente de qualquer lugar.

— Jimin saiu de alta, ele vai saiu com Jihye para busca-lo no hospital, deixou a chave comigo. Vou com você até em casa, pode ser?

— Jimin saiu de alta? — Ele ignorou minha pergunta — E Namjoon foi até lá?

— É. Escuta, você...

— Me dê a chave — Taehyung pediu com rispidez, um brilho gelado em seus olhos geralmente tão gentis.

— Hum... aqui.

Entreguei a chave a Taehyung e ele a encarou por um segundo, o cenho franzido de frustração, então se virou para ir embora.

— Espera — Chamei e Taehyung se virou, uma expressão zangada no rosto — Você está bem?

— Não. Até depois.

— Mas...

— Até!

Taehyung saiu, pisava com tanta força na neve que deixava sulcos fundos no chão. O que estava acontecendo?